Empresas buscam avaliar impacto dos seus negócios na sociedade e no meio ambiente
Avaliação permite observar se as externalidades estão contribuindo para as premissas de sustentabilidade definidas pela organização.
Empresas estão preocupadas em medir os impactos gerados por seus negócios. (Foto: Freepik)
Nos últimos anos, as empresas estão cada vez mais preocupadas em medir os impactos gerados por seus negócios. Esses impactos são chamados, na linguagem econômica, de externalidades, que podem ser positivas ou negativas. O desafio é mensurar corretamente essas externalidades, inclusive do ponto de vista financeiro, considerando a complexidade econômica atual que envolve numerosas relações com os stakeholders.
“Nesse contexto, há necessidade de método abrangente de avaliação que considere as externalidades positivas e negativas produzidas pela organização para a sociedade e o meio ambiente. É preciso descobrir se os investimentos estão realmente trazendo externalidades positivas e reduzindo as negativas, além de apontar se esse dinheiro poderia ser aplicado de outra forma para proporcionar ainda mais impactos positivos”, diz Guilherme Esquivel, sócio de Financial Services Strategy da EY-Parthenon.
Por meio dessa avaliação, é possível concluir, portanto, se as externalidades estão contribuindo para as premissas de sustentabilidade definidas pela organização. Isso significa que esse trabalho dá materialidade aos esforços de ESG, evitando assim o greenwashing.
“Há um ganho na tomada de decisão devido a essa melhor compreensão do impacto das decisões tanto nas partes interessadas quanto na sociedade em geral”, afirma Esquivel. Chamada de Total Value Management (TVM) na EY, essa solução, que faz parte do Nature Hub, centro de negócios para criação de valor com a natureza, resulta em um mapa de impactos que evidencia como cada stakeholder é atingido pelas ações da empresa. Essa abordagem pode ser usada para uma ampla gama de desafios, razão pela qual o primeiro passo é definir aqueles que serão contemplados.
Nas instituições financeiras, por exemplo, a carteira de negócios sustentáveis costuma estar muito voltada para biocombustíveis. A externalidade positiva trabalhada está, portanto, na descarbonização da economia, o que de fato se mostra relevante em um cenário de transição energética, conforme definido pela COP28. A expectativa é que as fontes limpas ou renováveis dominem a matriz energética global em 2038, de acordo com projeção do estudo “If every energy transition is different, which course will accelerate yours?”, elaborado pela EY. A geração renovável, principalmente eólica e solar, deve responder por 38% da matriz energética até 2030 e por 62% até 2050.
Saneamento básico
“Ainda que energia seja muito importante, o exercício do TVM é encontrar outros setores que gerem igualmente externalidades positivas, justificando a atenção por parte das instituições financeiras”, explica Esquivel. Especialmente no Brasil, onde 35 milhões de pessoas vivem sem água potável em suas casas e somente pouco mais da metade da população dispõe de serviço de coleta de esgoto, o saneamento básico representa um segmento que pode gerar muitas externalidades positivas. “Entre elas está a redução do número de doenças por causa do acesso ao saneamento, o que melhora a qualidade de vida, com reflexos inclusive no índice de desenvolvimento humano”, completa.
Nas análises de TVM, ao olhar para um segmento específico como saneamento ou mobilidade, por exemplo, são levadas em consideração não somente as externalidades positivas como também as negativas. O que se pretende é avaliar se há mais benefícios do que prejuízos na realização do investimento, bem como se o potencial desse investimento pode ser maior em comparação com outro como o de biocombustíveis, considerando para isso as alavancas de ganhos sociais, econômicos e ambientais.
“O desafio para os bancos é mensurar com precisão o impacto dos seus portfólios financeiros no desenvolvimento sustentável, motivo pelo qual soluções como TVM se mostram relevantes e necessárias”, destaca Ricardo Assumpção, CSO (Chief Sustainability Officer) da EY e líder de ESG e Sustentabilidade.
Essa metodologia pode ser aplicada a empresas de outros setores econômicos. É possível, por exemplo, demonstrar como uma empresa contribui para a transição energética por meio da construção de projetos eólicos ou de geração solar distribuída, trazendo as externalidades positivas geradas para a sociedade. Ou, ainda, como uma mineradora beneficia a comunidade em que está inserida por meio de investimentos em educação e outras áreas para o desenvolvimento desses locais.