That's '70 Show: o estilo hippie volta às vitrines
Braceletes pesados, pingentes enormes e atitude por todos os lados: as joias mais cobiçadas do momento são um resgate da era hippie.
AO LADO, EM SENTIDO HORÁRIO: A designer Elsa Peretti com cinto de corrente de cobra e bracelete Bone, 1973; colar de ouro comsafiras amarelas e azuis, ágatas, citrinos e diamantes da Bulgari, 1972; Pulseira Crystal Stairs e brincos de Aldo Cipullo para Cartier; pulseiras de Elsa Peretti; relógio de ouro Serpenti Tubogas, da Bulgari, 1974.
Dos ternos coloridos às enormes plataformas, a lista de arrependimentos fashion dos anos 1970 é longa. Aqui estamos falando de roupas de gosto duvidoso mas com as joias, a história é outra. Esculturais e muitas vezes influenciadas pela pop art, as peças que marcaram aquela década ganham um novo olhar dos designers atuais. Enquanto os diamantes antigos da realeza europeia estão sob os holofotes, por suas enormes pedras brilhantes e preços multimilioná- rios, a exuberância e acessibilidade das peças cria- -das há 40 ou 50 anos são alvos atraentes para colecionadores iniciantes. Além disso, são muito mais usáveis e fáceis de combinar com as roupas do dia a dia do que uma riviera ou uma tiara preciosa.
O espírito setentinha está mais vivo do que nunca. Livros especializados lançados recentemente trazem capítulos sobre designers de joias da época como Aldo Cipullo e Andrew Grima. Já a italiana Elsa Peretti, conhecida por suas longas colaborações com a Tiffany&Co. ganhou um empurrãozinho da cultu- ra pop por causa da ótima série Halston, da Netflix, lançada meses depois de sua morte. Sem contar a belíssima exposição Simply Brilliant: Artist-Jewelers of the 1960s and 1970s, que esteve em cartaz até fe- vereiro passado no Museu Cincinnati Art, em Ohio, nos Estados Unidos, com nomes famosos daquele período como Boucheron, Cartier e Bulgari.
Segundo Catharine Becket, chefe do setor de vendas de joias da Sotheby’s, a mais famosa casa de leilões do mundo, as joias dos anos 1970 foram um marco porque eram completamente inovadoras. “Até os anos 1960, havia mais ênfase em pedras preciosas, em especial, rubi, esmeralda e safira. Os anos 1970 trouxeram à tona a exploração de pedras semipreciosas como a ametista e turmalina”, diz ela.
“A formalidade da realeza e da alta sociedade deram lugar a joias com estética mais casual, aparecendo em ouro amarelo, com formas abstratas, textura e uma estética única. Esse período tem feito sucesso”, acrescenta a executiva, referindo-se ao leilão que a Sotheby’s fez com joias da coleção da filantropa Michelle Smith.
Entre as peças datadas da década de 1970, um colar de ouro com pérola e diamante da Van Cleef & Arpels foi vendido por US$ 252 mil, cinco vezes mais do que o primeiro lance. Vale ressaltar, porém, que esses preços estratosféricos são exceções. Até porque, em parte, os anos 1970 coincidiram com uma onda de mulheres que entra- ram no mercado de trabalho e passaram a comprar suas próprias joias. “Elas passaram a olhar para as peças que poderiam pagar”, observa Catharine.
Jill Heller, revendedora de joias de Nova York, que atende celebridades como Rihanna e Alicia Keys, fala sobre o estilo setentinha. “É feminino e sexy, algo bastante relevante hoje em dia. As peças são atuais, parece que você comprou hoje”, compara.
Braceletes pesados, pingentes enormes e atitude por todos os lados.
Por conta desse movimento, vários joalheiros estão encontrando inspiração na época. A joalheria italiana Pomellato, por exemplo, trouxe em sua mais recente coleção tema de nós e anéis com pesadas pedras semipreciosas como topázio e quartzo. Jill cita a coleção de colares Monete, da Bulgari, com moedas antigas, peças de ouro texturizado, da Henry Dunay e os braceletes esmaltados em formas de animais de David Webb, como os itens mais desejados daquela época.
Além disso, o apelo hippie das peças atravessa gerações e as filhas das mulheres que originalmente usavam as joias da década de 1970 estão redescobrindo essas peças. Os colecionadores também buscam designers menos conhecidos como Norman Teufel, cujas joias lúdicas e cinéticas (como anéis de ouro 18 quilates com movimento de um pião) eram desvalorizadas na época. Já as criações que Elsa Peretti fez para algumas amigas e para o estilista Halston estão entre as mais cobiçadas e difíceis de encontrar.
As grandes marcas também buscam suas próprias joias vintage. A Bulgari, por exemplo, adquire por ano cerca de 60 peças antigas para sua coleção parti- cular. Sob a orientação de sua curadora de patrimô- nio, Lucia Boscaini, elas são utilizadas para exposi- ções em museus, tapete vermelho e pesquisa da atual equipe criativa. Por meio de leilões e transações particulares, Lucia arremata itens que mais bem refletem a estética Bulgari – e joias criadas nos anos 1970 são seu alvo principal. “Elas representam muito o nosso estilo. Foi uma década de grande experimentação de temas e materiais, com inspirações que vão da pop art ao extremo oriente.”
A Bulgari tem boas razões para manter suas origens, mas outros colecionadores não precisam ficar presos a assinaturas. “Se você tem a chance de comprar algo que é bonito, completo, típico da época e tem uma assinatura, ótimo”, diz Daniela Mascetti, especialista em joias da Sotheby’s. Mas se têm um orçamento limitado, compre uma linda peça com um ótimo design. É o caso da designer Julie Simpson, colecionadora de peças dos anos 1960 e 1970. Ela conta que, no pas- sado, não havia tanta concorrência e os lances não eram altos.
“Consegui comprar alguns itens por menos do que valiam há 10 anos. Mas agora sabemos quem são os autores”, conta ela, dona de achados preciosos como um pingente multicolorido de David Webb e peças de Andrew Grima e Gilbert Albert, ambos conhecidos pelas criações ousadas e esculturais. “Gosto de coisas gran- des. Posso usar apenas uma peça para fazer a diferença e sei que nin- guém mais vai usar a mesma coisa porque é única, não se faz mais.” Ela tem razão e por isso o garimpo dessas preciosidades está em alta.