'Não podemos temer nem jogar contra o avanço da sociedade, mas precisamos entender que novos postos vão surgir'
A Conquer, escola de negócias a qual é co-fundador, chegou a 4,7 milhões de alunos, 110 países, mais de 990 funcionários e 1,7 mil empresas atendidas.
Hendel Favarin, Co-fundador da Conquer. (Foto: Divulgação)
Formado em Direito e trabalhando em uma grande empresa de auditoria, Hendel Favarin queria mesmo era empreender. Em 2014, ele e um sócio criaram uma startup que era um guia de restaurantes a quilo com base na geolocalização.
Diante da nova rotina e dos desafios de tocar o próprio negócio, ele se deparou com um problema e uma oportunidade: o desenvolvimento de habilidades as quais pouco se ensina, mas muito se exige no mercado de trabalho.
Assim surgiu a Conquer, escola de negócios com pós-graduações e cursos práticos que, em sete anos, chegou a 4,7 milhões de alunos, 110 países, mais de 990 funcionários e 1,7 mil empresas atendidas.
Como começou a empreender?
A Conquer nasceu da nossa insatisfação com o ensino tradicional, que deixa de ensinar habilidades essenciais para todo profissional, independentemente da área de atuação, desde um empreendedor ou um profissional de carreira. Empreendi com uma startup para restaurante por quilo em 2014.
Peguei um mês de férias e fui para a rua, das 8 horas da manhã às 10 da noite, de porta em porta. Foram dois anos empreendendo, mas percebemos que o ensino tradicional não tinha nos preparado pra enfrentar os desafios do dia a dia. Em paralelo, começamos a consumir conteúdos por conta própria, de produtividade, liderança, vendas.
E aquilo começa a mudar tanto nossos resultados que deu um clique na nossa mente. Ué, espera aí, por que ninguém nos ensinou isso antes? Ficamos cinco anos na faculdade de direito e ninguém nos ensina sobre vendas, influência, negociação. Por que ninguém nos ensina a sermos produtivos, líderes, ter inteligência emocional, resiliente, perseverante, suportar a pressão, o estresse das frustrações e dos reverses?
E a gente também pensou, pera aí isso não se limita um advogado, vale para um engenheiro, publicitário, jornalista, empreendedor ou programador.
Onde buscaram inspiração?
Consumíamos muito material de fora e fomos para um polo de inovação que ainda hoje é referência, mas na época era muito forte, que é o Vale do Silício. Lá desenvolvemos nossa metodologia, pautada em três pilares: conteúdo, professores e metodologia. Toda empresa nasce para resolver um problema, e qual era o problema do ensino tradicional? Divido em três: conteúdo muito enrolado, sem aplicabilidade; professores muito teóricos sem vivência prática; e metodologia muito quadrada. Na contramão, a gente nasceu com o conteúdo direto ao ponto, sem enrolação. O aluno aprende num dia e já sai aplicando, o que é essencial.
Vou dar um exemplo, 58% da nossa performance é atribuída a nossa inteligência emocional, capacidade de lidar com pressão, estresse e os desafios que surgem. E ninguém nos ensina, é um absurdo. É autoconhecimento, autogestão, autodisciplina. Outro exemplo é a comunicação: 90% do tempo que a gente está acordado a gente está se comunicando, seja na forma verbal ou não verbal.
E ninguém nos ensina a comunicar, a ser influente, ter uma comunicação assertiva. 60% dos problemas dentro das organizações têm como causa a comunicação. As pessoas não sabem se comunicar e a comunicação vai ser um diferencial competitivo pro resto da vida, vai afetar as relações pessoais e o destaque profissional dela.
Ainda há espaço/oportunidade para inovar na educação no Brasil?
Para onde a gente olha, a gente vê espaço e oportunidade. Nas faculdades, tem muito espaço para melhorar, é uma área em que a gente não atua. O próprio ensino fundamental, a educação básica. Mas eu sempre falo, tão importante quanto lutar é escolher quais brigas lutar, ter foco. Só no mercado de educação de adultos tem um espaço gigantesco, então nosso foco é esse. A Conquer In Company hoje representa 30% do nosso negócio. Temos 7 mil líderes da Coca-Cola em mais de 10 países, do México ao Chile, treinando em português e espanhol; da Nike, Boticário Nestlé, L’oreal... Ensinamos habilidades que o mercado reconhece que são essenciais. Eles têm bons profissionais tecnicamente, mas faltam outras habilidades para eles serem suas melhores versões.
Que conselho dá para quem quer empreender?
O primeiro conselho que eu dou para todo empreendedor é não se apaixone pela sua ideia, apaixone-se por problemas reais. E um problema real vai fazer você sair de um escritório bonito, com ar-condicionado, de um coworking, para ir a campo estudar seu cliente. Você precisa desenvolver o seu produto com o cliente e não para o cliente; e isso faz toda a diferença, né? As pessoas compram, porque você resolveu um problema. Isso é gerar valor. Boa parte das startups quebram antes de um ou dois anos porque não têm um PMF (product market fit), ou seja, não criaram um produto que resolve um problema real.
Com o mundo e o mercado de trabalho em transformação, qual a importância de se requalificar?
O mundo está muito dinâmico, mudando o tempo todo. Assim como, na era industrial, o combustível era o petróleo, na era digital, o combustível é a tecnologia. Se o mundo está mudando e as pessoas estão mudando; as empresas vão ter que mudar também. Por que as empresas estão morrendo? Porque as empresas são feitas de pessoas e as pessoas não estão se adaptando. Se essas pessoas não inovarem, é a empresa que não está inovando, e vai quebrar. O profissional, para se manter competitivo, crescer e se destacar, tem que estar continuamente aprendendo, é adaptação. O conhecimento é passaporte para o futuro. É só olhar para a inteligência artificial. Acabou de nascer e olha o tanto que já evoluiu.
A inteligência artificial veio sim para pegar o emprego de quem está na zona de conforto. Na parte técnica, o que a gente pode contar com a precisão do robô e da tecnologia, eles vão ser mais assertivos do que nós. Agora o que nos diferencia dos robôs, da tecnologia? É a nossa capacidade de sermos humanos. Se eu pudesse dar um conselho para as pessoas é: entenda tudo sobre pessoas. 100% dos seus clientes são pessoas, 100% dos seus colaboradores são pessoas. Se você não entende de pessoas, você não entende de negócios. Em um mundo de robotização, tecnologia, IA, domine sua capacidade de ser humano. Uma frase que eu gosto muito é: robôs humanoides só ameaçam humanos robotizados. A gente não pode temer nem jogar contra o avanço da sociedade, mas precisamos entender que novos postos vão surgir para quem está se qualificando e está disposto a mudar. Todo mundo gosta de mudança, mas ninguém quer mudar.