Rogério Assis: primeiro fotógrafo a ter contato com os Zo’é, uma pequena comunidade indígena que permanece isolada na Amazônia
Primeiro fotógrafo a ter contato com os Zo’é, uma pequena comunidade indígena que permanece isolada no interior da Floresta Amazônica, o paraense Rogério Assis tornou-se um especialista em desbravar com suas lentes a parte da Amazônia que resiste, e a que virou cinzas e memória para os livros de história.
Léo descansando na canoa em um igapó do Rio Pagão, na comunidade Boa Esperança, município de Curralinho, Ilha do Marajó-PA.
A trajetória de Rogério Assis, de 56 anos, um dos grandes fotógrafos documentaristas brasileiros, pode ser dividida entre antes e depois do dia em que pisou pela primeira vez nas entranhas da Floresta Amazônica, na região do Pará, entre os rios Cuminapanema, Erepecuru e Urucuriana, a uma hora de avião de Santarém. Era 1989 e Rogério chegou lá dois anos depois do primeiro contato dos Zo’é com o mundo exterior, por meio de um grupo de missionários. Depois dos acenos iniciais, veio Rogério, acompanhando o presidente da Funai e sua arma pacífica, uma câmera Nikon F2 35mm.
Desde a década de 1940, a pequena tribo tinha conhecimento da presença do homem branco em seu território. Passaram-se quatro décadas, contudo, para que ocorresse um encontro. O saldo da aproximação foi trágico para o povo da floresta e seu frágil sistema imunológico. Um dos missionários acabou levando o vírus da gripe e houve quase 100 mortes. Quando Rogério chegou resta
vam apenas 147 índios, muitos dos quais doentes. As fotos rodaram o mundo. E com elas, Rogério.
Depois da revelação inédita, viajou, estudou nos Estados Unidos, trabalhou como fotojornalista do Estadão e da Folha de S. Paulo, abriu uma agência de fotografia digital, criou uma revista, participou de inúmeras exposições, salões de arte, até que um novo convite da Funai e a ideia de um livro o levaram ao reencontro com os Zo’é, 20 anos depois. O cenário parecia mais animador. A intervenção da Funai, depois da visita inaugural dos missionários, restabeleceu o isolamento da tribo, com rigoroso controle de doenças.
“A gente trata como exótico o que parece exótico para nós. Não existe exotismo em lugar nenhum, tudo é vida”.
Havia 246 indígenas vivendo na aldeia, com boa saúde graças às ações da Frente de Proteção Etnoambiental. Hoje, a população é de cerca de 250 pessoas. Nas duas imersões, Rogério usou filme preto e branco para manter a mesma linguagem estética. Teve respeito e zelo, em doses iguais. “Eu punha a câmera à vista, em cima da bolsa num canto, para que eles vissem que não iria fotografar”, diz.
"Era uma forma deles irem se acostumando com a minha presença”. O belo livro, assim como todo o trabalho documental de Rogério por meio da fotografia, é o mais completo resgate já feito sobre uma tribo que faz questão de se manter isolada. Vivendo em São Paulo, o fotógrafo segue se dedicando a projetos de documentação na área sócio-ambiental em parcerias com o Greenpeace e o Instituto Sócio Ambiental.
De tudo o que viu e viveu, de mãos dadas com os povos da floresta desde 1989, ele costuma dizer que aprendeu um outro modo de viver: “A gente trata como exótico o que parece exótico para nós. Não existe exotismo em lugar nenhum, tudo é vida”.
Quando Rogério chegou resta vam apenas 147 índios, muitos dos quais doentes. As fotos rodaram o mundo. E com elas, Rogério.
Havia 246 indígenas vivendo na aldeia, com boa saúde graças às ações da Frente de Proteção Etnoambiental.