Empresas capturam dados no dia a dia, mas não sabem o que fazer com eles
Para Telma Luchetta, sócia de data e analytics da EY América do Sul, o desafio é entender o valor que os dados podem trazer em termos de inteligência para o negócio.
Telma Luchetta, sócia de data e analytics da EY América do Sul (Foto: Divulgação)
Estatística de formação, Telma Luchetta, sócia de data e analytics da EY América do Sul, está acostumada com a análise de números e outros dados que possa resultar em informações relevantes sobre determinado cenário. E é justamente esse procedimento, na visão dela, que está faltando para muitas empresas. “Embora as empresas digam que dados são um ativo essencial, a maioria não tem real conhecimento dos dados coletados e, tão relevante quanto isso, não consegue dedicar tempo para fazer a análise adequada que possa trazer os tão buscados insights para o negócio”, diz.
Confira abaixo a entrevista concedida para a Agência EY.
Qual é a diferença entre capturar dados e descobrir seu valor?
TELMA: As tecnologias disruptivas que têm surgido permitem capturar com velocidade volume imenso de dados, o que torna o Big Data cada vez mais abrangente. Essa captura pode ocorrer pela empresa ao receber dados dos seus clientes via transação, cadastro ou qualquer outra interação. As instituições financeiras, por meio do Open Finance, mediante consentimento do cliente, estão recebendo dados que podem ser muito relevantes para a criação de produtos e serviços financeiros baseados nos interesses e nas necessidades de grupos específicos.
Capturar dados é, portanto, apenas o primeiro passo. O que ocorre hoje é que a maioria das empresas tem muitos dados à disposição, mas não consegue entender o valor de todos esses dados e a melhor forma de extrair insights para o negócio. O desafio está na capacidade de monetizar esses dados, por meio da sua análise voltada para criação de produtos e serviços e para elaboração de novas estratégias de negócio.
Nesse contexto, qual é a relevância da segmentação?
TELMA: Muito alta. Ao segmentar em grupos menores os dados referentes aos assuntos centrais para a empresa, que podem estar relacionados às finanças, aos clientes ou às transações, fica muito mais simples delegar responsabilidades para cada uma das áreas do negócio, auxiliando assim os gestores a entender o valor dos dados para extrair insights. Chamamos esse processo de Small Data.
Seu objetivo principal é permitir que os dados coletados sejam usados para o propósito esperado por toda organização: gerar vantagem competitiva. Dificilmente, o gestor de qualquer área do negócio vai parar seu trabalho, interromper sua produção diária, para organizar e limpar todos esses dados a fim de interpretá-los na sequência. Por isso, deve haver uma governança de dados, com regras e responsabilidades para todos os profissionais, o que passa pela captação correta dos dados, prezando pela qualidade.
Como assegurar a qualidade dos dados capturados?
TELMA: Esse é outro desafio para as organizações. Isso porque, embora o dado exista e seja capturado com facilidade, muitos deles vêm sujos ou com baixa qualidade, o que inviabiliza a interpretação para gerar insights. Daí a relevância de as empresas contarem com um profissional ou uma área que se dedique a olhar para a qualidade dos dados capturados, respondendo por sua governança. É aquele exemplo clássico de preencher o cadastro do cliente de qualquer forma, ignorando algum campo ou escrevendo qualquer coisa. Isso traz sujeira para a base de dados.
Atenção, ainda, para a coleta e o tratamento desses dados de acordo com a legislação, o que envolve a conformidade com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Também por isso, deve haver uma regra de negócio para o tratamento de cada grupo de dados, assegurando que possa ser utilizado para os propósitos definidos.