Ida Beatriz Machado: Temos uma quantidade de vegetação nativa de grande importância e com alto valor

Modelo de desenvolvimento, o bioma tira proveito de sua biodiversidade para alavancar o turismo sustentável e o agronegócio consciente.

Caiman_Projeto Onçafari_Onçafari Project_FCEquipe do projeto Onçafari potencializam a unem entre turismo e meio ambiente (Foto: Divulgação)

Um dos característicos biomas do país, o Pantanal, possui característica singular: aproxi- madamente 95% de seus 150 mil quilômetros quadrados de área são formados por propriedades privadas - grandes fazendas, por exemplo. No Brasil, é dessas terras particulares que predominam na região, que vem parte da proteção que a maior planície alagável do mundo necessita – concentrada, em sua maior parte, no estado do Mato Grosso do Sul (65%), seguido do Mato Grosso (35%), estendendo-se a outros países, como Bolívia e Paraguai. 

“A ideia inicial, quando criei nosso refúgio ecológico, há 36 anos, era testar um modelo que destacas-se a beleza do Pantanal, sua biodiversidade e cultura. Uma outra forma de pensar, que ia além da pecuária extensiva de gado de corte, tão comum na região”, relembra Roberto Klabin, fundador do Caiman, sofisticado hotel no município de Miranda, em Mato Gros- so do Sul. “Assim nasceu um modelo que buscava a convivência e o equilíbrio entre três atividades dis- tintas, mas complementares. Além da pecuária de corte, que já existia na fazenda, decidimos incluir o turismo de observação de fauna silvestre e os proje- tos de refaunação”, complementa.

Klabin (Divulgação)Roberto Klabin, fundador do Caiman, empreendimento sustentável localizado nono município de Miranda, em Mato Grosso do Sul. (Foto: Divulgação)

No início do século 20, a propriedade onde hoje está situado o Caiman, era uma fazenda de criação de gado tradicional. Só em 1985 é que ganhou as características que atualmente atraem turistas de várias partes do mundo. “A pecuária se beneficiou principalmente do ecoturismo, pois graças ao hotel, construído na propriedade, surgiu uma oferta de empregos. As mulheres, que antes praticamente não encontravam ofício na fazenda, foram as maiores beneficiadas. Com isso, as famílias passaram a ter mais renda, além de ganharem oportunidades de trabalho também para seus filhos”, diz.

Já os projetos de refaunação apoiados pelo hotel, como o Instituto Arara Azul, o Projeto Papagaio Verdadeiro e o Onçafari, beneficiaram-se do fato de a fazenda ser rica em biodiversidade, sendo perfeita para a realização de pesquisas e estudos científicos. Os passeios são agendados com antecedência e os valores doados pelos turistas são destinados diretamente para os projetos. “Hoje, esse modelo funciona e atrai cada vez mais visitantes”. Para o empresário, o ecoturismo e o hotel aproveitou a beleza e a biodiversidade do local, acrescentando a cultura pantaneira ao dia a dia dos hóspedes, seja pela música, pelo vestir dos peões que cuidam do gado ou pelo seu lidar com a natureza.

Mais vida

piuval_0909Pousada Piuval, na cidade de Poconé, em Mato Grosso, é um dos lugares que juntam turismo com o contato com a natureza (Foto: Divulgação)

A Pousada Piuval, na cidade de Poconé, em Mato Grosso, é outro empreendimento voltado à preservação e bem-estar turístico. “Sempre nos interessamos por preservação e já contávamos com o Jaguar Identification Project no trabalho de catalogar os animais desde 2017, mas decidimos nos aprofundar nestas ações e agora contamos com um membro da instituição dentro da propriedade, pois aqui é um dos poucos lugares do norte do Pantanal onde as onças podem ser avistadas com facilidade” explica Eduardo Eubank, diretor da pousada.

A iniciativa estuda o comportamento das onças, contribuindo para a preservação da espécie e, como consequência, colabora com o turismo. “Pessoas do mundo todo vem ao Pantanal dispostas a ver esses felinos, o que é muito bom para a economia local e empregabilidade da população da região”, afirma. Como forma de contribuir com o projeto, a pousada hospeda em suas dependências o biólogo Paul Radd. “Aceitei o desafio pois defendo a causa de cuidado com a nossa fauna e gosto do equilíbrio com o ecossistema que existe aqui na pousada, que é uma fazenda com gados e, mesmo assim, as demais espécies circulam tranquilamente pela propriedade sem serem agredidas”, afirma o pesquisador.

