92% dos executivos temem que as iniciativas relacionadas a ESG prejudiquem o desempenho corporativo de curto prazo, aponta pesquisa
Estudo realizado pela EY também mostra que 85% dos investidores dizem que o greenwashing é um problema cada vez pior.
Ricardo Assumpção, sócio líder de Sustentabilidade e ESG para a América Latina e diretor de Sustentabilidade da EY. (Foto: Divulgação)
A EY divulgou a edição mais recente do estudo “Global Reporting and Institutional Investor Survey”, que ouviu 350 representantes de grandes fundos de investimentos globais e aponta que, nos últimos dez anos, a tendência dos investidores institucionais se preocuparem e incorporarem o ESG em suas tomadas de decisão continua crescente. Porém, apesar disso, ainda há uma lacuna entre o que eles dizem e o que estão fazendo. Dentre os principais insights de pesquisa, 92% temem que as iniciativas relacionadas ao tema prejudiquem o desempenho corporativo de curto prazo, enquanto 88% dos investidores pesquisados aumentaram o uso de informações ESG.
No entanto, apesar de ter essas informações em mãos, esse primeiro dado indica que ainda há certa incerteza quando são analisados o desempenho de curto prazo e os benefícios de longo prazo. “Essa equação entre longo e médio prazo sempre esteve presente no dia a dia dos executivos e não apenas sobre sustentabilidade. E quando falamos dessa agenda, as mudanças, como transição energética e descarbonização, por exemplo, só são possíveis a longo prazo, mas precisam existir. E como mais um aspecto nessa balança, temos as questões macroeconômicas e políticas. Não existe uma fórmula pronta para resolver e equalizar as pontas”, explica Ricardo Assumpção, sócio líder de Sustentabilidade e ESG para a América Latina e diretor de Sustentabilidade da EY.
“Esse segundo dado reforça que seguimos num crescimento e melhora dos relatórios de sustentabilidade corporativa, que municiam os investidores com mais informações do que nunca para orientar sua tomada de decisão. Nisso, o Brasil tem bastante destaque e até pioneirismo em relação às obrigatoriedades de inclusão desses dados nos relatórios financeiros, por exemplo”, afirma Ricardo.
Quando considerado esse contexto macroeconômico, os principais fatores que podem afetar o desempenho e o ciclo de negócios para os investidores são: restrições e tarifas comerciais (62%), custo de capital (53%) e custo e disponibilidade de mão de obra (50%). Mesmo assim, 55% afirma que o impacto das mudanças climáticas afetará de forma aguda ou substancial suas estratégias de investimento no curto prazo. Segundo Ricardo, “o movimento para que estratégias de sustentabilidade e de negócios sejam apartadas está cada vez mais caindo por terra para todos os stakeholders do mercado. Não existe uma coisa separada da outra. A sustentabilidade é transversal aos negócios da empresa e precisa ser considerada nas tomadas de decisão. Hoje, isso já é mais compreendido pelos c-levels e a tendência é que essa transversalidade seja cada vez mais fluída”.
Um ponto importante trazido pela pesquisa é que 85% dos investidores entrevistados disseram que o greenwashing e declarações enganosas sobre o desempenho de sustentabilidade das empresas são um problema maior em comparação com cinco anos atrás. “As ações práticas de sustentabilidade aplicadas ao core business das companhias se mostram mais necessárias do que nunca. Não basta aplicar o discurso ESG aos reports e relatórios, a credibilidade está, de fato, na prática. Ainda mais com as regulações, como a IFRS S1 e S2, que trarão certas obrigatoriedades e padrões para as empresas”, conta o executivo.
No contraponto, 93% parecem confiantes de que as empresas cumprirão suas metas de sustentabilidade. “Essa ‘desconexão’ entre os dados pode ser vista como uma confirmação de que os investidores estejam monitorando o que as empresas dizem sobre sustentabilidade, mas simultaneamente, também esperam que elas mudem para metas mais alcançáveis ao longo do tempo”. Assumpção ainda complementa que “para proteger seu capital e gerenciar efetivamente seus riscos, os investidores ainda devem incentivar as empresas investidas a publicar um plano de transição e divulgar seu compromisso financeiro com as atividades de transição”.
