"Queremos consolidar o México como um hub de produção e inovação na América Latina"

Primeira CEO mulher da Braskem Idesa, Isabel Figueiredo projeta expansão e integração estratégica com mercados globais.

IsabelFigueiredo_BRK IdesaIsabel Figueiredo, CEO da Braskem Idesa. (Foto: Divulgação)

A trajetória de Isabel Figueiredo representa um raro equilíbrio entre experiência operacional profunda e visão estratégica de longo prazo. Desde dezembro de 2024, ela ocupa o cargo de CEO da Braskem Idesa, joint venture entre a brasileira Braskem e a mexicana Grupo Idesa, responsável por uma das maiores operações petroquímicas do México. À frente da companhia, Isabel conduz um momento decisivo, marcado por mudanças regulatórias, novas demandas ambientais e oportunidades de crescimento sustentável no setor petroquímico da América Latina.

Juntas, Braskem e Grupo Idesa desenvolveram um complexo petroquímico focado na operação e produção de etileno e polietilenos de alta e baixa densidade no município de Nanchital, Veracruz, no México. O projeto, que entrou em operação em abril de 2016, exigiu um investimento fixo de 5,2 bilhões de dólares e produz um milhão e cinquenta mil toneladas por ano de etileno e polietilenos.

“A prioridade da Braskem Idesa tem sido avançar no desenvolvimento do projeto do terminal de importação de matéria-prima, com o objetivo de aumentar nossa taxa de operação e fortalecer a capacidade de fornecimento ao mercado interno mexicano, que é composto por 75% a 80% de importações, oferecendo um cenário muito atraente para a indústria local de plásticos”, pontua a executiva.

Carreira forjada na indústria pesada

Isabel iniciou sua carreira em 1984 na Alcoa Alumínio, onde passou por áreas como finanças, comércio exterior e suprimentos, adquirindo uma visão ampla da cadeia produtiva. Em 1998, foi nomeada diretora de suprimentos e logística da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em um dos períodos de maior competitividade e transformação do setor siderúrgico brasileiro. Quatro anos depois, ingressou na Braskem com o mesmo escopo, mas logo começou a expandir sua atuação.

A partir de 2008, Isabel liderou a área Comercial e de Desenvolvimento de Mercado de Químicos, e em 2019 assumiu a vice-presidência do Negócio de Vinílicos e Especialidades. Sob sua liderança, a Braskem expandiu sua atuação em produtos de maior valor agregado e fortaleceu seu posicionamento em setores como construção civil, saúde e saneamento.

Consolidação

A chegada à presidência da Braskem Idesa ocorreu em um contexto desafiador. A unidade industrial localizada em Coatzacoalcos, no estado de Veracruz, é estratégica para o suprimento de polietileno ao mercado mexicano e latino-americano. Com Isabel no comando, a companhia busca consolidar sua presença regional, manter estabilidade nas operações e avançar em projetos sustentáveis — incluindo iniciativas de economia circular e transição energética.
Isabel tem pela frente o desafio de manter a rentabilidade do negócio em um cenário global volátil e de liderar a transição da petroquímica para uma matriz mais limpa. A companhia já sinalizou planos de investir em captura de carbono, uso de matérias-primas renováveis e ampliação da reciclagem química no México.

“Os últimos anos têm sido muito desafiadores para a indústria petroquímica em todo o mundo. A Braskem Idesa é uma companhia altamente competitiva, beneficiando-se da sua produção baseada em gás e da localização no Golfo do México, o que permite acesso às rotas logísticas na América do Norte, no centro do México e na América Central, assim como de custos de energia altamente competitivos derivados do boom do gás de xisto nos Estados Unidos. Além disso, o México possui acordos de livre comércio com mais de 50 países no mundo inteiro”, diz Isabel.

Como líder e pioneira, como você enxerga o papel das mulheres na transformação da cultura organizacional de grandes indústrias? Que tipo de ambiente você pretende construir como CEO para promover mais inclusão, diversidade e inovação?

