Encolhimento das metrópoles revela deslocamento populacional para cidades menores

Alex Abiko, especialista da USP, comenta dados do IBGE e diz que piora na qualidade de vida nos grandes centros e a percepção de melhores oportunidades em cidades menores são fatores que colaboram com o fenômeno.

são pauloCidades médias e pequenas têm recebido cada vez mais moradores em busca de uma melhor qualidade de vida. (Foto: Unsplash)

Após dois anos de atraso, ocasionado pelo corte de verbas do governo Bolsonaro e a situação pandêmica, os primeiros dados do Censo Demográfico 2022 começaram a ser divulgados na última semana de junho. Um dos dados inéditos levantados pelo IBGE é o encolhimento populacional nas grandes cidades. Assim, mesmo que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro continuem crescendo, existe uma relativa diminuição populacional em capitais como Salvador, com queda de 9,6%, e Natal, com 6,5%. Paralelamente a isso, as cidades médias e pequenas têm recebido cada vez mais moradores em busca de uma melhor qualidade de vida.

Motivações

Alex Abiko, professor de Gestão Urbana e Habitacional da Escola Politécnica da USP, explica que esse fenômeno de deslocamento da população para cidades menores pode ser observado como um reflexo da piora na qualidade de vida em grandes centros. Aspectos como o aumento da violência e do custo de vida, além da piora dos serviços públicos nas metrópoles são considerados pelos residentes que decidem se mudar.

Assim, moradores estabelecem um comparativo com o cenário sobrecarregado de grandes cidades com uma ideia de uma qualidade de vida melhor em cidades pequenas. “No entanto, eu queria afirmar que essa é mais uma percepção dos moradores em relação às cidades médias, mais do que realmente aquilo que está acontecendo”, ressalta Alex Abiko.

Consequências

A migração de cidades grandes e cidades menores, inevitavelmente, irá provocar mudanças no funcionamento urbano e público de ambas, mesmo que com efeitos diferentes. Por exemplo, de acordo com o professor, o esvaziamento dos grandes centros pode ser benéfico, já que, com o menor número de pessoas utilizando a mesma infraestrutura, pode haver um aumento na qualidade de vida.

Por outro lado, há uma maior dificuldade das cidades menores lidarem com a chegada de um volume populacional maior do que o suportado por suas políticas públicas. Abiko comenta que essa possível sobrecarga é explicada pelo fato de não existirem recursos e infraestrutura suficientes para lidar com o fenômeno. Assim, não se trata de uma falta de planejamento, uma vez que o governo não espera um crescimento populacional repentino.

“Esse movimento pode criar um grande problema nas cidades médias, que até então tinham uma boa qualidade de vida”, prevê o professor ao alertar sobre uma possível sobrecarga das políticas públicas.

Cenário

Apesar dessa perda populacional nas metrópoles ser considerada inédita pelo novo estudo do IBGE, o especialista explica que já havia sido detectada uma tendência mundial de desaceleração do crescimento populacional. Pode-se observar que essa queda está diretamente relacionada com o fenômeno de urbanização de países em desenvolvimento.

Dessa forma, a partir do processo de urbanização das cidades nota-se uma série de tendências de transformações, como a diminuição do tamanho das famílias brasileiras. Dado que pode ser relacionado com a queda de 18,7% no número de pessoas por domicílios, de acordo com o Censo de 2022.

Fonte: Jornal da USP