Agenda de inovação é a principal prioridade dos Conselhos de Administração para 2025 no Brasil

Na edição anterior, alocação de capital estava no topo da lista.

ey-andrea-fugaAndréa Fuga, sócia-líder de Avaliações, Modelagem e Consultoria Econômica da EY para América Latina. (Foto: Divulgação)

Alocação de capital estava no topo da lista de preocupação dos Conselhos de Administração em 2024 no Brasil, mas inovação e tecnologias emergentes tornaram-se o tema prioritário para os colegiados este ano, segundo pesquisa da EY, uma das principais consultorias e auditorias do mundo. O levantamento anual com entrevistados no Brasil, onde foram obtidas mais de 100 respostas, elenca as seguintes prioridades para este ano (TOP5): inovação e tecnologias emergentes (79%), alocação de capital (72%), segurança cibernética e privacidade de dados (70%), agenda de talentos (69%) e, na quinta posição, condições econômicas (67%). Diferentemente da edição de 2024, a classificação iniciava por alocação de capital (81%), condições econômicas (80%), segurança cibernética e privacidade de dados (68%), inovação e tecnologias emergentes (62%) e agenda de talentos (53%).

Segundo Andréa Fuga, sócia-líder de Avaliações, Modelagem e Consultoria Econômica da EY para América Latina, “observa-se que um número menor de conselheiros classificou as condições econômicas como prioridade em 2025. Para o Brasil, este tópico apareceu em 2º lugar no ano passado, e junto com riscos políticos foi um dos itens com maior redução de relevância entre um ano e outro. Este movimento acontecendo num momento de volatilidade econômica local e global possivelmente denota uma perspectiva otimista e uma crença de resiliência das empresas brasileiras às turbulências internas e externas. Em relação à inovação e tecnologias emergentes, a noção de urgência se confirma quando verificamos que 75% dos conselheiros no Brasil (comparado a 67% em Américas) responderam ser mais favoráveis a impulsionar a utilização da Inteligência Artificial do que a priorizar a mitigação dos riscos associados a ela”.

Para as Américas, as quatro principais prioridades dos Conselhos permanecem as mesmas desde 2024, porém, com uma inversão entre a terceira e a quarta posições. Na primeira e segunda posição, aparecem condições econômicas (74%) e alocação de capital (69%), mas ambas perderam relevância comparado com o último ano, 82% e 74%, respectivamente. Na terceira posição, aparece inovação e tecnologias emergentes (69%), anteriormente ocupada por segurança cibernética e privacidade de dados (67%). Outra mudança no ranking de Américas foi a entrada de desenvolvimentos regulatórios (58%) na quinta posição, ocupando o lugar de agenda de talentos (56%), que se manteve estável.

Segundo Andréa Fuga, a pesquisa em Américas mostra que “apesar de condições econômicas e alocação de capital estarem no topo da agenda pelo segundo ano consecutivo, a diminuição da ênfase nestes itens também denota maior otimismo, frente a um cenário com redução de inflação global e afrouxamento das políticas monetárias, fatores que de alguma forma compensam a persistência das tensões políticas”, observa.

Ainda no contexto de Américas, segundo Andréa Fuga, “o foco em alocação de capital mostra a preocupação dos Conselhos em apoiar mais as decisões de investimentos e desinvestimentos, liberando recursos que possam ser aplicados em projetos de maior retorno e em inovação”.

Conselheiros brasileiros querem se dedicar mais para mudanças climáticas e gestão ambiental

A pesquisa procurou saber também os temas para os quais os conselheiros querem que seus Conselhos dediquem mais tempo, informações e recursos. No Brasil, apesar dos itens mudanças climáticas e gestão ambiental terem aparecido na pesquisa em 8º lugar nas prioridades para 2025, este foi o tema indicado pelos conselheiros como aquele que mais gostariam de aumentar o tempo dedicado e obter mais informações e recursos, internos e externos.

“Efeitos climáticos mais severos afetaram significativamente as empresas brasileiras em 2024. As enchentes no Rio Grande do Sul, a interrupção de fornecimento de energia em São Paulo, as secas que impediram o transporte fluvial na região Norte, e incêndios ameaçando o agronegócio fizeram com que os conselheiros questionassem se estão tendo tempo e recursos adequadamente dimensionados a estes aspectos”, analisa Andréa Fuga. “É possível que estes sejam temas sobre os quais os conselheiros tenham menor domínio, daí sentirem a necessidade de ampliar seu conhecimento, dedicando mais tempo e obtendo mais informações, seja das suas empresas, seja de terceiros”, complementa.

Quanto ao posicionamento futuro, no Brasil, 53% dos conselheiros respondentes pensam que a estratégia de suas empresas não permanecerá a mesma nos próximos anos. Já nas Américas, ao contrário, apenas 39% dos conselheiros acreditam que a estratégia de sua empresa mudará no horizonte de três anos.

Os conselheiros do Brasil indicaram que os principais fatores que irão influenciar esta mudança estratégica são: inteligência artificial/generativa (23%), aumento da concorrência e novos entrantes no mercado (23%) e pressão para crescer por meio de fusões e aquisições e joint ventures (21%).

“Estes fatores estão correlacionados. À medida que a Inteligência Artificial passa a ser aplicada em oportunidades de criação de vantagem competitiva, espaços para novos entrantes podem se abrir. Buscar inovação via transações é uma alternativa de resposta mais rápida, mas que exigirá monitoramento e proximidade dos conselheiros junto à administração”, comenta Andréa.

Andréa ainda destaca que “O papel do Conselho como agente de manutenção do equilíbrio entre risco e retorno, curto e longo prazo, urgente e importante, é ainda mais relevante no contexto volátil e de necessidade de respostas rápidas que encontraremos em 2025”.