Inteligência artificial generativa tem potencial de transformar o departamento fiscal das empresas
Adoção dessa tecnologia pode reduzir o tempo gasto pelas empresas – mais de 1,5 mil horas anuais – na conformidade com as regras tributárias.
Denis Balaguer, líder de inovação da EY. (Foto: Divulgação)
A inteligência artificial generativa tem potencial de transformar o departamento fiscal das empresas, que está imerso em uma série de atividades repetitivas que demandam muito tempo dos seus profissionais. O excesso dessas obrigações, aliás, tem feito com que as empresas se planejem para investir em média US$ 3,6 milhões em tecnologia nos próximos três anos, conforme demonstrou estudo da EY. No Brasil, as empresas gastam R$ 67 bilhões por ano para cálculo e pagamento de tributos sobre o consumo, de acordo com levantamento recente do Movimento Brasil Competitivo (MBC) a partir de números da EY e da Endeavor.
Esse valor considera as 1.501 horas anuais consumidas em média por esse trabalho. A expectativa em uma perspectiva conservadora é que, com a reforma tributária, essa dedicação ao cálculo e pagamento de tributos caia 600 horas, trazendo uma economia de R$ 28,1 bilhões. A IA generativa tem potencial de reduzir ainda mais esse tempo, trazendo ganho de velocidade no atendimento das inúmeras obrigações tributárias principais e acessórias aplicáveis às organizações, independentemente do seu setor de atuação.
Essa agilidade trazida pela tecnologia vai possibilitar que os profissionais de Tax possam se dedicar a capturar e explorar os dados tributários para viabilizar economia e inovação para as empresas. Com mais tempo disponível, eles poderão fazer com que a área ocupe papel de protagonismo, antecipando tendências de negócios para a empresa como um todo.
"A inovação existe para transformar uma proposta de valor de duas formas: ou diminuindo os custos associados para fazer uma tarefa, como tempo e esforço, ou criando oportunidade totalmente nova de captura de valor", explica Denis Balaguer, líder de inovação da EY. "A generativa é um tipo específico de IA que atua com volume elevado de dados para fazer uma análise estatística das palavras, entendendo a correlação entre elas, para, na sequência, criar textos", completa.
Esse conteúdo pode ser direcionado para uma finalidade tributária, como a solicitação de um benefício fiscal. A chamada Lei do Bem (11.196/2005) concede incentivos fiscais às pessoas jurídicas que realizam pesquisa e desenvolvimento de inovação tecnológica. Considerada o principal instrumento de estímulo às atividades de PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) nas empresas brasileiras, a legislação exige que seja feito o detalhamento desses investimentos para receber o incentivo.
"Temos utilizado a IA generativa desenvolvida pela EY para, a partir da entrevista que nosso analista faz com o cliente, promover o preenchimento do formulário referente à Lei do Bem. A tecnologia foi treinada para entender os requisitos exigidos pelo governo, incluindo as informações que devem ser mencionadas", diz Giovanni Schiavone, sócio-líder da EY para Tax Transformation no Brasil, que apresentou essa solução no evento “Gen AI para Tax” realizado pela EY no começo de dezembro. "O resultado é ganho de produtividade, permitindo à nossa equipe se concentrar na obtenção de insights de negócio a partir dos dados tributários".
IA generativa integrada ao SPED
O passo seguinte do uso da IA generativa é gerar inteligência para as empresas a partir da análise do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital), da Receita Federal e dos órgãos fazendários estaduais, que reúne informações fiscais sobre ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
"Há uma série de dados sobre a natureza do negócio da empresa, como de quem comprou mais e qual fornecedor é mais barato. Caso sejam bem trabalhados, esses dados podem trazer insights para os negócios, permitindo a eles escolher o fornecedor de menor custo, e não de menor preço. É muito comum que os fornecedores sejam escolhidos somente pelo preço praticado, sem a verificação se, de fato, eles oferecem o menor custo, o que só pode ocorrer se forem verificados os aspectos tributários de cada operação”, diz Schiavone. "Outro aspecto que pode ser apontado pela IA generativa é se a empresa não tomou crédito em alguma operação. Como são muitas notas fiscais, isso pode não ser identificado pelo olho humano. Já criamos uma IA generativa integrada ao SPED e devemos passar a usá-la em breve no dia a dia".
Os dados tributários podem influenciar inclusive a estratégia como um todo do negócio. “Os insights podem ajudar as empresas a definir melhor a localização ideal para sua fábrica ou centro de distribuição; auxiliar no redesenho da malha logística de forma integrada com a tributação aplicável a cada local; e até mesmo contribuir para o reposicionamento da marca”, afirma Waine Peron, sócio-líder de impostos da EY Brasil. Ainda segundo o executivo, essa tecnologia aliada ao Tax ajuda a simular situações distintas da atual para analisar novos cenários mais favoráveis financeiramente às empresas. “O ser humano sozinho levaria muito mais tempo para fazer algo semelhante, considerando o volume imenso de dados disponíveis”.
CEOs estão atentos
Essa percepção sobre o aumento da produtividade dos negócios foi identificada em estudo recente da EY com 1,2 mil CEOs em todo o mundo, que veem enormes oportunidades na utilização da IA por suas empresas. Mais de seis em cada dez (65%) concordam ou concordam parcialmente que a IA é positiva, impulsionando a eficiência das organizações e criando dessa forma resultados positivos para toda a sociedade.
"A generativa é o tipo de IA que permite observar com clareza essas oportunidades. Para construir dinâmica no tributário parecida com essa que estamos descrevendo, seria, no passado, necessário contar com profissionais entendedores da linguagem de programação. Agora, para obter esses avanços em termos de agilidade da conformidade tributária e uso desses dados para inteligência de negócio, é possível demandar tarefas do computador em linguagem natural, sem precisar de qualquer conhecimento de programação", finaliza Balaguer.