Financiamento de novos projetos deve levar em conta políticas ESG

Instrumentos de financiamentos baseados no ESG aceleram investimentos e criam ambiente favorável para diversos segmentos

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Instrumentos de financiamentos baseados no ESG aceleram investimentos e criam ambiente favorável para diversos segmentos (Foto: Divulgação)

O financiamento de novos projetos está na mira da principal instituição de fomento do país, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). O presidente, Aloizo Mercadante, prevê, somente para este ano, financiar R$ 50 bilhões- valor que representa o dobro do ano passado. Segundo ele, houve um aumento na procura pelo banco: “tivemos crescimento de 207% em novos projetos que deram ingresso no BNDES”.

O presidente da instituição lembra, ainda, que o BNDES precisa de novos instrumentos de financiamento para atender às políticas públicas em elaboração, como o novo Programa de Aceleração do Crescimento, a nova política industrial e o Pacote de Transição Ecológica, também chamado de Pacote Verde.

Oportunidade

Para Carlos Leiria Pinto, gerente-geral da International Finance Corporation (IFC)- maior instituição global de desenvolvimento voltada para o setor privado em mercados emergentes no Brasil -, este é um momento ímpar no processo de concessão de crédito, considerando que a reforma tributária é extremamente importante para a agenda de produtividade nos médio e longo prazos. “Acredito que a proposta seja positiva e que colocará o Brasil como um país de atração de investimentos privados. As melhorias regulatórias serão essenciais para atrair capital em setores chaves da economia brasileira, como o de resíduos sólidos, por exemplo”, analisa.

O executivo, no entanto, destaca que para impulsionar essa retomada de investimentos no país, é preciso que haja efetivamente um ambiente regulatório favorável para a tomada de risco por parte das empresas, bem como um clima favorável à inovação. “E isso geralmente depende de como os governos tomam para si a tarefa de atrair o setor privado. Para viabilizar oportunidades de desenvolvimento e investimento, é preciso ter um ambiente propício e adequado e apoio público”, garante.

Mãos na massa

A Votorantim Cimentos é a primeira cimenteira brasileira a firmar com a IFC um contrato conectado a indicadores de sustentabilidade. O investimento de US$ 150 milhões, anunciado no final de julho, será destinado a fábrica de Salto de Pirapora (SP) e visa aumentar o nível de substituição térmica e reduzir as emissões de CO2. A previsão é que o projeto seja concluído até 2028.

A parceria prevê a redução do custo financeiro para a empresa em caso de atingimento da meta de redução de CO2 acordada pela Votorantim com a Science Based Targets initiative (SBTi). Para isso, a IFC dará suporte técnico em outros projetos que fazem parte da jornada de descarbonização da Votorantim Cimentos.

“Esse projeto está alinhado aos Compromissos de Sustentabilidade 2030 da Votorantim Cimentos, por isso, é uma satisfação estabelecer uma parceria para iniciativas que compõem essa agenda”, diz Álvaro Lorenz, diretor global de Sustentabilidade da Votorantim Cimentos.

Mais energia

A Neoenergia também assinou um acordo com a IFC para o financiamento com prazo de oito anos de um Super Green Loan, no valor de R$ 800 milhões, para melhorias, expansão e digitalização da rede da Neoenergia Elektro. A distribuidora atende 2,9 milhões de clientes em 228 municípios em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Nessa modalidade, o empréstimo se distingue por estar atrelado a metas ESG. Por essa razão, o acordo prevê o aumento do percentual da mão de obra de eletricistas mulheres e a expansão da digitalização em todas as concessionárias da companhia.

Os objetivos ESG acordados serão apurados em 2027 e, caso atendidos, reduzirão o custo contratado da dívida. “O financiamento será importante para melhorarmos ainda mais a qualidade e a eficiência dos nossos serviços de rede, além de permitir a expansão do desenvolvimento de soluções inteligentes e de promover a equidade de gênero”, afirma Eduardo Capelastegui, CEO da Neoenergia.

