Para pessoas trans, emprego formal é apenas a primeira barreira do mercado
Lidar com a discriminação no ambiente de trabalho ainda é uma realidade para esses profissionais.
Alan Marini, consultor de sustentabilidade e mudança climática da EY Brasil, fala sobre os desafios para inserção de pessoas trans no mercado (Foto: Divulgação)
As pessoas trans enfrentam muitas dificuldades para inserção no mercado de trabalho formal. No estado de São Paulo, apenas 13,9% das mulheres trans e travestis têm um emprego formal, de acordo com levantamento da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Entre os homens trans, a porcentagem sobe para 59,4%. A primeira barreira é encontrar um emprego, mas, para quem consegue, há outra que vem na sequência: a discriminação no ambiente de trabalho causada pela falta de uma política interna que promova a diversidade. Outra pesquisa, desta vez da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), aponta que 88% das pessoas trans entrevistadas não acreditam que as empresas estejam preparadas para contratar ou garantir a permanência de profissionais transexuais.
Na semana do Dia Internacional da Visibilidade Trans, celebrado anualmente em 31 de março, conversamos com o homem transgênero Alan Marini, consultor de sustentabilidade e mudança climática da EY Brasil, que abordou essas e tantas outras barreiras que prejudicam o dia a dia e o bem-estar social das pessoas trans no país.
1) O que significa para você o Dia Internacional da Visibilidade Trans?
ALAN: Essa é uma data muito relevante e, como o próprio nome diz, um dia de visibilidade para aumentar a conscientização e sensibilização sobre as dificuldades enfrentadas por nossa comunidade. O Brasil é o país que mais mata no mundo pessoas trans, que têm uma expectativa de vida de apenas 35 anos, de acordo com a Antra. Nossa sociedade precisa refletir como mudar essa situação, especialmente as questões que enfrentamos no dia a dia, como discriminação e violência.
O dia 31 de março, voltado para a visibilidade trans, é sobre falar de pertencimento, de mostrar que, apesar de todas as situações que vivemos, nós estamos aqui. Pedimos respeito de todos, direitos iguais e oportunidades de existir.
2) Quais são as pautas mais importantes para a visibilidade das pessoas trans?
ALAN: Infelizmente, ainda precisamos lutar essa luta diariamente para conseguir até mesmo o básico, mas eu diria que garantia de proteção contra violência e contra assédio, além de acesso à saúde básica, enfim, contar com um sistema que nos atenda e nos entenda em nossa singularidade. É pelo essencial que começamos. E não pode faltar o direito de sermos incluídos nos ambientes escolares, universitários e de trabalho.
3) Como você vê a questão do mercado de trabalho?
ALAN: Vejo como um ponto crítico que vem como decorrência de outras situações. Essa população é marcada por violência e dificuldades que começam muitas vezes com a expulsão da própria casa, além da evasão escolar e consequente dificuldade de inserção no mercado de trabalho formal.
Quando a pessoa trans consegue emprego formal, passa por outras dificuldades, como discriminação até mesmo em relação ao acesso ao banheiro. Vi estatística recente indicando que 90% da população trans recorre à prostituição devido à dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. A realidade é que, uma vez que a entrada no mercado de trabalho formal é muito difícil por causa principalmente da discriminação, essa população acaba exposta a uma série de dificuldades na vida. É importante que as empresas pensem na trajetória dessas pessoas, em todas as dificuldades passadas, para promover a inclusão nas práticas de recrutamento e retenção de profissionais.
4) De que forma a TransEmpregos auxiliou você a encontrar uma oportunidade?
ALAN: Entrei aqui na EY por meio de uma vaga divulgada pela TransEmpregos, uma plataforma fundada por pessoas trans que busca a conscientização e defesa dos nossos direitos no mercado de trabalho, reunindo oportunidades de empresas amigáveis a nós. Na época, estava buscando uma mudança de área e tinha muito receio de aplicar para uma vaga que me sujeitasse a passar por situações de violência, de discriminação. Por isso, optei por recorrer às vagas da TransEmpregos, que dão tranquilidade nesse sentido porque a empresa ofertante está alinhada com a pauta de diversidade da plataforma. Gosto muito de acompanhar esse projeto de empregabilidade e perceber o quanto está crescendo.
Fonte: Agência EY