Mulheres com ciclo menstrual irregular têm mais problemas de pele

Pesquisa internacional com 17 mil participantes conclui que a regularidade da menstruação influencia o risco de acne, manchas e sensibilidade cutânea.

view-unshaven-woman-home-daily-life-sceneRegularidade da menstruação influencia o risco de acne, manchas e sensibilidade cutânea. (Foto: Freepik)

Muitas mulheres percebem que a pele muda ao longo do mês — e, segundo a ciência, isso faz sentido. Oscilações hormonais do ciclo menstrual afetam diretamente a saúde e a aparência da pele, segundo um estudo feito por pesquisadores da Alemanha e da França, publicado recentemente no British Journal of Dermatology. Aquelas que costumam ter com menstruação irregular apresentam maior risco de acne, manchas, melasma, rosácea, ressecamento e sensibilidade cutânea.

Os pesquisadores analisaram 17 mil mulheres de 20 países, com idades entre 18 e 55 anos. O objetivo era identificar a relação entre distúrbios de pele e as fases do ciclo menstrual, considerando ainda a regularidade ou irregularidade da menstruação.

As voluntárias responderam a um questionário digital com informações sociais e demográficas, além de dados sobre a menstruação no último ano e a regularidade do ciclo. Foi considerado regular o ciclo em que a menstruação ocorre todos os meses, aproximadamente no mesmo período. Elas também relataram seu tipo de pele e a presença ou ausência de 12 características, como oleosidade, secura, sensibilidade, palidez, manchas, rugas, olheiras e poros dilatados.

Os resultados indicam maior número diagnósticos de problemas de pele naquelas com ciclos irregulares. No caso da acne, os pesquisadores apontam que a ligação com os estrógenos, os hormônios femininos, ainda não está totalmente esclarecida, mas acredita-se que eles influenciem a produção de sebo.

Quanto às manchas, o estudo reforça a teoria já conhecida de que desequilíbrios hormonais estimulam a produção de melanina, pigmento responsável pela cor da pele, favorecendo o surgimento de melasma. Essas irregularidades também podem estar relacionadas a maior risco de rosácea.

Além dos diagnósticos clínicos, as alterações autopercebidas também foram mais frequentes naquelas que menstruavam com irregularidade. Destacaram-se a sensação de pele seca, acompanhada ou não de descamação e rachaduras, e a maior sensibilidade cutânea.

“O fato de ser um estudo global, com número expressivo de mulheres, corrobora ainda mais com os resultados. Reforça o que já observamos na prática cotidiana, que as fases do ciclo menstrual podem alterar o comportamento da pele, com maior propensão a acne, oleosidade excessiva, sensibilidade e até alterações inflamatórias, assim como possíveis desequilíbrios hormonais”, diz o ginecologista e obstetra Sérgio Podgaec, vice-presidente da área de Ensino do Einstein Hospital Israelita.

No entanto, o trabalho não analisou especificamente as mulheres com ovários policísticos. “Esse distúrbio ginecológico é extremamente comum, justamente caracterizado por ciclos menstruais irregulares e fortemente associado as alterações de pele e cabelo, como acne, oleosidade e até alopecia”, observa a ginecologista Carolina Fernandes Giacometti, também do Einstein.

Mudanças hormonais e as fases do ciclo

O ciclo menstrual corresponde ao intervalo entre o primeiro dia da menstruação e a véspera do sangramento seguinte. Em média, dura 28 dias e se divide em três fases, definidas pelas variações hormonais que ocorrem nesse período. Cada etapa é marcada pela predominância de determinados hormônios, como estrogênio e progesterona, que podem influenciar não apenas o funcionamento do organismo, mas também a saúde e a aparência da pele.

“Na fase folicular o estrogênio fica mais alto, levando a uma melhor hidratação da pele, menor oleosidade e maior produção de colágeno, além de mais luminosidade e viço”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).

Na fase ovulatória, o estrogênio continua em alta e inicia-se a produção do hormônio luteinizante (LH), responsável pela liberação do óvulo. Nesse período, a pele pode apresentar um leve aumento da oleosidade, favorecendo o surgimento de acne e manchas. Já na fase lútea, há elevação da progesterona e da testosterona, o que torna a cútis mais oleosa, sensível e reativa. É comum, então, o aparecimento de acne, rosácea, melasma e até dermatite seborreica.

Já no período menstrual, com a queda dos níveis de estrogênio e progesterona, a pele tende a ficar mais ressecada, desidratada e sensível. “As mulheres podem variar a rotina de skincare conforme o ciclo. Geralmente, as mais afetadas pela variação hormonal em cada mês sentem mais essas alterações”, aponta Pomerantzeff.

O ideal é ir a um dermatologista para saber qual rotina de cuidados funciona melhor para seu tipo de pele e sua rotina. É possível, por exemplo, incluir o uso de um hidratante mais potente para os dias com a pele mais ressecada e sensível ou um ácido quanto estiver mais oleosa. “A escolha do ácido depende do exame dermatológico e da avaliação de cada paciente”, orienta a dermatologista.

Fonte: Agência Einstein