Marcos Aoki, diretor-comercial da Bridgestone 'O Brasil é um mercado estratégico para a Bridgestone globalmente”
Executivo fala sobre o potencial da operação no Brasil e o foco na sustentabilidade e novas tecnologias.
Marcos Aoki, diretor-comercial da Bridgestone no Brasil. (Foto: Divulgação)
Mesmo em um cenário de desafios econômicos, como a alta taxa de juros, pressão inflacionária e mudanças nos hábitos de consumo, a Bridgestone tem investido cerca de R$1 bilhão desde 2021 em sua planta de Camaçari (BA), onde são produzidos seus pneus para veículos de passeio, incrementando a capacidade de produção em até 1,5 milhão de pneus adicionais por ano.
“Também seguimos investindo na unidade de Santo André, com R$ 350 milhões no último ano, agora 100% dedicada ao segmento de pneus comerciais. Com uma rede de mais de 800 pontos de venda, buscamos estar cada vez mais próximos dos nossos clientes, oferecendo soluções completas — do equipamento original, passando pela recapagem (no caso dos pneus de carga), até o descarte ambientalmente correto”, detalha Marcos Aoki, diretor-comercial da Bridgestone no Brasil.
De acordo com o executivo, trata-se de um constante exercício de melhoria contínua, capacitação da rede de revendedores e investimento em portfólio e tecnologia para oferecer produtos de alta qualidade, alinhados à demanda do consumidor. A Bridgestone do Brasil (BSBR) é uma unidade de negócios da região Latin America South e subsidiária da Bridgestone Americas Tire Operations Latin America, com sede em Nashville, Tennessee. Fundada há mais de 90 anos, a Bridgestone é líder global e mobilidade sustentada em pneus e borracha, aprimorando e desenvolvendo constantemente os seus conhecimentos para fornecer soluções para uma mobilidade segura e sustentável.
A unidade brasileira conta com mais de 5.000 colaboradores e desenvolve, produz e comercializa um portfólio diverso de equipamento original e pneus de reposição, soluções centradas nos pneus e soluções de mobilidade, que geram valor social e para o cliente, por meio de suas unidades de produção e vendas no país. Guiada pelo E8 Commitment e seus valores, a Bridgestone está dedicada a melhorar a mobilidade, a vida, o trabalho e o lazer das pessoas, contribuindo para um mundo mais sustentável para as futuras gerações. Nesta entrevista, Marcos Aoki fala sobre o potencial da operação no Brasil e o foco na sustentabilidade e novas tecnologias.
A indústria automotiva global atravessa uma transição tecnológica com foco em eletrificação, conectividade e sustentabilidade. Como a Bridgestone Firestone está se posicionando nesse novo ecossistema automotivo e quais inovações você destacaria que já estão sendo desenvolvidas ou testadas no Brasil?
A Bridgestone coloca a sustentabilidade e a inovação no centro da sua estratégia global. Nosso portfólio já inclui pneus que equipam veículos elétricos, que exigem algumas características específicas, como compostos diferenciados e tecnologias que aumentem a autonomia dos veículos, tanto no equipamento original quanto no mercado de reposição. No Brasil, temos uma longa agenda de sustentabilidade em nossas plantas, incluindo envio zero de resíduos a aterros, reutilização de água e, mais recentemente, a instalação de caldeiras elétricas e a expansão de uma usina solar na Bahia, por exemplo. Além disso, os recentes investimentos contribuíram não só para avanços em tecnologia e processos automatizados, como também para a utilização de compostos avançados na produção de pneus, preparando-nos para essa nova geração de mobilidade. Globalmente, vale destacar iniciativas em desenvolvimento e testes, como as tecnologias de pneus sem ar (Air Free Concept), pneus com 75% de materiais recicláveis e renováveis, e até pneus projetados para uma missão lunar. O Brasil tem papel estratégico nesse processo de transformação e abriga o centro técnico de desenvolvimento de produtos para a América do Sul, que inclui um campo de testes no interior de São Paulo.
