Onde o glamour nasceu
Da corte francesa ao ambiente efervescente dos Anos Loucos, como e por que Paris sedimentou o requinte.
Entre as primeiras manufaturas de luxo, os espelhos do Palácio de Versalhes eram feitos em uma fábrica real que depois tornou-se multinacional.
Exclusividade, sofistificação, bem viver são adjetivos que combinam com a capital francesa. Essa imagem fixada no imaginário coletivo foi construída há mais de três séculos. Desde o reinado de Luís XIV, a partir da segunda metade do século XVII, como relata a escritora Laurence Picot, autora do livro “Os Segredos do Luxo” (editora EPA) e do documentário “Invenção do luxo à francesa”, Paris passou a ser a cidade do glamour.
Até 1660, a França importava artigos nobres destinados ao rei e sua corte. No entanto, uma severa crise econômica afetou até mesmo a nobreza. A solução encontrada pelo rei Luís XIV e seu ministro Jean-Baptiste Colbert foi a criação de uma política de estado focada em transformar a França em produtora de luxo e inovação e assim movimentar a economia.
Cinco anos depois, surgiam as primeiras manufaturas de luxo em Paris de tecidos, porcelanas, tapetes, móveisourivesaria, entre outras. Para Picot, Paris foi erguida sobre o requinte.
Uma dessas fábricas reais, que se transformou na multinacional Saint- Gobain, produzia os espelhos (na época o produto mais caro que existia)do Palácio de Versalhes, residência dos reis franceses de 1682 a 1789, quando iniciou-se a Revolução Francesa.
A força do século XIX
O desenvolvimento transformou Paris, que foi a primeira cidade europeia a ter um sistema de iluminação pública e uma polícia municipal com delegacia, conta Picot em seu livro.
Graças a todos os incentivos governamentais, os produtos franceses superaram a concorrência e se tornaram os mais desejados. Os rituais da corte de Luis IV contribuíram ara difundir também a gastronomia, equiparada às artes. O poder das maisons francesas e sua influência na moda mundial começou com a rainha Maria Antonieta, que no final do século XVIII, já era um ícone da moda, inspirando outras cortes europeias. Sua costureira, Rose Bertin, foi a primeira estilista a difundir suas criações pelo continente, afirma Delphine Dion, professora da Escola Superior de Ciências Econômicas e Sociais de Paris (Essec).
O setor do luxo francês seguiu se expandindo no século XIX com a fundação de marcas como Louis Vuitton, Christophle, Cartier e Hermès. Grandes eventos, como as Exposições Universais, jogaram luz sobre a capital francesa. A Exposição Universal de 1889, brindada com inauguração da Torre Eiffel, consolidou o status de Paris como capital mundial do luxo.
Uma nova aceleração ocorreu no início do século 20, nos Anos Loucos. Paris se tornou o centro da vida cultural e noturna do mundo. A Belle Époque impulsionou escritores como Paul Valéry, Charles Baudelaire e Marguerite Duras, entre tantos.
O ambiente efervescente e o espírito livre permitiram a notoriedade de costureiros como Paul Poiret, Jeanne Lanvin, Madeleine Vionnet, Coco Chanel, e Elsa Schiaparelli, afirma a professora da Essec.
Coco Chanel personificou o luxo francês.