Fui a primeira mulher diretora da Braskem e agora sou primeira mulher a liderar uma de suas operações, além de ser voz ativa na promoção da diversidade de gênero na indústria. A presença feminina em cargos de liderança na Braskem cresceu de 23% em 2015 para 34% em 2024, com a meta de atingir 40% até 2030, e é este o ambiente que darei continuidade.

É preciso considerar ainda que a indústria deste segmento tem alta demanda por cargos extremamente técnicos e baixa taxa de rotatividade do quadro de pessoal, o que torna o avanço de 10% extremamente relevante e fruto de ações de intencionalidade para equidade de gênero e valorização das competências femininas.

Você fez história ao se tornar a primeira mulher diretora da Braskem e agora a primeira mulher a liderar a operação no México. Como foi essa trajetória até aqui, e o que significa para você assumir essa posição em um setor historicamente masculino e técnico?

Em dezembro de 2024, recebi um convite para me tornar a nova CEO da Braskem Idesa. Fiquei muito entusiasmada com este desafio, que para mim significa liderar uma operação em uma região altamente competitiva, onde os produtores norte-americanos aumentaram suas capacidades nos últimos anos, e a Braskem conseguiu se posicionar como líder em polipropileno nos Estados Unidos e a Braskem Idesa na liderança em polietileno no México.

Minha carreira começou longe do setor petroquímico, mas trilhei um caminho de aprendizado contínuo, mudanças inesperadas e desafios superados com resiliência. Acumulei passagens por empresas como a Alcoa e a CSN, que foram importantes profissionalmente, até ingressar na Braskem, em 2002.

A Braskem Idesa tem um papel-chave na estratégia da companhia na América do Norte. Quais são suas prioridades como CEO na operação mexicana e quais os planos de crescimento e consolidação no país para os próximos anos?

Nossos pilares estão focados em aumentar a estabilidade de nossa operação, garantindo confiabilidade e competitividade no fornecimento de matérias-primas, sendo que o início das operações do terminal no 2º trimestre de 2025 desempenhará um papel crucial. Além disso, realizaremos a primeira grande parada de manutenção do nosso cracker de etano no 3º trimestre, após o início de nossas operações em 2016, e faremos isso com total foco na segurança operacional.

Por fim, uma prioridade transversal para as equipes será o atendimento ao cliente. Estamos nos preparando não apenas para operar nossas plantas de PE em plena capacidade, mas também para entregar nossos produtos com qualidade e confiabilidade logística aos nossos clientes.

A companhia vem investindo na infraestrutura logística e industrial do México, como o projeto do terminal de importação de etano. Quais os próximos passos em termos de investimento e que impacto esses projetos devem ter no aumento da competitividade local?

O terminal de importação de matéria-prima será uma conquista muito importante para a Braskem Idesa, permitindo-nos fortalecer a nossa presença no mercado de resinas plásticas, tanto regional quanto localmente. É uma iniciativa para a qual o nosso parceiro Advario contribuiu com toda a sua experiência na operação deste tipo de terminais e criamos uma sinergia muito valiosa com o Governo do México, que busca gerar maior crescimento na região sudeste do país por meio da política de polo de desenvolvimento denominada "Corredor Interoceânico".

O terminal de importação nesta parceria com a Advario, da qual fiz parte do Conselho de Administração anteriormente, me permitiu conhecer profundamente o mercado mexicano e o potencial de proximidade com mercados como os Estados Unidos, América Central e o enorme interesse que existe nas políticas do governo mexicano para recuperar a produção da cadeia petroquímica.

O ano de 2024 foi marcado por eleições no México e nos Estados Unidos. A Braskem Idesa colabora com a Associação Nacional da Indústria Química (ANIQ) buscando contribuir com nossa visão para as políticas públicas do governo mexicano, visto que enxergamos grandes oportunidades que podem ser aproveitadas a partir das sinergias entre o governo, a estatal Petróleos Mexicanos (PEMEX) e o setor privado.

