Francisco Matturro diz que Brasil tem espaço para ampliar produção agropecuária sobre pastagens degradadas, mas esbarra em gargalos de armazenagem e logística
Head do LIDE Agronegócio destacou, nesta quarta-feira (3), em Brasília (DF), que o país combina alta produtividade, uso crescente de tecnologias sustentáveis e forte participação de pequenos produtores, mas ainda carece de infraestrutura para escoar a produção.
O head do LIDE Agronegócio e ex-secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Francisco Matturro, afirmou nesta quarta-feira (3), em Brasília (DF), que o Brasil reúne condições únicas para ampliar a produção agropecuária sobre áreas de pastagens, mas ainda convive com um déficit relevante de armazenagem e problemas de logística que limitam o avanço do setor. A declaração foi feita durante o 5º Brasília Summit, que debate a segurança jurídica no agronegócio.
Matturro relatou que a apresentação feita no evento é a mesma levada recentemente a encontros em Roma e Paris, em parceria com a Embrapa e a Rede ILPF, voltada à integração lavoura-pecuária-floresta. Segundo ele, os dados oficiais mostram que o país expandiu em cerca de 140% a área plantada em 50 anos, enquanto a produção cresceu aproximadamente 580%, resultado do aumento de produtividade e do uso de tecnologias adaptadas ao clima tropical.
Ele destacou que 77% das propriedades rurais brasileiras são classificadas como pequenas, proporção que chega a 87% em São Paulo, segundo dados do IBGE. Matturro disse que, embora a imagem internacional esteja associada a grandes fazendas e maquinário pesado, a base do agro brasileiro é formada majoritariamente por pequenos produtores, muitos deles organizados em cooperativas.
Head do LIDE Agronegócio e ex-secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Francisco Matturro. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
Na avaliação do dirigente, o país tem avançado em práticas sustentáveis. Ele citou que cerca de 55% da área já utiliza insumos biológicos e que aproximadamente 29% adotam sistemas integrados de produção, como integração lavoura-pecuária. Também mencionou a expansão do plantio direto, que já alcança em torno de 45 a 50 milhões de hectares, contribuindo para a conservação do solo e a manutenção da umidade em regiões de clima mais severo.
Matturro afirmou que o Brasil possui cerca de 159 milhões de hectares de pastagens, dos quais 58 milhões são considerados de boa qualidade e 101 milhões apresentam algum nível de degradação. Para ele, essas áreas representam o principal potencial de expansão da produção, por meio da recuperação de pastagens com uso de cereais, leguminosas e gramíneas, respeitando nascentes e áreas de preservação permanente. Disse ainda defender modelos de certificação da propriedade como um todo, e não apenas do produto, com base no cumprimento de regras de reserva legal e proteção ambiental.
Ao tratar da infraestrutura, Matturro apontou que o país tem hoje um déficit superior a 100 milhões de toneladas em capacidade de armazenagem, o que se torna um problema diante do aumento da produção. Ele mencionou a falta de armazéns em fazendas, ferrovias, hidrovias e portos, e afirmou que, sem investimentos nessa área, o risco é de perda de grãos ainda na lavoura, especialmente em estados em que o milho chega a ser estocado a céu aberto.
Matturro também mencionou o papel das cooperativas, que, segundo ele, concentram mais de 50% da produção em algumas cadeias e permitem que pequenos produtores tenham acesso a insumos, tecnologia e melhores condições de comercialização. Ao final, citou dados comparativos de uso de defensivos agrícolas e lembrou que o Brasil possui um sistema estruturado de recolhimento e reciclagem de embalagens, apresentado como exemplo em fóruns internacionais.
Segundo o head do LIDE Agronegócio, a combinação de alta produtividade, recuperação de pastagens, integração de sistemas e certificação ambiental é o caminho para responder às exigências de mercados internacionais e para sustentar o crescimento da produção sem abertura de novas fronteiras.