Agenda prática de diversidade e seus desafios
A diversidade entrou na agenda das organizações, mas nem todo mundo consegue cumprir todos os compromissos.
Viviane Mansi, executiva da Diageo e professora em pós-graduação e MBAs. (Foto: Divulgação)
A diversidade entrou na agenda das organizações (pelo menos das mais comprometidas) e isso é fato.
Mas é fato também que todo mundo cria uma agenda, mas nem todo mundo consegue cumprir todos os compromissos que estão nela. Os primeiros do dia estão mais garantidos. À medida que vão surgindo desafios, urgências, imprevistos, alguns dos nossos compromissos – em qualquer agenda –ficam pelo caminho e precisam ser reagendados.
A comparação com diversidade é real quando pensamos em compromissos de diversidade. Começamos por temas mais óbvios, como ter uma meta de contratação de pessoas e, dado que o número é objetivo e fácil de ser medido, muitas organizações avançam aí. Mas há outros compromissos possíveis e necessários. O que fazemos, além de contratar pessoas que representam diversos grupos ainda não representados adequadamente?
São muitas as ações que podem contribuir para avançar mais rápido, como:
- Letramento dos colegas, que precisam acolher quem chega e tem histórias, vivências e necessidades diferentes.
- Integrar o tema na cadeia de fornecedores. Pra fazer a roda girar mais rápido, estabelecer políticas e compromissos de contratação de grupos minorizados também ajuda.
- Revisar políticas de comunicação e marketing, para que tenham linguagem acolhedora, além de o compromisso de ter em suas peças e campanhas a representatividade que queremos. Sim, representatividade importa. Programas sociais ajudam? Num país continental sempre vai ajudar.
São poucos exemplos. Muito mais pode ser feito. Nós pagamos um preço alto por reagendar essa agenda. O Brasil tem perpetuado pobreza, e diferentes estudos dão conta de que a velocidade do nosso passo não é suficiente para mudar o curso da história.
Conto um pouco da nossa ação aqui na Diageo, uma empresa de bebidas premium que tem entre suas marcas Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray, Ypióca e Don Julio. Há metas, há grupos de afinidade, há políticas para fornecedores, há programas sociais, mas há, especialmente, uma discussão viva e uma auto-observação sobre como podemos melhorar e como fazer isso mais rápido.
Faz diferença quando a ação não é um ato isolado. Além das ações internas, que envolvem diversos grupos como mulheres, comunidade LGBTQIAPN+, negros, mulheres apenadas, etc, nós ganhamos, por exemplo, o Grand Prix de Cannes, neste ano de 2024, justamente por conta de uma campanha de de Johnnie Walker, Errata 88, que fazia uma reparação histó ;rica com Alaíde Costa por ela não ter sido chamada para uma apresentação no Carnegie Hall, nos Estados Unidos, quando a Bossa Nova estourou. Nas palavras dela mesma, “o lugar de uma negra era visto como o samba” e isso tirou de todos nós a potência dessa voz. Que bom que pudemos, de alguma forma, reparar. Mas, se considerarmos todas as necessidades da nossa gente, no Brasil, é pouco.
Outro exemplo que vale ser citado é como a nossa agenda de ESG promove a inclusão e capacitação de pessoas em situação de vulnerabilidade. No programa Learning for Life, oferecemos a capacitação de bartender. Hoje, 47% dos alunos formados são mulheres, em uma indústria majoritariamente masculina, colocamos o desenvolvimento do nosso setor como uma prioridade de negócio. Imagina se cada empresa, no seu mercado de atuação, colocar a diversidade nas suas agendas de impacto positivo?
Precisamos de mais empresas que tomam esse desafio pra si.
Precisamos aprender uns com os outros e acelerar nossas respostas.
Precisamos, sobretudo, fazer com que a diversidade esteja entre os primeiros compromissos da nossa agenda, pois não dá mais para reagendar o tema.