Investidores ainda mantém boas expectativas para o mercado de Infraestrutura, indica estudo da EY e ABDIB
Infraestrutura Social volta a ganhar espaço na agenda dos investidores. Além disso, saneamento, energia elétrica e rodovias seguem como principais setores para investimento.
Gustavo Gusmão, sócio da EY para Governo e Infraestrutura.(Foto: Divulgação)
A EY, uma das principais consultorias e auditorias do mundo, e a ABDIB, Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, acabam de divulgar a 12ª edição do Barômetro da Infraestrutura. A pesquisa semestral tem o objetivo de identificar o ânimo de empresários e especialistas dos setores de infraestrutura a respeito de temas que impactam a realização de investimentos, ambiente de negócios e o desenvolvimento de projetos. Um dos destaques desta edição é a manutenção de boas expectativas para o setor, apesar do cenário econômico dos últimos meses. Outro destaque é o retorno dos projetos de Infraestrutura Social entre os cinco setores com maior potencial de investimento, fato que não ocorria desde a edição do 1º semestre de 2023.
“O Barômetro é um instrumento importante, que aponta as tendências do mercado e revela a disposição do setor de infraestrutura em relação aos investimentos, geração de empregos e ações do governo”, diz Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da ABDIB.
“Os dados da pesquisa corroboram com a percepção de resiliência do setor de infraestrutura no Brasil, que já é e continua sendo acostumado a lidar com as adversidades, com os índices de confiança indo, muitas vezes, na contramão dos outros setores, mesmo em momentos de instabilidade econômica e incertezas geopolíticas”, aponta Gustavo Gusmão, sócio da EY para Governo e Infraestrutura.
Para os próximos 6 meses há uma percepção de um cenário favorável para investimentos em infraestrutura, que nessa edição ficou em 52,9%, indicador similar à edição anterior da pesquisa. “O resultado encontra-se acima da média histórica do Barômetro, que é de 40,66%”, afirma Gusmão.
Outro aspecto positivo retratado no estudo é sobre o grau de concretização das expectativas em relação à promoção de investimentos nos últimos 6 meses, com 49,3% afirmando que essas expectativas foram parcialmente alcançadas e 7,4% indicando a concretização total das expectativas. O executivo ainda completa que “nesta edição, foram registrados resultados mais positivos que as médias históricas, somando mais de 56% dos respondentes tendo manifestado que suas expectativas quanto a investimentos em infraestrutura foram totais ou parcialmente atendidas”.
A Infraestrutura Social vem se mostrando um dos destaques para o próximo ano e essa edição do Barômetro sinaliza essa movimentação do mercado. Gusmão aponta que “dentro dessa temática, os hospitais e escolas devem ganhar um fôlego interessante porque há demanda reprimida por esse tipo de projeto e que vem sendo abraçada por estados e municípios com forte apoio de entidades federais”.
Saneamento básico, energia elétrica e rodovias seguem nas três primeiras colocações pela quarta edição seguida. Gusmão explica que “esses são setores mais consolidados e maduros no mercado brasileiro e que, portanto, trazem maior previsibilidade para os investidores. Além de serem setores que há uma forte demanda e, ao mesmo tempo, necessidade de aprimoramentos”.
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
Outro ponto que chamou atenção nessa edição do Barômetro foi a desconfiança e o ceticismo dos entrevistados em relação ao PAC. 62,83% apontou que o andamento do PAC não atende às expectativas, enquanto 30,38% acredita que o programa atendeu parcialmente. Apenas 2,36% dos entrevistados acreditam que o referido programa atendeu plenamente às expectativas.
O alinhamento mais estruturado entre o Governo Federal e os estados e municípios é, segundo os entrevistados, a principal variável que impacta na velocidade de implementação do PAC (44,8%).
Esse ceticismo também é visto quando os entrevistados respondem sobre o cumprimento das metas do PAC. Apenas 2,1% acreditam que elas serão integralmente cumpridas e 11,5% que serão majoritariamente alcançadas. Enquanto 43,1% acreditam num cumprimento parcial e 37,2% no minoritário.
Quando perguntado sobre transição energética, um dos eixos do PAC, os principais desafios apontados pelos entrevistados estão concentrados na insuficiência de linhas de financiamento (60,8%), na falta de clareza em relação às metas (59,6%) e na ausência de uma política adequada ao tema (56,1%).
Concessões e PPPs
Ao analisar o potencial para investimentos por meio de PPPs (Parceria Público-Privada) e concessões, os Estados mantêm a liderança em relação ao aproveitamento total e parcial do potencial para investimentos. Em contrapartida, os governos municipais tiveram um crescimento em relação à edição anterior, saindo de 19,5% para 24,4%.
Assim como na edição anterior, prevalece a percepção de que há espaço para fazer mais dentro dos limites constitucionais, principalmente no que diz respeito ao apoio do Governo Federal juntos dos entes subnacionais e dos estados junto aos municípios para o desenvolvimento de concessões e PPPs, com 56,1%.
Gráfico que mostra a percepção sobre o apoio da União na promoção de investimentos por meio de concessões e PPPs em estados e municípios
Inteligência Artificial
Ao analisar o uso da Inteligência Artificial na infraestrutura no Brasil, percebe-se que essa realidade ainda não está presente em larga escala. “Alguns mercados, como rodovias e saneamento, já têm algumas aplicações mais consistentes com IA, mas de modo geral, podemos dizer que o Brasil está num estágio inicial. As principais empresas ainda estão fazendo testes para poder aplicar em larga escala”, diz Gusmão.
Por fim, existem algumas barreiras que ainda precisam ser superadas para intensificar o uso de inteligência artificial nos projetos desse setor, como: resistência cultural, falta de conhecimento e de mão de obra qualificada, custos iniciais elevados e retorno incerto e, por fim, questões regulatórias e de padronização. O estudo conclui que, para aumentar a adoção de IA na infraestrutura, é necessário um esforço concentrado da indústria, envolvendo a colaboração entre grupos de stakeholders que impulsionem a adoção de IA ao longo do ciclo de vida dos ativos.