Luana Génot: 'A desigualdade racial no mercado de trabalho é um fenômeno estrutural que requer ação imediata e coordenada'
Cresce o reconhecimento da importância da diversidade racial e inclusão no mundo corporativo.
Luana Génot, fundadora e diretora do Instituto Identidades do Brasil. (Foto: Divulgação)
A representatividade não apenas oferece oportunidades econômicas para indivíduos, mas também enriquece o ambiente de trabalho ao trazer perspectivas diversas, promovendo a inovação e a tomada de decisões mais equilibrada. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56,1% dos brasileiros se declaram negros, mas são poucos os que ocupam cargos de decisão.
O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), organização sem fins lucrativos, comprometida em acelerar a promoção da igualdade racial, realizou um estudo para evidenciar as desigualdades no mercado de trabalho brasileiro, resultando na previsão sobre quando a igualdade racial poderá ser alcançada, caso as políticas governamentais e as ações das empresas não sejam aceleradas. A estimativa apontou que o cenário do mercado de trabalho do Brasil só deve se tornar mais igualitário por volta de 2190. Isso significa que levará 167 anos, a partir de 2023, para que a oportunidade entre pessoas negras e brancas se equilibre.
“A desigualdade racial persistente no mercado de trabalho brasileiro é um fenômeno estrutural que requer ação imediata e coordenada", afirma Luana Génot, fundadora e diretora do Instituto Identidades do Brasil. "Este estudo não apenas destaca a urgência de abordar essa disparidade, mas também reforça o papel fundamental das práticas de D&I (Diversidade e Inclusão) para criar uma sociedade mais equitativa e ajudar as organizações a atingirem seus objetivos estratégicos". Por isso, o mercado de D&I é identificado como um setor de rápido crescimento, atingindo US$ 9 bilhões em 2023 e projetando alcançar US$ 24,3 bilhões em 2030.
Soluções
Ivan Lima, presidente do LIDE Equidade Racial, destaca que é fundamental colocar a equidade racial como tema central. Para isso, o Canal Equidade, uma iniciativa do LIDE em parceria com a Fundação Toyota, tem sido um espaço importante para estimular o diálogo sobre o tema nas organizações brasileiras. Por meio de histórias inspiradoras, Lima apresenta oportunidades de desenvolvimento social e cases empresariais.
“É preciso reduzir as desigualdades e fazer o letramento racial nas empresas. O grande objetivo do LIDE é elevar a presença negra nas empresas, tanto no âmbito da empregabilidade como no universo do empreendedorismo, além disso, já somos curadores dessa temática no mercado por meio de nosso Canal. Precisamos que o ambiente da sustentabilidade corporativa, ou seja, o ambiente de negócios, reflita a realidade étnica e cultura da população brasileira”.
Novas pontes
O especialista em ética, diversidade, equidade e inclusão, e CEO da Condurú Consultoria, Deives Rezende Filho, explica que a indústria do entretenimento é uma maneira poderosa de promover a representatividade negra.
"A representatividade negra transcende a mera inclusão visual. Desempenha um papel fundamental na construção de sociedades mais justas e igualitárias. Ao verem pessoas negras ocupando posições de destaque na mídia, no mundo corporativo, na política e em outros campos, pessoas negras se sentem inspiradas e capazes de alcançar seus próprios objetivos.
Além disso, essa representatividade desafia estereótipos prejudiciais e promove uma visão mais precisa e diversa das contribuições da comunidade negra à sociedade. Somente desta forma conseguimos construir pontes para a compreensão mútua e a valorização da diversidade, promovendo um ambiente mais inclusivo e enriquecedor para todos", diz.
Para o especialista, programas de D&I são alguns dos passos que as empresas têm adotado para melhorar a representatividade negra. “Ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que todos tenham igualdade de condições no mercado de trabalho, independente de sua raça ou origem étnica. A representatividade é essencial na busca por equidade e justiça", finaliza.
Impacto
A Diáspora Black, startup líder em promover conhecimento sobre cultura negra, pretende treinar, até o fim de 2023, cerca de 20 mil colaboradores em suas trilhas de diversidade, equidade e atendimento inclusivo. A empresa, que possui soluções de vivências corporativas que resgatam e fortalecem a herança do DNA preto por treinamentos gamificados on-line, oficinas, palestras, consultorias e logísticas de viagens, possui metodologias afrocentradas que promovem a equidade racial.
“Criamos a Diáspora Black por causa de experiências racistas que já vivemos. A primeira solução da empresa foi de hospedagem e afroturismo, porque, no passado, eu sempre alugava um quarto no meu apartamento para viajantes e, quando hospedados, custavam a acreditar que um homem preto era o dono do lugar. Atualmente, além dessa vertente, expandimos nossa atuação para soluções de vivências corporativas que proporcionam disrupção para a cultura interna das empresas que buscam focar na sua diversidade”, comenta Carlos Humberto, CEO e confundador.
Tendência
De acordo com o último estudo da Ace Córtex, o Brasil conta com 343 startups focadas em soluções relacionadas às práticas ESG, das quais 130 são negócios com impacto social. Dado que vai de encontro com a expansão que a Diáspora Black busca para o ano de 2024: ampliar a atuação para novos mercados na América Latina e nos Estados Unidos, incorporando o pilar “S” do ESG para as organizações.