Paula Lindenberg, CEO da Diageo: 'a maior oportunidade de crescimento na indústria de bebidas é o público feminino'

Executiva construiu sua carreira em marketing em diversas empresas de consumo até se dedicar ao setor de bebidas, assumindo inclusive posições de destaque nos EUA, na Europa e América do Sul.

Foto Paula Lindenberg_Presidente da Diageo BrasilPaula Lindenberg, CEO da Diageo, fala sobre a importância de abrir oportunidades para mulheres no setor. (Foto: Divulgação)

No setor de bebidas, as mulheres apresentam menor penetração e frequência de consumo comparadas aos homens. Portanto, ter mulheres nas companhias, entendendo suas necessidades, desenvolvendo inovações e tomando decisões é fundamental. Na Diageo, por exemplo, 56% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres.

“Estamos trabalhando para fomentar a inclusão feminina em toda a nossa cadeia. Utilizamos a força das nossas marcas para dialogar com esse público. Um exemplo recente é a campanha ‘Forte São Elas’, da Johnnie Walker, que desafia o mito de que whisky é forte demais para as mulheres, invertendo essa lógica e demonstrando que quem tem força são elas”, detalha Paula Lindenberg, CEO da Diageo.

Quebrando barreiras

Paula Lindenberg construiu sua carreira em marketing e insights em diversas empresas de consumo até se dedicar ao setor de bebidas, assumindo inclusive posições de destaque nos EUA, na Europa e América do Sul. Depois de quase 20 anos no mercado cervejeiro, ingressou na Diageo em 2019, onde tem capitaneado diferentes frentes de inovação e produtividade para consolidar a empresa na liderança do mercado de destilados no Brasil.

“Pessoalmente, trabalho diariamente para abrir espaços onde as mulheres se sintam representadas. Seja ocupando posições de liderança ou usando o poder das marcas que tenho o privilégio de liderar para promover representatividade e inclusão. Claro que os desafios de confrontar um legado tradicional de consumo são imensos, mas as oportunidades que os acompanham são ainda maiores”, pontua a liderança.

Para Paula, a maior oportunidade de crescimento na indústria de bebidas é o público feminino. Nesta entrevista, a executiva fala sobre sua trajetória e suas realizações e planos à frente da companhia.

O que mudou no setor e no consumidor brasileiro nos últimos anos?

 A mudança mais significativa, do ponto de vista de consumo, é a tendência crescente na busca por produtos premium que entreguem maior valor agregado, elevem a experiência e atendam ao gosto do consumidor. A coquetelaria acompanha esse movimento, tornando-se mais criativa com coquetéis exclusivos e ambientes preparados para diferentes ocasiões de consumo. Nós temos impulsionado essas tendências lançando produtos inovadores, como o Tanqueray Bossa Nova, um gin que traduz o paladar brasileiro, ou o Johnnie Walker Blonde, perfeito para drinks. Além disso, há uma crescente demanda por conveniência, com consumidores buscando drinks prontos para beber.

Quais as principais ações e iniciativas da empresa para se aproximar do cliente B2B, bares, restaurantes e hotéis?

Nós buscamos inovar nos formatos de parcerias e estamos comprometidos com o desenvolvimento da indústria e da profissão de bartender por meio de diferentes projetos. O Diageo Bar Academy (DBA) é um renomado programa de capacitação para bares e restaurantes, promovido pela Diageo em mais de 130 países. Desde 2018, já capacitou mais de 85 mil profissionais no Brasil, tornando-se referência no setor de hospitalidade. Já com o Learning for Life, nosso programa de formação profissional de bartenders, capacitamos pessoas para atuar no setor de coquetelaria e hospitalidade, já tendo impactado mais de 31 mil alunos no Brasil desde 2000. Recentemente, formamos duas turmas no Rio de Janeiro em parceria com Smirnoff voltado à comunidade LGBTQIA+. Outra ação que movimenta a indústria é o Cocktail Festival, que tem como objetivo promover experiências únicas através da alta coquetelaria de uma forma mais acessível nos bares de todo o País.

Do ponto de vista dos lançamentos e novidades Diageo, quais as principais tendências do mercado neste momento?

Sabemos que, atualmente, o consumidor quer beber melhor e prioriza a qualidade sobre a quantidade. Um dado que comprova essa tendência é que, nos últimos dez anos, o consumo em valor de marcas premium cresceu 20%, enquanto o de marcas mainstream cresceu 7%. Essa preferência tem sido crescente nas categorias de vodca, gim e whisky. A tequila também está crescendo bastante nos EUA e na Europa, especialmente as tequilas premium, consumidas em coquetéis ao invés de shots. Temos a oportunidade de trazer essa tendência para o Brasil com Don Julio. Além disso, a categoria "ready to drink" (pronto para beber) está em expansão no país devido à sua acessibilidade tanto em termos de preço quanto de conveniência.

Como a empresa atua no universo de consumo digital? Quais as principais parcerias?

A presença das marcas no ambiente digital deixou de ser um posicionamento opcional e se tornou essencial. A Diageo percebeu essa transformação e se adaptou a essa nova realidade. Temos a nossa própria plataforma de e-commerce de bebidas, o The Bar, que passou por uma atualização significativa no último ano para se alinhar às novas tendências. Antes focado apenas em vendas, o site agora se transformou em uma plataforma de serviços e experiências exclusivas. O objetivo dessa reformulação foi fomentar a educação sobre coquetelaria, posicioná-lo como uma referência no universo dos destilados.

Qual a importância de suas experiências profissionais nos EUA, na Europa e América do Sul antes de voltar ao Brasil para liderar a gigante de bebidas em 2019?

Viver nos EUA e na Europa oferece a oportunidade de vivenciar um pouco do futuro. Nestes países, com maior renda per capita, é possível observar as escolhas dos consumidores quando dispõem de mais renda disponível. Nesses mercados, o consumo de bebidas alcoólicas está se tornando mais premium, e é aí que os destilados ganham relevância, pois elevam as ocasiões de consumo. Nos EUA, por exemplo, os destilados já superam a cerveja em popularidade.

A crescente importância das práticas ESG também destaca a necessidade de investimentos nessa área. Alguns clientes na Europa, por exemplo, não listam mais produtos que utilizam plástico em suas embalagens. A experiência em outros países nos força a desenvolver habilidades como flexibilidade, adaptação e atenção às culturas e necessidades locais. A capacidade de reconhecer o que o consumidor local busca e o que é importante para nossos parceiros nos ensina a desenvolver estratégias que criem valor para todos os elos da cadeia, tornando-a mais sustentável. O Brasil é um país de dimensões continentais, com culturas e hábitos de consumo que variam consideravelmente de uma região para outra. Isso torna a adaptação e compreensão do mercado um desafio único e delicioso.