Sobre os relatórios de sustentabilidade, 80% dos investidores entrevistados acreditam que a materialidade e a comparabilidade dos relatórios de sustentabilidade precisam ser melhoradas, com 62% dizendo o mesmo sobre a precisão. Para Ricardo, “com as padronizações do ISSB e do CSRD, por exemplo, entrando em vigor, a tendência é que essa precisão e materialidade se torne cada vez mais crível nesses documentos. Nos próximos anos, essas percepções serão, certamente, muito mais positivas”.
Além das mudanças climáticas
Os investidores usam estruturas diferentes para avaliar seus investimentos, e definitivamente, agora não estão monitorando apenas as questões climáticas, mas também aspectos sociais e ambientais, incluindo biodiversidade e natureza, governança e práticas de direitos humanos. “É muito comum que esse monitoramento seja bastante focado no desempenho e risco das mudanças climáticas, uma vez que isso reflete o impacto financeiro direto que essas ameaças podem ter, que pode chegar na casa dos bilhões ou trilhões de dólares”, explica Assumpção.
De acordo com The Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment, instituto de pesquisa da London School of Economics and Political Science, mais de 1.800 casos de litígios climáticos foram arquivados globalmente desde 2015 e isso também vem sendo monitorado pelos investidores.
Quase metade (49%) dos entrevistados da EY Global Reporting and Institutional Investor Survey afirmam que realizam análises estruturadas do risco de litígio relacionado ao clima contra sua empresa por clientes ou partes interessadas, enquanto 40% realizam uma revisão ad hoc. “Essa medida se dá porque os investidores são, em sua maioria, conscientes dos riscos representados pelo litígio climático, que ainda é caro e demorado. Além disso, ainda está em jogo a reputação de uma empresa que pode ser potencialmente prejudicada, atrapalhando também o alcance do modelo de negócio e o valor da participação de um investidor”, explica Ricardo.
Além disso, as perdas financeiras associadas a eventos climáticos extremos - que provavelmente aumentarão em frequência e intensidade - incentivarão os investidores a manter seu foco na sustentabilidade, pelo menos quando se trata de clima. “O risco climático provavelmente será uma das maiores interrupções enfrentadas pelas empresas nos próximos 20 a 30 anos. No paralelo, os riscos econômicos associados à natureza estão se tornando mais compreendidos, aumentando a necessidade das empresas agirem rapidamente para enfrentá-los”, afirma Assumpção. Uma pesquisa da Universidade de Oxford previu que choques na economia global relacionados à perda de biodiversidade e danos ao ecossistema podem custar mais de US$ 5 trilhões.
Por fim, o estudo aponta algumas recomendações para que os investidores e empresas aumentem a confiança na sustentabilidade como um impulsionador de valor de longo prazo e um suporte ao cumprimento de metas e transição para uma economia netZero. Para o primeiro: adoção de uma abordagem equilibrada entre riscos e desempenho; monitoramento de planos e políticas relacionadas à sustentabilidade de governos, bancos centrais e instituições; análises de caminhos de transição entre setores; envolvimento com os clientes para entender suas expectativas em relação à criação de longo prazo; investimento em dados e tecnologias de sustentabilidade e, por fim, desenvolvimento de capacidade de análise de informações adicionais reportadas como ISSB ou CSRD.
Já as empresas precisam se envolver mais com os investidores sobre os relatórios de sustentabilidade; evitar o greenwashing; desenvolver e publicar um plano de transição detalhado; entender as estruturas usadas pelos investidores para monitorar os investimentos em sustentabilidade; ser transparentes nas divulgações e comunicar a estratégia de criação de longo prazo.