Titãs em alto-mar: a nova era dos estaleiros familiares de iates

Líderes vindos da indústria e da tecnologia — Laurens Last (Heesen), Gabe Newell (Oceanco) e Richard Hadida (Oyster Yachts) — estão imprimindo uma visão contemporânea a marcas tradicionais, sem apagar o valor máximo do setor: o artesanato e a personalização absoluta.

77a4ef30-9d91-11ed-adc4-6b9603c28bdd-Cr_20Guillaume_20Plisson_20Oceanco_20HUma das grandes novidades da Oceanco.

Por décadas, o universo dos superiates foi guiado por estaleiros familiares que operavam como ateliês industriais: tradição transmitida de geração em geração, domínio de materiais e uma obsessão por detalhes que não se mede por planilhas. Mas, nos bastidores do luxo náutico, um novo tipo de proprietário vem redesenhando o mapa — e o movimento não tem cara de “investimento financeiro” puro e simples. São empresários com repertório em tecnologia, manufatura avançada e marcas premium, assumindo estaleiros históricos para acelerar inovação, ampliar serviços e sofisticar ainda mais a experiência do cliente.

Três nomes ilustram essa mudança com clareza.

Laurens Last e a Heesen: eficiência industrial a serviço do artesanal

A Heesen, um dos estaleiros holandeses mais respeitados na construção de iates a motor em alumínio e aço, ganhou em 2025 um novo controlador: Laurens Last, empreendedor e investidor holandês. 

A leitura do mercado é direta: quando alguém com mentalidade industrial assume um estaleiro de alto luxo, a promessa não é “padronizar” — é refinar processos para elevar consistência, previsibilidade de entrega e qualidade de acabamento sem sacrificar a essência artesanal que define a marca. É a lógica do “mais perfeito, não mais rápido”: usar método para preservar (e amplificar) o excepcional.

Gabe Newell e a Oceanco: tecnologia, cultura criativa e ambição de projeto

Quando Gabe Newell, cofundador da Valve, passa a ser associado à propriedade da Oceanco, a notícia chama atenção não só pelo nome, mas pelo simbolismo: um titã da tecnologia se aproximando de um dos construtores mais admirados do mundo em iates totalmente customizados.

O tom, aqui, é menos “reforma de gestão” e mais cultura de inovação: Newell sinaliza interesse em apoiar uma estrutura já vencedora, estimulando criatividade e soluções que empurrem limites técnicos e de design — algo muito próximo do que tornou lendária a mentalidade de produto no universo do software, agora transposta para o oceano. 

LLast__GNewell_RHadidaDa esquerda para a direita: Laurens Last, o novo proprietário da Heesen; Gabe Newell, da Oceanco; e Richard Hadida, que supervisionou o renascimento da Oyster Yachts.

Richard Hadida e a Oyster Yachts: o renascimento de um ícone da vela

No polo da vela de longo curso, Richard Hadida é o nome por trás de um dos retornos mais comentados do segmento: a reestruturação e o renascimento da Oyster Yachts, que ele adquiriu em 2018 e desde então reposiciona com foco em excelência de construção, serviço e valor de marca. 

O caso Oyster é a prova de que luxo, muitas vezes, é continuidade: manter a identidade de um estaleiro clássico — e, ao mesmo tempo, atualizar processos, portfólio e suporte ao proprietário para que a experiência de possuir um iate seja tão impecável quanto navegar nele. 

O que essa virada realmente significa para o mercado de superiates

Há um fio condutor unindo esses movimentos: o luxo náutico está deixando de ser apenas “produto” e virando ecossistema. Proprietários ultrarricos não querem somente uma embarcação impecável; querem ciclo de vida completo — manutenção, retrofit, suporte global, atualização tecnológica, personalização sem atrito e uma marca que os acompanhe por décadas.

E é justamente aí que a entrada de perfis como Last, Newell e Hadida faz diferença. Eles trazem capital, sim, mas principalmente método, visão e linguagem contemporânea para um setor em que tradição é patrimônio — e inovação, quando bem-feita, vira o novo requisito de exclusividade.

Reportagem original: How Industry Titans Are Bringing a Fresh Perspective to Family-Owned Shipyards