O mestre da madeira: Joaquim Tenreiro
Peças de Joaquim Tenreiro, o pai do móvel moderno brasileiro, ganham reedição pela Etel.
Joaquim Tenreiro, o pai do móvel moderno brasileiro. (Foto: Reprodução)
Da pequena província de Melo, em Portugal, ao reconhecimento de pai do móvel moderno brasileiro. Assim se deu a trajetória de Joaquim Tenreiro, amante da madeira, que herdou do pai e do avô a artesania portuguesa da marcenaria. Apesar da tradição lusitana, foi no Brasil que Tenreiro estudou desenho geométrico e alçou voos que o levaram a criar peças para o Palácio do Itamaraty e para a arquitetura residencial de Oscar Niemeyer.
Agora, seu mobiliário ganha nova vida em uma reedição inédita pela Etel Galeria, marca que tem sedes em São Paulo, Milão e Houston e já trouxe coleções de Lina Bo Bardi, Giuseppe Scapinelli e Estúdio Branco & Preto, entre outros grandes nomes do design. A primeira parte integra uma seleção de 30 peças, das quais cinco foram lançadas em outubro: as mesas circular, retangular e triangular, o sofá e a poltrona com mantas soltas. Para a curadoria da Etel, elas traduzem a percepção de artista de Joaquim Tenreiro e o colocam para além de um mestre da madeira. Por isso, a escolha em trazê-las na estreia.
“O móvel era um veículo para ele expressar sua arte. As mesas que lançamos agora trabalham a geometria, o colorismo e a composição do espaço. É um mobiliário de artista, com um olhar mais abstrato, de alguém à frente do seu tempo”, explica Lissa Carmona, CEO da galeria e criadora da metodologia que faz a Etel pioneira nas reedições.De fato, Joaquim Tenreiro desenhou peças ousadas e levou a madeira tropical ao extremo de sua modernização já nos anos 1940, época em que o comum nos projetos arquitetônicos eram os móveis franceses. É desse período a poltrona leve, sua criação que representa a síntese do design moderno brasileiro.
Mesa Retangular com acabamento em madeira imbuia e tampo de vidro pintado de vermelho.
“Ela é feita em estrutura de madeira única, bastante inovadora para o momento, uma obra icônica”, comenta Marcelo Tenreiro, neto de Joaquim e presidente-fundador do Instituto Tenreiro, responsável pela pesquisa e catalogação da obra e parceiro da Etel nesta reedição. “Ele era um artista nato, além do profundo conhecimento com a madeira, além do artesão, ele próprio fazia os desenhos, por isso as peças têm essa coisa tão particular, tão exclusiva delas”, completa Marcelo.
Preservando o legado de Tenreiro e a originalidade da linha, a reedição pela Etel é fiel ao projeto autoral, mantendo o design e a autenticidade dos móveis. As possíveis atualizações, como a escolha por uma madeira plantada, certificada e sustentável em detrimento do tradicional jacarandá, são autorizadas pelo Instituto, que detém o direito intelectual sobre a obra. Como parte do trabalho da galeria, todas as peças são numeradas, construindo um DNA com o nome do artesão que a fez, a data de criação do desenho e o ano da produção.
Primeira peça da reedição, lançada em Milão. Mesa Circular (criada em 1960) em madeira imbuia e tampo de vidro pintado de branco.
Assim, tem-se um rasteiro da peça e a garantia de sua autenticidade. “Estamos falando de algo que é original, não uma cópia. E, na Etel, temos como filosofia representar e preservar a memória do artista, nos interessa trazer a sua história, seu marco no design e na arte”, diz Lissa. Daí, o desenvolvimento de uma exposição que completou o projeto de reedição. Com curadoria de Ana Avelar e Jayme Vargas, “Tenreiro, contraponto construtivo: Intuição, cor e geometria” trouxe a maior reunião vintage e de peças antigas desde a última exposição do artista, feita na Pinacoteca de São Paulo, em 1999.
As obras ficaram hospedadas até dezembro, na Casa Zalszupin, residência do já falecido arquiteto e designer Jorge Zalszupin, hoje espaço cultural de arte e design idealizado por Lissa. Em um projeto que envolve a busca e catalogação de todos os móveis e desenhos, a coleção completa de Joaquim Tenreiro será disponibilizada a longo prazo pela Etel. Ainda não há previsão de quais serão as próximas peças selecionadas, apenas a certeza do resgate de uma obra precursora que tem na beleza da união da arte e da marcenaria seu fator de permanência.
Mesa Triangular (criada em 1960) com tampo de vidro pintado de preto e estrutura única de madeira imbuia.