Além disso, após a nossa parada de manutenção no 3º trimestre deste ano, vemos a possibilidade de um projeto de DBN no cracker, visando aumentar a capacidade produtiva de 10% a 12%.

A indústria petroquímica passa por uma grande transformação, com demandas por produtos mais sustentáveis e processos mais eficientes. Como a Braskem Idesa tem trabalhado em inovação de produto e tecnologia para se adaptar a essa nova era?

A indústria petroquímica mundial tem enfrentado um ambiente altamente volátil e um ciclo de baixa muito prolongado, intensificado por um cenário geopolítico tenso. O ano de 2023 foi extremamente complexo, devido à incerteza nas cadeias de suprimento, ao aumento da produção com o início de novas plantas e ao menor crescimento da demanda, especialmente na China.

Em 2024, vimos alguma recuperação nas margens, o que permitiu à Braskem Idesa encerrar com um 3º e 4º trimestres sólidos, destacando-se dos produtores base nafta, que são menos competitivos em comparação com os produtores base gás.

Localmente, por meio da ANIQ, mantivemos um diálogo muito produtivo com o governo, buscando sinergias com outras indústrias em prioridades como o aumento do conteúdo nacional, maior competitividade e estabilidade da rede elétrica nacional, aumento da disponibilidade de energia renovável e matérias-primas, além da criação de legislação que promova maiores taxas de coleta de resíduos plásticos para reciclagem.

Paralelamente, avançamos em nossas iniciativas de sustentabilidade na indústria com resinas recicladas pós-consumo (PCR), que nos permitem continuar mitigando a poluição plástica. Também temos progredido na certificação da FDA (Food and Drug Administration), oferecendo confiança aos proprietários de marcas que buscam aumentar a incorporação de plásticos reciclados em produtos de consumo diário.

A agenda ESG é cada vez mais central no setor químico. Quais as metas de sustentabilidade da Braskem Idesa e como a operação mexicana tem se engajado em iniciativas como reciclagem química, redução de emissões e uso responsável da água?

O foco da Braskem Idesa nos últimos anos tem sido na reciclagem mecânica, em parceria com recicladores locais como a empresa Alcamare. O nosso portfólio hoje já oferece resinas 100% recicladas e mesclas de resina reciclada com resina virgem na proporção solicitada pelo cliente. Estas mesclas permitem que o produto tenha excelente qualidade com propriedades bastante estáveis, o que facilita a sua adoção mais rápida nos diversos processos da indústria de transformação. Além disso, implementamos, em conjunto com outros atores da indústria local, programas de incentivo à reciclagem e de educação ambiental nas comunidades onde atuamos.

E temos também uma meta de descarbonização com redução de até 15% das emissões de CO2 até final da década. O foco é a melhoria da eficiência operacional e o uso de energias renováveis, quando disponíveis. Esta melhoria de eficiência também se traduzirá na redução do consumo de diversos insumos e na melhor utilização dos recursos naturais.

A Braskem tem presença em toda a América Latina e América do Norte. Como a unidade do México pode se beneficiar e contribuir com sinergias em inovação, produção e logística na região? Há espaço para o México se tornar um hub regional?

A Braskem Idesa já exporta, atualmente, aproximadamente 40% da sua produção para todos os mercados. E fatores como localização geográfica, competitividade relativa, portfólio de produtos, acordos de livre comercio de México com muitos países e sinergia com a presença global de Braskem, fazem com que esse perfil exportador seja uma realidade que deve seguir importante a médio/longo prazo. Tal perspectiva consolida a posição da companhia como um hub de produção tanto de Polietileno Virgem quanto de Reciclados, em um ambiente não somente regional, mas, também, dentro do próprio ecossistema da Braskem.