Arte e Coleções: A língua viva ressurge das cinzas
Seis anos após incêndio, Museu da Língua Portuguesa reabre em São Paulo, com espaços totalmente restaurados, exposições e conteúdo audiovisual adaptados tecnologicamente para evitar o toque e proporcionar novas experiências.
Museu da Língua Portuguesa reabre em São Paulo, com espaços totalmente restaurados.
“A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo”. Neste trecho de “A Descoberta do Mundo”, Clarice Lispector aponta uma das maiores características da Língua Portuguesa: sua complexidade. Não é difícil escutarmos que “é a língua mais difícil do mundo” ou que se “trata de uma língua viva” pelas inúmeras palavras que possui e que incorpora com frequência – sem contar aquelas que nem temos ideia, que existem. Fernando Pessoa resume: “Minha pátria é a Língua Portuguesa”.
De tão múltipla, heterogênea, variada e bela, ganhou um Museu só para ela. Inaugurado em 2006, o Museu da Língua Portuguesa - iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, concebido e realizado em parceria com a Fundação Roberto Marinho - foi construído na Estação da Luz, em São Paulo, com a intenção de valorizar sua diversidade e celebrá-la como elemento fundamental da cultura brasileira.
Desde então, o prédio histórico de 1902, tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e projetado por Paulo e Pedro Mendes da Rocha, recebeu mais de 3 milhões de pessoas e homenageou grandes escritores e poetas como Machado de Assis, Cora Coralina, Oswald de Andrade, Rubem Braga, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Gilberto Freyre, Agustina Bessa-Luís, Cazuza, além, é claro, de Fernando Pessoa e Clarice Lispector, em exposições temporárias até dezembro de 2015, quando teve que fechar suas portas por conta de um incêndio, que destruiu o segundo e o terceiro andares e causou a morte de um bombeiro civil.
A língua viva ressurge das cinzas.
Seis anos depois, em 31 de julho de 2021, o museu reabre após uma reforma de R$ 84 milhões, divididos entre a iniciativa privada, o Governo de São Paulo e a seguradora, e, pela primeira vez, conta com o alvará do corpo de bombeiros, o AVCB (Auto de Vistoria do Corpos de Bombeiros). Entre as novidades, a conexão direta com a Estação da Luz, ampliação de áreas e a abertura do mirante, na parte superior - onde está o relógio com vista para o Parque da Luz – um espaço totalmente reformado e transformado em café. Conhecido por abrigar exposições imersivas, que propõem interação das pessoas com as obras, o museu agora traz experiências e conteúdo audiovisual inéditos que, após passarem por adaptações tecnológicas, serão ativados por comando de voz no intuito de ampliar a acessibilidade dos frequentadores às obras antes interativas por meio de toque.
Na exposição permanente, destaque para os conteúdos “Línguas do Mundo”, com 20 das mais de 7 mil línguas faladas hoje no mundo; “Falares”, que ressalta os diferentes sotaques e expressões do idioma no Brasil; e “Nós da Língua Portuguesa”, que apresenta o português no mundo, com os laços, embaraços e diversidade cultural da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). As principais experiências são a instalação “Palavras Cruzadas”, que mostra as línguas que influenciaram o português no Brasil e a “Praça da Língua”, espécie de ‘planetário do idioma’ que homenageia a língua portuguesa escrita, falada e cantada, em um espetáculo imersivo de som e luz foram mantidas.
Na “Língua Solta”, exposição temporária que reabre o museu, uma relação entre obras de arte e a língua portuguesa com objetos de artistas como Arthur Bispo do Rosário, Leonilson, Rosângela Rennó, Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Marcelo Silveira, Vânia Mignone, Emmanuel Nassar e Jonathas de Andrade, que baseiam seus significados no uso das palavras. Os valores dos ingressos são R$ 10 e R$ 20. O museu é gratuito aos sábados.
O museu é gratuito aos sábados.