Expansão

Já a União Química, farmacêutica multinacional brasileira, com 86 anos do mercado, assinou aporte de empréstimo com IFC no valor de R$ 330 milhões (equivalente a US$ 65 milhões), montante destinado à expansão das fábricas, novos negócios e projetos de governança coorporativa.

“As possibilidades que se abrem ao nos unirmos com a IFC e recebermos tal aporte vão além da expansão dos negócios. São ações que impactam na saúde nacional e das regiões em que estamos inseridos, na geração de empregos, zelo com o meio ambiente e nos colocam um patamar à frente na nossa evolução”, afirma Fernando Marques, presidente da União Química.

A empresa busca a evolução no mercado de vacinas, com olhar para parcerias de desenvolvimento e produção local para abastecimento nacional e da América Latina. A companhia já iniciou tratativas com desenvolvedoras internacionais de imunizantes.  “Uma das prioridades estratégicas da IFC no Brasil é aumentar o acesso a vacinas e medicamentos para promover saúde e qualidade de vida para a população. O investimento impulsionará a maior competitividade no setor, e fortalecerá a resiliência do sistema de saúde brasileiro”, afirma Carlos Leiria Pinto, Gerente Geral da IFC no Brasil.

Ponto de vista

Carlos Leiria Pinto, gerente-geral da IFC no Brasil

No ano passado, a ordem dos investimentos realizados no Brasil pela International Finance Corporation (IFC) foi em torno de R$ 22 bilhões, qual a expectativa para este ano e para 2024?

Após nossa ordem de investimentos de R$ 22 bilhões no ano passado, o Brasil atingiu a posição de segunda maior carteira de investimentos da IFC no mundo. Os números do ano fiscal de 2023 (de 1º de julho de 2022 a 30 de junho de 2023) demonstram crescimento da carteira no Brasil. Além disso, nossa perspectiva é de continuar aumentando nosso volume de programas e investimentos nos próximos anos, pois o Brasil é um país estratégico para a IFC. Buscamos, constantemente, aumentar nossa presença para ajudar o país a ter uma recuperação econômica e um desenvolvimento verde, resiliente e inclusivo, com o apoio do setor privado. Adicionalmente, vemos o Brasil como um importante laboratório para testar soluções inovadoras para explorar novos mercados.

Qual a importância dos fundos internacionais, além da própria IFC, na composição de crédito para o investimento das empresas em setores como infraestrutura, por exemplo?

O Brasil já conta com um arcabouço institucional, por exemplo, no setor elétrico e das concessões, que é muito favorável. Agora temos também as mudanças com a lei do saneamento que vão atrair investimento para o segmento. Os fundos e investidores internacionais exigem esse grau de maturidade nas questões de governança corporativa, integridade e compromisso com padrões socioambientais. Na nossa visão, a participação deles ajuda a aumentar a qualidade dos projetos futuros e a disponibilidade de capital para financiá-los.

Investimentos que impactam positivamente a questão climática são vistos como prioridade neste momento?

Absolutamente. No ano fiscal de 2022 (de 1º de julho de 2021 a 30 de junho de 2022), 62% dos financiamentos de longo prazo realizados com recursos próprios da IFC tiveram um componente climático, ou seja, envolveram soluções para apoiar a mitigação das mudanças climáticas. Além disso, todos os investimentos da IFC requerem que os clientes apliquem e cumpram nossos Padrões de Desempenho Social e Ambiental para gerenciar riscos e impactos socioambientais e melhorar a governança, a fim de promover maior sustentabilidade econômico-financeira dos próprios clientes, dos setores em que atuam e, ao final do país.

Nos últimos anos, a IFC tem observado que os investimentos via títulos temáticos – verdes, sociais, azuis e vinculados à sustentabilidade – são agentes essenciais para promover a mitigação das questões climáticas. A IFC tem incentivado seus clientes a acessarem o mercado de capitais doméstico, adicionando com sucesso novas fontes de financiamento de longo prazo e comprometidas com a sustentabilidade por meio da emissão de debêntures.