Atacar a baixa produtividade e o baixo investimento é imprescindível para evitar um futuro econômico medíocre
O atual modelo econômico brasileiro não tem nos proporcionado um ritmo mais elevado e constante de crescimento da produtividade.
Roberto Giannetti da Fonseca, economista e empresário, Presidente da Kaduna Consultoria e do Lide Energia e Infraestrutura. (Foto: Fredy Uehara/Uehara Fotografia)
Se há dois indicadores que hoje em dia me preocupam profundamente na economia brasileira, são eles a baixa produtividade dos fatores de produção e o reduzido grau de investimento, tanto do setor público como do setor privado. Se estes temas não forem atacados com seriedade por políticas públicas e iniciativas privadas consistentes e perseverantes, o futuro de nossa economia será certamente medíocre. O atual modelo econômico brasileiro não tem nos proporcionado um ritmo mais elevado e constante de crescimento da produtividade que, sem dúvida, é uma condição imprescindível para o Brasil tornar-se um país de renda mais alta e justa como é desejável por todos brasileiros. Do lado privado, deveríamos estimular fortemente os investimentos em inovação e tecnologia, na modernização industrial, na maior eficiência logística, em direção a uma estrutura produtiva mais moderna, competitiva, diversificada e com maior nível de produtividade.
Do lado do setor público, a necessidade de melhorar a produtividade é ainda maior, tanto no aprimoramento da gestão fiscal, como na modernização da estrutura administrativa, na redução de gastos supérfluos ou desnecessários, e na melhoria da prestação de serviços à população. Voltar a crescer de forma consistente e contínua a taxas superiores a 3,0% ao ano deveria ser uma meta permanente e uma obsessão nacional, tanto quanto ganhar a Copa do Mundo de Futebol.
Temos atualmente um cenário de transição energética a nível global que nos oferece desafios e oportunidades. No futuro próximo, o Brasil poderia ser, sem sombra de dúvida, um protago- nista relevante, tanto no processo de reorganização das cadeias globais de valor, como no método de transição energética, promovendo uma metodologia de neo-industrialização de sua economia, com foco em setores dinâmicos relacionados com produtos de alto conteúdo tecno- lógico, como chips e semicondutores, como também nos produtos relacionados às novas fontes de energia renovável, nos quais certamente terá uma escala superlativa, tais como energia foto- voltaica e eólica, hidrogênio verde e suas aplicações na mobilidade urbana e nas indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, químicas, e fertilizantes (amônia verde).
Temos no Brasil os principais elementos básicos para se obter um custo ope- racional relativo de geração de energias renováveis mais favorável que todos outros países concorrentes, ou seja, abundância de sol, água, vento, e um vasto território. No entanto, se apresentam como desfavoráveis tanto o custo de oportunidade do capital, como também o custo relativo de equipamentos que compõem o ativo fixo das unidades geradoras de energia eólica e solar, em geral, ainda onerados por tarifas de importação e tributos internos elevados.
Este absurdo de política tributária precisa ser imediatamente eliminado para que se apresente um ambiente de negócios mais atrativo para estas novas atividades da economia de baixo carbono. Para atender ao potencial destas atividades, seriam necessários, nos próximos dez anos, investimentos da ordem de 200 bilhões de dólares de forma a viabilizar uma expansão da oferta de energia em 180 GW, o que é mais ou menos equivalente à atual capacidade instalada que dispomos hoje em dia no país.
Na esteira do evento Brazil Development Fórum, que será realizado pelo LIDE nos dias 01 e 02 de Setembro, em Washington, com a presença das instituições multilaterais (Banco Mun- dial, BID, e IFC – International Finance Corporation), poderão surgir boas oportunidades de financiamentos e investimentos para empresas privadas nos mais variados setores da economia, desde empresas concessionárias de serviços públicos (saneamento básico, energia renovável, logística, habitação) como também do setor pro- dutivo, na indústria, agronegócio e serviços.
Temos ainda a oportunidade para bancos de investimentos, escritórios de advocacia consultorias especializadas, de participar e relacionar com prospectivos clientes públicos e privados, na atividade de assessoria técnica e institucional na elaboração de projetos e negociação dos financiamentos multilaterais. Os entes sub-nacionais, estaduais e municipais, que estarão representados pelos respectivos Governadores e Prefeitos presentes ao evento, poderão melhorar seu conhecimento e acesso as linhas de financiamento multilateral atualmente disponíveis nas instituições sediadas na capital americana. A oportunidade histórica bate a nossa porta, não temos o direito de desperdiçá-la.