Sérgio Zalis retrata a beleza e de sua conexão com bosques
O fotógrafo conhecido por retratar celebridades revela sua conexão com um bosque holandês através de imagens que exploram a natureza e a arte dos parques urbanos.
O fotógrafo conhecido por retratar celebridades revela sua conexão com um bosque holandês através de imagens que exploram a natureza e a arte dos parques urbanos.
Sérgio Zalis tem uma longa e prestigiosa carreira no mundo editorial retratando celebridades. Não faz tanto tempo, ele voltou seus olhos e lentes para outras estrelas: as árvores. Para a exposição “Florestas de Bolso”, no Rio de Janeiro, o fotógrafo explorou um mundo que ele conhece intimamente desde 1994 — o Scheveningse Bosjes, um bosque do século XIX localizado em Haia, na Holanda. O projeto chama atenção para a importância dos parques urbanos e as árvores frondosas que neles habitam.
“As árvores agora são as minhas celebridades”, comenta Zalis, refletindo sobre a mudança em sua trajetória de 40 anos de carreira no mercado editorial, como fotógrafo, editor e diretor de revistas. “Árvores não questionam nem têm ego (risos). Tenho todo o tempo do mundo para fotografar”, brinca. “Não é um trabalho científico nem jornalístico. Mas elas ‘falam’ comigo, mexem muito esteticamente.” A sua primeira exposição sobre a temática, “Rio – Dicotomia – Haia”, aconteceu no Instituto Antônio Carlos Jobim, no Jardim Botânico, no começo do ano, e mesclou imagens captadas no Jardim Botânico com o bosque de Haia.
O fotógrafo Sérgio Zalis.
Com curadoria de Christiane Laclau, a mostra vai além de uma exposição de belas paisagens naturais. Laclau explica que o processo criativo de Zalis transcende a simplicidade da captura visual. “Zalis é um artista explorador andarilho. As imagens excedem paisagens bucólicas, são cenas que têm algo de bruto e que, por sua característica, provocam desacordos”, observa a curadora. Esse “desacordo” é, na verdade, o ponto de partida para a reflexão proposta.
O fotógrafo utiliza a técnica de focus stacking, um processo que funde várias imagens de diferentes pontos focais em uma única fotografia. Zalis revela uma natureza viva, vibrante, quase palpável, desafiando a percepção do espectador. O filósofo Peter Pál Pelbart, professor da PUC-SP, descreveu o impacto que teve ao conhecer o trabalho: “A beleza nos reconforta e apazigua. Mas o que acontece quando algo é belo demais, arrebatador, sublime? Não será este o caso do tratamento a que Sér- gio Zalis submete as suas fotografias?”. Pelbart reflete sobre como o trabalho extrapola a realidade, provocando uma nova forma de vivenciar o belo.
Para Zalis, Floresta de Bolso é mais que um projeto fotográfico. “Chamo de florestas de bolso porque é algo muito pessoal, que cabe no bolso da minha alma”, diz. As imagens traduzem uma relação íntima com o bosque que ele frequenta há três décadas. Zalis é cidadão holandês e hoje se divide entre Rio e Haia. A dedicação à captura de imagens se tornou uma constante por um ano, desde abril de 2023, até dar forma ao projeto. “Tenho uma ligação forte com a Holanda, onde estudei na Academia Nacional de Belas Artes dos Países Baixos”, conta. “Em 30 anos de dedicação quase meditativa ao bosque, estabeleci um laço íntimo que me mantém conectado ao jardim. Tento atuar como um intermediador para que possamos imergir num mundo frequentado por mim desde 1994.”
A exposição é um convite à contemplação, em que o espectador é desafiado a ir além do que os olhos podem ver e sentir o pulsar da natureza nas cidades.