Um combatente contra a escassez
Aos 57 anos, natural de Burkina Faso, o arquiteto Diebédo Francis Kéré foi o primeiro africano a vencer o Prêmio Pritzker.
O arquiteto Francis Kéré.
O arquiteto Diebédo Francis Kéré, de 57 anos, natural de Burkina Faso, foi o primeiro africano a vencer o Prêmio Pritzker, a mais alta honraria da arquitetura, concedida em 15 de março deste ano.
Reconhecido tanto por seus projetos quanto pelo ativismo social, além de ter sido o autor do Pavilhão Serpentine, no Hyde Park de Londres, em 2017, Kéré promoveu “desenhos sustentáveis em áreas de escassez extrema”, conforme afirmou em comunicado Tom Pritzker, presidente da Hyatt Foundation, patrocinadora do evento.
Nascido em 1965 na cidade de Gando, Kéré é o filho mais velho do chefe de sua aldeia e o primeiro, nela, a frequentar a escola. Graças a duas bolsas concedidas por instituições alemãs, pôde começar a estudar carpintaria em 1985 e, dez anos depois, arquitetura na Technische Universität Berlin.
O Pavilhão Serpentine, no Hyde Park de Londres, finalizado em 2017.
Por meio de edifícios que demonstraram “beleza, modéstia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura e gesto”, Kéré espalhou sua filosofia por escolas, centros de saúde, prédios residenciais e espaços públicos em países africanos como Benin, Togo, Quênia, Moçambique e Sudão. O arquiteto, que apoia o uso racional de materiais e defende evitar desperdícios em projetos arquitetônicos, disse esperar uma mudança de paradigma nas construções a partir de agora.
Ele quer levar as pessoas a sonhar e a arriscar. “Não por ser rico você deve desperdiçar material. Não por ser pobre você está impedido de criar algo de qualidade. Todos a merecem. Todos merecem luxo e conforto. Estamos interligados. As preocupações com o clima, com a democracia e a escassez existem em todos nós.”
Escola de ensino fundamental de Gando, todos em Burkina Faso.
Sustentável, também
A escolha de Kéré não é apenas simbólica em um momento de demandas identitárias, no qual as instituições enfim começam a representar mais fielmente as realidades sociais, culturais e sexuais que compõem nossas sociedades, mas também confirma a abordagem mais recente do júri do Prêmio Pritzker.
Desde sua primeira edição, em 1979, até a primeira metade da década de 1990, o Pritzker foi entendido principalmente como um prêmio pelo conjunto da obra (Philip Johnson, Oscar Niemeyer e Aldo Rossi foram agraciados, para citar alguns). Mais tarde, mudou para a coroação definitiva da geração de celebridades globais (Norman Foster, Rem Koolhaas e Zaha Hadid, entre outros) e, na última década, o júri destacou ações de compromisso social ao premiar arquitetos de vanguarda como como Shigeru Ban (2014), Alejandro Aravena (2016), Lacaton & Vassal (2021) e o próprio Kéré.
Campus da Startup Lions, às margens do lago Turkana, no Quênia.
Pátio da clínica de saúde de Léo.
Beleza, modéstia e invenção na área externa do Lycée Schorge, em Koudougou.