MISCI transforma o Cine Marabá em palco de um filme-desfile que revisita o Brasil profundo
A estreia de “A Dama do Interior” costura cinema, memória e inovação têxtil em uma experiência que celebra o país através de imagens, texturas e gestos.
Desfile traduz uma moda autoral e emocional, comprometido com o Brasil real.
A MISCI ocupou o icônico Cine Marabá, no centro de São Paulo, para apresentar a coleção de Inverno 2026, “A Dama do Interior”. O cenário foi mais do que locação: inaugurado em 1944 e símbolo da Cinelândia Paulistana, o espaço ressurge como território cultural vivo — um gesto alinhado ao olhar da marca de revisitar lugares históricos e conectá-los a uma nova narrativa estética.
A apresentação extrapolou a lógica tradicional de desfile. Airon Martin, diretor criativo da MISCI, propôs um filme-desfile que bebe da fonte do cinema novo, evocando a força poética e a contundência visual que marcaram a produção brasileira nos anos 1960 e 1970. “A Dama do Interior” nasce dessa fusão: moda como linguagem audiovisual, crítica social e memória afetiva articuladas em uma narrativa expandida.
Gravado em 19 locações reais da Bahia — do Recôncavo ao Sertão —, o trailer que abre o desfile utiliza apenas luz natural e alterna planos estáticos com câmeras na mão, criando um híbrido entre documentário sensível e ficção. A escolha do Recôncavo reforça a ligação da MISCI com as raízes do cinema brasileiro e a preservação de sua memória. Cenas inspiradas em clássicos nacionais surgem como referências codificadas, rendendo uma homenagem silenciosa ao imaginário coletivo das telas.
O elenco, protagonizado por Débora Nascimento e Dan Ferreira, conduz o público por um Brasil plural, revelado por cores, texturas e paisagens que atravessam ancestralidade e modernidade. A finalização analógica — com ritmo, grão e textura de película — reforça o valor do gesto manual em tempos digitais. Como sintetiza a própria marca, “o verdadeiro luxo em uma sociedade digital é quando se pode retornar à essência e à origem”.
Ceyla Lacerda marca seu retorno às passarelas após anos afastada.
No desfile, a presença especial de Ceyla Lacerda marca seu retorno às passarelas após anos afastada. A ex-modelo brasileira, com carreira internacional em casas como Chanel, Dior, YSL e Kenzo, encarna o espírito dessa Dama do Interior contemporânea.
A coleção marca ainda uma colaboração inédita com o arquiteto Isay Weinfeld, que participa de todo o processo criativo. Seu olhar — que permeia obras como o Hotel Fasano, a Casa Cubo e o Edifício 360° — ecoa em peças co-criadas e produzidas com retalhos desfiados e reconstruídos no ateliê da MISCI. As criações exibem capas de organza, jogos de revelar e ocultar e um sobretudo especial em algodão brasileiro desenvolvido com a Innovativ.

O fazer manual segue como eixo central. Em parceria com o Instituto do Bordado Filé de Alagoas, liderado por Petrúcia Lopes, cinco peças foram desenvolvidas com técnicas tradicionais do bordado filé, ampliadas em novas proporções e paletas. O crochê manual também ganha novas versões em algodão encerado — aplicado em tops e calças com degradês — e em couro, que aparece em calças, sungas, biquínis e acessórios.
As estampas retomam protagonismo com criação de Isabel Moura, inspiradas na estética dos filmes antigos. A cartela de cores, vibrante, traz roxo, verde e laranja em contraste com o inverno anterior, evocando a geografia afetiva do interior e o clima sensível do cinema de época. Entre os acessórios, a MISCI apresenta bolsas de couro plissado, chaveiros, porta-moedas e peças feitas com materiais reaproveitados.
A inovação têxtil se consolida em parceria com Innovativ e Vicunha, destacando algodão brasileiro cultivado majoritariamente em sequeiro e certificados ABR, BCI e Sou de Algodão, além de jacquards exclusivos e o brim Pamplona, que adiciona fluidez e elegância às peças.

Sob direção de arte e set design de Nídia Aranha, styling de Renata Corrêa, beleza de Cris Biato e direção de desfile de Augusto Mariotti, “A Dama do Interior” afirma um projeto de moda autoral e emocional, comprometido com o Brasil real — onde roupa, imagem e gesto se tornam linguagem viva.
A narrativa se expande para além da sala de cinema. O patrocínio do Nubank Ultravioleta inaugura uma nova colaboração com Airon, desdobrada em uma viagem criativa a Paraty, cuja iconografia será revelada após o evento. A Heineken renova a parceria de quase seis anos e segue compondo a atmosfera dos encontros da MISCI. O Instituto Riachuelo retorna celebrando o fazer manual brasileiro, com um quadro colecionável criado por bordadeiras do Rio Grande do Norte, reativando a ponte iniciada na coleção Tieta.
No encontro entre cinema, artesanato, arquitetura e moda, a MISCI reafirma sua capacidade de transformar referências culturais brasileiras em experiências marcantes — e profundamente contemporâneas.