Modelos como "tires-as-a-service" e soluções integradas de mobilidade têm ganhado espaço nos mercados mais maduros. O Brasil está pronto para isso? A Bridgestone Firestone já estuda ou implementa novos modelos de negócio nesse sentido?
Acreditamos que o Brasil está em processo de amadurecimento para adotar modelos como “tires-as-a-service” e outras soluções integradas de mobilidade. Por isso, já investimos há algum tempo no desenvolvimento e adaptação dessas soluções. Atuamos com ferramentas digitais voltadas à gestão de frotas, que oferecem mais segurança e reduzem custos operacionais. Também estamos expandindo os serviços de atendimento e desenvolvendo modelos de negócio que integrem produtos, dados e serviços, preparando o caminho para modelos mais amplos de mobilidade.
Quais os avanços da empresa no campo da digitalização industrial e da Indústria 4.0? Há cases concretos em fábricas brasileiras da Bridgestone Firestone com uso de IA, IoT ou análise preditiva que tenham trazido ganhos relevantes?
Nossas plantas no Brasil, especialmente Camaçari e Santo André, vêm passando por um processo robusto de transformação digital. Temos aplicado automação avançada, uso de robôs para transporte interno e sistemas de análise que aumentam a eficiência produtiva e reduzem desperdícios. A utilização de IoT nos permite monitorar em tempo real diversos processos fabris, garantindo maior qualidade, produtividade e segurança. Essa evolução está diretamente conectada ao valor “Eficiência” do Compromisso E8 da Bridgestone e à visão da companhia de se tornar uma líder em soluções sustentáveis.
Em um setor tradicionalmente intensivo em recursos naturais e energia, como a Bridgestone Firestone tem incorporado práticas de ESG e economia circular na produção local? Há metas públicas ou compromissos assumidos que possa compartilhar?
A sustentabilidade está no centro da nossa operação. No Brasil, todas as nossas plantas já operam com zero envio de resíduos para aterros e contamos com estações de tratamento de efluentes e uso de água de reuso. Em parceria com a Reciclanip, garantimos a destinação correta de 100% dos pneus inservíveis que produzimos. Também temos metas claras: zerar as emissões de CO2 até 2050 e produzir pneus com 100% de materiais recicláveis ou renováveis. A recapagem da Bandag é um exemplo concreto de economia circular — recapamos o dobro de pneus que produzimos, prolongando o ciclo de vida do produto e reduzindo o uso de recursos naturais. Ainda há uma longa jornada pela frente, por isso seguimos investindo em melhoria contínua e novas tecnologias.
Quais são as expectativas da companhia para os próximos anos no Brasil e América do Sul? Há planos de investimento, expansão de capacidade ou lançamento de novas linhas voltadas a nichos específicos como veículos elétricos, agronegócio ou transporte pesado?
Nosso compromisso com o Brasil e com a América do Sul é de longo prazo, e estamos atentos às transformações da mobilidade e à crescente demanda por soluções específicas. O Brasil é um mercado estratégico para a Bridgestone globalmente, tanto pela nossa capacidade produtiva quanto pelo grande potencial de crescimento. Temos quatro plantas de produção no país, uma rede de mais de 800 pontos de venda, um campo de testes que integra nossa estrutura de desenvolvimento de produtos e muito mais. Realizamos investimentos significativos nos últimos anos, tanto na modernização e expansão da capacidade produtiva quanto na inovação e renovação de portfólio, com diversos lançamentos e muitos outros já programados. Por outro lado, enfrentamos desafios relevantes para a estratégia do negócio, seja por oscilações na economia ou pela entrada massiva de pneus importados, principalmente da Ásia, com preços muito abaixo dos praticados localmente, sobretudo por questões tarifárias. Apesar disso, seguimos trabalhando fortemente para liderar o setor, com foco em inovação, sustentabilidade e, principalmente, no atendimento às necessidades dos nossos clientes.