O Jaguar identification Project atua no norte do Pantanal desde 2013. A organização, sem fins lucrativos, utiliza a ciência cidadã para construir um banco de dados sobre onças-pintadas através de imagens de câmeras instaladas em pontos estratégicos, que monitoram a abundância populacional e densidade. Eles também colhem o material fecal da onça, para estudo em laboratório. Já foram catalogadas 2.095 onças na região e na pousada há 12 delas sendo monitoradas.

Proteção dos biomas

IMG_2790A ciência e o ecoturismos são formas de proteger as onças, porém é necessário mais incentivos não só dos turistas, mas também de empresas brasileiras. (Foto: Divulgação)

A Advocacia-Geral da União (AGU) instituiu um grupo de 27 advogados para atuar prioritariamente em ações para a reparação de danos ambientais e à punição de infratores. O intuito é ampliar o leque de atuações voltadas à proteção dos biomas brasileiros. O grupo estratégico AGU-Recupera será responsável, adotar medidas jurídicas de proteção dos biomas e do patrimônio cultural brasileiros.Da equipe, participam 19 procuradores federais e oito advogados da União, responsáveis por atuar prioritariamente em “causas da União, Ibama, ICMBio e Iphan, que envolvem a reparação de danos ambientais e a punição a infratores ambientais nos biomas Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampa e Mata Atlântica, além de também agir em processos que digam respeito ao patrimônio cultural brasileiro”.

Agro

Fazenda Pantaneira_3Além do plantio, atividade pecuária também se faz presente na região. (Foto: Divulgação)

Parte importante deste equilíbrio conquistado pelo Pantanal é verificado no apoio aos produtores rurais locais, como no projeto-piloto do Pantanal de Mato Grosso, a Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS), que ajuda os produtores a se desenvolverem de maneira economicamente verde. Neste caso, o programa é coordenado por diferentes entidades, como a Embrapa Pantanal. A ação faz diagnósticos ambientais, econômicos e sociais em 15 propriedades espalhadas por cinco cidades do estado: Barão de Melgaço, Cáceres, Itiquira, Poconé e Rondonópolis.

O levantamento de dados nas propriedades é realizado com um software desenvolvido pela Embrapa Pantanal, que possibilita acompanhar a evolução da sustentabilidade de cada propriedade. A ferramenta funciona como uma espécie de raio-x das fazendas e mostra suas fragilidades e pontos fortes e, com isso, é possível chegar a alternativas que melhorem os resultados da produção de maneira sustentável.

Ida Beatriz Machado (Divulgação)Ida Beatriz Machado é produtora rural e presidente do Sindicato Rural de Cáceres (Foto: Divulgação)

 

“Temos uma quantidade de vegetação nativa de grande importância, com alto valor de proteína, segundo nosso mapeamento. É muito importante ter a consciência de que esse patrimônio está disponível para gente. Os coordenadores do projeto vêm contribuindo para que realmente consigamos adequar o sistema de manejo com pasto nativo da nossa pecuária, com nossa mão de obra e gestão. É muito benéfico para nós produtores pantaneiros”, conta a produtora rural e presidente do Sindicato Rural de Cáceres, Ida Beatriz Machado.  

 

Onçafari


Mario_Haberfeld_Robert Kozmann Jr.
Mario Haberfeld, ex-piloto do automobilismo com passagens pela fórmula 1 e Fórmula Indy, é fundador do Onçafari. (Foto: Divulgação)

Fundado em 2011 por Mario Haberfeld, ex-piloto do automobilismo com passagens pela fórmula 1 e Fórmula Indy, o Onçafari atua na conservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, como onças-pintadas, lobos-guarás e outras espécies. O projeto atua em seis diferentes frentes de trabalho: Ecoturismo, Ciência, Reintrodução, Social, Educação e Florestas, em quatro dos seis biomas brasileiros, Pantanal, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica.