Aline Carvalho: Em um mundo de constantes transformações, como pessoas e organizações se adaptam à nova era do trabalho? Cultura organizacional é a resposta
Aline Carvalho, Gerente Executiva de Gente e Gestão da Norsul, lidera processo de transformação cultural na empresa e aponta insights da nova realidade no mercado .
Aline Carvalho, Gerente Executiva de Gente e Gestão da Norsul. (Foto: Divulgação)
A mudança do mundo impõe novos cenários às empresas de todos os setores da sociedade. Dada a velocidade e alcance dessas transformações, é preciso olhar para o futuro e desenvolver a adaptabilidade. “Isso afeta diretamente a forma como as empresas se organizam, seus processos e, claro, o que se espera dos profissionais no mercado. É por isso que as empresas do amanhã estimulam o protagonismo e colocam o aprendizado como responsabilidade de todos os colaboradores”, aponta Aline Carvalho, Gerente Executiva de Gente e Gestão da Norsul, empresa de navegação e logística integrada, que completa 60 anos em 2023.
Aline é responsável pelo projeto de transformação cultural da empresa, que tem a ambição de apoiar o crescimento e a expansão da companhia e, acima de tudo, a missão de perpetuar o grande legado do fundador, Erling Lorentzen. “Há alguns anos, nós priorizamos como estratégia a concentração de energia e recursos, tanto na discussão para o alinhamento de valores, como em jornadas de desenvolvimento para nossos colaboradores”, conta ela.
A executiva explica que, geralmente, capacitações ou treinamentos são ações pontuais para atender uma demanda do presente - envolvem uma aprendizagem focada em algum conhecimento técnico, metodologia ou até comportamentos que precisem ser renovados ou adquiridos. Por outro lado, as jornadas de desenvolvimento buscam trabalhar o autoconhecimento, as capacidades reflexiva e de aprendizado contínuo a partir da tomada de consciência de crenças, medos e ambições do indivíduo. O processo costuma levar mais tempo e é mais denso, mas leva a transformações pessoais e coletivas mais genuínas e consistentes.
No modelo tido como tradicional, as mudanças ocorrem no sistema top down, ou seja, vindo da alta liderança para os colaboradores. Hoje, o mecanismo de mudança bottom up, de baixo para cima, é uma alternativa singular para garantir uma efetiva transformação cultural nas empresas porque ela dá voz ativa aqueles que, literalmente, fazem acontecer. “Transformar a partir dos colaboradores permite escutar necessidades, inspira reflexões e propõe soluções aos desafios a partir de quem os vivência. Aqui na Norsul, começamos a mudança pela base da organização e fomos, passo a passo, influenciando os gestores e mobilizando-os para a realização e disseminação dessa mudança”, explica Aline.
Segundo a especialista, as pessoas também experimentam processos de metamorfose a partir das mudanças externas. Assim, são desafiadas a acompanhar essa renovação olhando para si e descobrindo onde estão seus valores, paixão, missão e chegando, por fim, na carreira que gostariam de ter. A relação do indivíduo com o trabalho chega a um novo patamar, onde são provocados a questionarem se realmente trabalham com algo prazeroso e de valor. É aí que entra o papel da organização em facilitar o desenvolvimento de talentos individuais e viabilizar que a pessoa certa esteja no lugar certo e no momento certo.
“O desafio da mudança é saber quem a quer e quem está disposto a mudar, duas coisas completamente distintas. Poucas são as pessoas, de fato, dedicadas a olhar para si, refletir sobre crenças e hábitos, e agir para melhorar. A maioria quer ver a transformação ao redor, mas não quer modificar a si mesma, tampouco está disposta a se responsabilizar por esse processo”, ressalta Aline.
Em um contexto de mudanças contínuas e imprevisíveis, a cultura é a estratégia
A cultura organizacional é parte fundamental da adaptabilidade que os novos tempos demandam. Ela representa o conjunto de padrões de comportamento encorajados ou permitidos pelos seus sistemas, mecanismos de controle e símbolos, que vivem em permanente evolução a partir dos valores e crenças dos colaboradores do passado e do presente.
Na busca por traduzir as transformações e colocá-las a favor do negócio, a cultura é o centro da estratégia para diferenciação junto ao mercado - ao final do dia, é ela que torna uma empresa única em sua atuação. Aline aponta que, “para chegar a esse resultado, é preciso atuar em cinco dimensões: num propósito visionário e não comercial; num processo ágil, não linear; no desenvolvimento de pessoas que aprendem e criam e não apenas gerenciam; na oferta de produtos ou serviços pensados para evoluir e não para durar; que se tornem plataforma para o mundo, não apenas para a empresa”.
Empresas com culturas fortes e adaptativas, baseadas em valores compartilhados e que se importam com todos os stakeholders, cresceram quatro vezes mais rápido. Além disso, tinham taxas de criação de empregos sete vezes mais altas e preços de ações aumentando 12 vezes mais rápido, com proporção entre desempenho e lucro 750 vezes maior. “É por isso que o capital cultural é a nova fronteira da vantagem competitiva. Organizações não se transformam por si só, são as pessoas que fazem a mudança acontecer”, destaca Aline.
Essa transformação se aplica a todos os setores?
Para Aline, qualquer empresa pode estruturar e desenvolver uma cultura forte, que esteja em linha com seu propósito. A cultura desempenha um papel vital por ser um viabilizador poderoso, que influencia o comportamento dos colaboradores, molda a identidade da organização e vai além dos muros da empresa. “Uma cultura forte e positiva cultiva um ambiente de trabalho próspero, atrai pessoas alinhadas aos valores, promove a inovação e constrói uma marca de credibilidade, contribuindo para o sucesso a longo prazo e o crescimento sustentável das empresas”, finaliza.