Ser multitarefa impacta, ano a ano, na capacidade de reter informações importantes
Para dar conta de um estilo de vida multitasking, o cérebro libera cortisol, hormônio que regula o humor, a motivação e as lembranças de perigo e medo.
Thiago Cesar Silva, diretor de marketing na divisão Consumer Electronics da Samsung Brasil. (Foto: Divulgação)
Dar conta de várias coisas ao mesmo tempo no trabalho: quem nunca? Ser alguém hands on tem sido uma das virtudes mais estampadas em anúncios de vagas à medida que a demanda por profissionais dotados de tal capacidade se tornou quase obrigatória em qualquer processo seletivo. Entretanto, você já parou para pensar (eu não tenho nenhuma dúvida que sim) se essa abordagem realmente está fomentando a produtividade ou, pelo contrário, está se tornando um obstáculo? Será que todo o empenho se traduz em alto desempenho?
Embora a polivalência seja valiosa em muitos contextos, estudos provenientes da neurociência comprovam que o indivíduo multitarefa, mesmo em alta, tende a ver a sua capacidade de reter informações importantes diminuir drasticamente ano após ano. Em tempo, bem aí, na palma da sua mão, você vai encontrar um smartphone prontinho para te bombardear com diferentes mensagens ao mesmo tempo, enquanto você tenta humildemente pagar a conta de luz no aplicativo do banco ou escolher a playlist perfeita para o momento não tão perfeito assim. A palavra da neurociência diz, caro irmão, que, a cada interrupção, o cérebro leva em torno de 10 a 15 minutos para recuperar alguma eficiência cognitiva.
Para dar conta de um estilo de vida multitasking, o cérebro libera cortisol, hormônio que regula o humor, a motivação e as lembranças de perigo e medo. Este hormônio, popularmente conhecido como hormônio do estresse, desempenha diversos papéis importantes. No entanto, se liberado em frequência, ele é capaz de diminuir a serotonina, um neurotransmissor conhecido como mensageiro do bem-estar. O mais intrigante dessa história de ser multitarefa é que o cortisol age em uma área do cérebro que ajuda no julgamento e no bom-senso. Ou seja, quando presente na corrente sanguínea, ficamos menos capazes de modular a emoção – algo totalmente nocivo ao processo criativo e de inovação. Seu grande “antídoto” é a dopamina, outro neurotransmissor gente boníssima e que está associado à recompensa e ao prazer. Para invoca-lo, basta manter uma vida emocionalmente saudável, com exercícios físicos, foco absoluto, meditação e claro, uma boa noite de sono – você tem um minuto para a palavra do worklife balance?
Com isso em mente, é mais fácil adivinhar a resposta: equilíbrio. A palavra da neurociência tem expulsado os demônios do multitasking, que pressiona a sermos ágeis e darmos conta de tudo ao mesmo tempo. Em outras palavras, as empresas estão incentivando seus talentos a não pensarem ou a inovarem muito pouco, ao passo que o nosso lobo frontal está paralisado pelo cortisol e estresse. Em tempos que a inteligência artificial, um dos grandes temas da atualidade, parece exercer um fascínio na sociedade, precisamos aceitar: ela nunca será uma solução realmente criativa, uma vez que enfatiza a eficiência a qualquer custo. Sem pretensão de ser um multitasker positivamente tóxico, nos cabe ao menos reconhecer que nossa capacidade de criar com originalidade é uma habilidade única. Não tem coisa mais humana que inovação, criatividade e uma boa noite de sono regada a muita dopamina.
Que a neurociência, a dopamina e a serotonina nos abençoe, meu irmão! Bom worklife balance para todos nós.