Artigo: por que é difícil inovar em grandes empresas?
Um estudo de caso americano com dados brasileiros.
Viviane Sedola, Co-fundadora da plataforma de crowdfunding Kickante. (Foto: Divulgação)
Segundo a edição 2022 do Índice Global de Inovação, o levantamento anual feito pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) em parceria com o Instituto Portulans e com apoio de entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil ocupa o 54º lugar no ranking de inovação. A posição é bem distante do topo, visto que o IGI abrange 132 economias.
A melhor posição atingida pelo Brasil nesse ranking foi em 2011, quando subiu para o 47º lugar. Ou seja, podemos perceber que mesmo com tanto avanço em diversas áreas nos últimos tempos, o nosso país continua longe de uma posição ideal quando se trata de questões relacionadas à inovação. E isso acontece por alguns motivos, o maior deles é a queda dos investimentos na área a cada ano.
A minha agência de inovação digital, Alfredus.co, atua com inovação digital para grandes empresas nos Estados Unidos, e foi nomeada uma das melhores agências de inovação digital no país pela Entrepreneurs Magazine. Posso afirmar que apesar de grandes empresas possuírem recursos para investir em inovação e time de ponta, engana-se quem pensa que não possuem dificuldades para inovar.
Se compararmos uma grande empresa com uma startup, esta última tem mais facilidade para contribuir com ideias inovadoras, pois não dependem do status quo para sobreviver. Au contraire. Precisam quebrar o status quo para sobreviver. Sim, a curto prazo os grandes negócios têm muito mais a perder ao tentar inovar, do que ganhar, e com isso, naturalmente esbarram em um outro grande desafio quando o assunto é inovar: os acionistas internos e externos.
Por essa razão, quando falamos de investir em inovação na prática, o número é abaixo do esperado. Dados do mapeamento da Fundação Dom Cabral (FDC) apontam que o investimento em inovação ainda é para poucas empresas no Brasil. Foram analisados perfil Corporate Venture Capital (CVC), cuja premissa é investir em inovação no longo prazo, e essa prática é destinada a um número seleto de empresas que atuam no país.
Para efetuar investimentos concretos de inovação é necessário recursos, planejamento, comprometimento da alta gestão e disponibilidade para assumir riscos. E vivendo em um mercado competitivo, cada vez mais investir em inovação tem se tornado essencial para alinhar a empresa com as demandas atuais e não perder mercado. Não inovar pode trazer prejuízos a médio e longo prazo, além de passar a imagem de falta de capacidade para se reinventar e manter-se atraente (algo que os próprios acionistas irão reclamar logo mais). Não é uma equação perfeita, e por isso requer pensamento empático com visão crítica do mercado.
O estudo Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento: desafios para o Brasil, produzido pela Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI), aponta que o Brasil está se consolidando como um produtor de commodities e ficando de fora da economia moderna, justamente por não investir em inovação. Isso precisa mudar. Alocar um percentual do lucro para inovação e confiar no processo de testes, erros e acertos característicos da inovação empreendedora, confiando no resultado a médio prazo, gera um ativo futuro engrandecedor. Esse planejamento estratégico digital a longo prazo, característico dos meus clientes nos Estados Unidos, separa os vencedores dos perdedores.
Não é fácil que grandes empresas desenvolvam a capacidade de adaptação sistemática. Caso este seja o seu caso, recriar a estrutura de uma startup em um núcleo interno ou até mesmo colaborar com times empreendedores ou M&As são soluções cabíveis. É importante ter em mente que uma grande empresa ficará maior com inovação digital se certas partes permanecerem pequenas (e independentes) o suficiente para inovar.
*Candice Pascoal é criadora e apresentadora da plataforma de ensino Você.Expert. Com experiência internacional na expansão de empresas norte-americanas, e CEO da agência americana Alfredus Prosperitas (nomeada pela Entrepreneurs Magazine como uma das 10 melhores agências de Inovação e Marketing Digital dos EUA), Candice tem sido responsável pelo crescimento exponencial de empresas que lidera em Nova Iorque. A executiva conquistou importantes prêmios de UX (Inovação Latam), Impacto Social (Cartier Awards) e Comunicação Inovadora (Proxxima) por sua atuação como CEO e fundadora da Kickante, principal e mais completo marketing para financiamento de projetos e arrecadação de doações financeiras. Em 2017, foi nomeada uma das 20 figuras internacionais que mudarão a forma como vivemos e fazemos negócios nos próximos 20 anos. Autora best-seller (Seu Sonho tem Futuro, Ed. Gente), premiada internacionalmente pelo seu impacto na realização dos mais variados projetos no Brasil, Candice Pascoal especializou-se no segmento de inovação tecnológica e esteve à frente de importantes projetos no Brasil, na Europa, na Ásia e nas Américas.