Vieses da Inteligência Artificial preocupam representantes de minorias
Durante o Fórum PwC Brasil de Inclusão & Diversidade, painelistas compartilharam receios e reforçaram importância de ressignificar padrões.
Especialistas compartilharam receios e reforçaram importância de ressignificar padrões. (Foto: Freepik)
Apesar das funcionalidades e do progresso projetados pelo uso da Inteligência Artificial, o Sócio Sponsor da Dimensão de Raça e Etnia da PwC Brasil, Eduardo Alves, abordou preocupações quanto ao assunto durante o Fórum de Inclusão & Diversidade 2024.
“Ferramentas de Inteligência Artificial são abastecidas com informações já existentes, mas essas informações estão sujeitas a preconceitos de raça, gênero e outros. Isso é um pouco assustador”, alerta Eduardo Alves.
Fundador e Editor Chefe do jornal Voz das Comunidades, Rene Silva busca ver os dois lados da IA.“Quando a gente fala disso, já estamos vendo muitas coisas ruins. Por exemplo o reconhecimento facial, há registros de inocentes presos a partir de câmeras de monitoramento da Polícia - principalmente pessoas pretas. Mas eu ainda acredito que a IA pode contribuir muito para criar soluções, inclusive para potencializar as vozes dentro das comunidades”, afirma Renê.
Dilema da regulação
Advogado especialista em tecnologia e idealizador do Marco Civil da Internet, Ronaldo Lemos comentou a questão durante o Fórum PwC de Inclusão & Diversidade 2024. Para ele, a questão da IA não é sobre a quantidade de regulação, “mas como a regulação tem que ser feita”.
“Quando se fala de informação e desinformação, a IA pode ser tanto veneno quanto remédio. No Brasil, eu acho que a regulação tem que ter três pilares: proteção contra riscos, a questão do emprego, trabalho e qualificação das pessoas, e por fim, a proteção concorrencial e da competitividade - ou seja, o fomento para que o Brasil participe do jogo com regras claras, e não fique só como espectador, tornando-se protagonista”, comenta Ronaldo.
Pertencimento e ressignificação
Também painelista no Fórum PwC de Inclusão & Diversidade 2024, a cineasta Juliana Vicente destacou a importância de sempre evidenciar o protagonismo de pessoas pretas, para normalizar o sucesso delas no imaginário de todos e quebrar estereótipos preconceituosos.
“Por que sempre que se fala de Cidade de Deus não se dá o crédito ao Paulo Lins? Só uma pessoa preta, com a vivência que ele teve, poderia escrever essa obra. Quando se vê O Poderoso Chefão, por exemplo, tem na abertura o crédito para o Mario Puzo, que escreveu o livro. Não era obrigatório, mas o (Francis Ford) Coppola teve esse cuidado de destacar o autor”, exemplifica a cineasta.
Ainda durante o Fórum, o ator e empresário Tiago Abravanel deu um depoimento complementar. “A gente viu a Tati Machado, uma menina extremamente talentosa, uma menina gorda ganhando Dança dos Famosos. Isso é muito potente. Mas quantas Tatis têm essa oportunidade? Quero que citem uma protagonista de novela gorda que vocês viram. Eu não conheço nenhuma. A gente vai falar sobre isso até quando? Até quando as estruturas forem mexidas. Até a gente contar todas as histórias, não só as histórias que o mercado quer ouvir”, afirma.
Sobre Inteligência Artificial, Juliana compartilha das preocupações do sócio da PwC Brasil Eduardo Alves. “Tem um lugar que me preocupa porque há pouco tempo que conseguimos começar a contar narrativas autenticamente nossas (de pessoas pretas). É preocupante pensar que a IA pode estar vindo a partir de padrões e estruturas padronizadas”, opina.