Cabines que parecem casas: a evolução da classe executiva rumo ao design residencial

Muito além do luxo material, companhias apostam em conforto sem ostentação.

A nova fronteira da classe executiva não chega em forma de caviar, garrafas de champagne raras ou portas deslizantes imponentes. O que se impõe agora é o luxo discreto — uma estética silenciosa, refinada e profundamente funcional. A experiência premium, antes marcada por grandes gestos, migra para um território mais próximo do design residencial, onde texturas, iluminação e ergonomia transmitem conforto sem ostentação.

Cathay Pacific aposta na personalização da experiência.

Foi em um voo recente na Suíte Aria, da Cathay Pacific, que essa tendência se revelou por completo. A luminária ajustável, digna de uma sala de estar mid-century, os materiais táteis e até a cama com lã de origem ética traduzem essa mudança. Cada detalhe, dos nichos que fecham em silêncio ao espaço de descanso, reforça o que descreve Cindy Lam, vice-presidente sênior da Cathay Pacific para as Américas: “Este é um espaço que se adapta às necessidades dos viajantes e transmite uma sensação de personalização sem esforço”.

Cathay não está sozinha. Companhias de diferentes regiões estão repensando suas cabines para torná-las verdadeiros santuários a bordo. Edmond Huot, diretor criativo da Forward Studio, resume esse movimento: “Os viajantes não esperam apenas privacidade, mas também uma experiência elegante e bem planejada. Deve ter um toque cerimonial”.

Qatar Airways apresenta a Qsuite Next Gen, capaz de se transformar em uma área social para quatro pessoas.

É o caso do novo Polaris Studio da United Airlines, que estreia nos Boeing 787-9 com suítes 25% maiores, portas de correr e espaço para desfrutar — a dois — de caviar osetra e champagne Laurent-Perrier Cuvée Rosé. Já a Qatar Airways leva a experiência para outro terreno com a Qsuite Next Gen, capaz de se transformar em uma área social para quatro pessoas, com telas OLED retráteis, mesas amplas e o serviço de arrumação “Make My Bed”.

Na Air France, o redesenho da cabine traz suítes revestidas em couro francês de flor integral e um espaço que rivaliza com a primeira classe de muitas concorrentes. O conforto se estende ao menu assinado pelo chef estrelado Daniel Boulud, disponível nos voos que partem dos EUA.

Riyadh Air apresentará uma cabine inspirada em tendas beduínas.

Prestigiando a estética artesanal, a Riyadh Air apresentará uma cabine inspirada em tendas beduínas, com paleta que vai do índigo ao dourado, detalhes em pedra, telas OLED 4K e divisórias altas de privacidade. “Queremos resgatar a elegância, a beleza e o charme”, explica Tony Douglas, CEO da companhia, evocando a sofisticação da era Pan Am, mas com um olhar contemporâneo.

A Turkish Airlines também reforça sua própria interpretação de exclusividade com as Suites Crystal Business Class: mármore, ouro rosa, couro e tecidos locais compõem o ambiente, enquanto o serviço de bordo, comandado por um chef, marca presença de forma quase teatral. Não à toa, o presidente Ahmet Bolat define a experiência como “incomparável acima das nuvens”.

A Turkish Airlines tem destaque na gastronomia, com o seu serviço de bordo comandado por um chef.

A 10.668 metros de altitude, o luxo da classe executiva tornou-se mais que um gesto de conforto: é uma estratégia. E a nova geração de cabines confirma que, no ar, o futuro é silencioso, extremamente bem pensado e profundamente sensorial.