'Há uma expectativa grande de que o Brasil seja um farol iluminando os caminhos no G20 '
Presidente do Institulo Talanoa e membro do painel de acreditação do Fundo Verde para o Clima, Natalie Unterstell esteve na conferência e compartilhou seus pensamentos com a Revista LIDE.
Natalie Unterstell, presidente do Institulo Talanoa e membro do painel de acreditação do Fundo Verde para o Clima. (Foto: Divulgação)
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, a COP 28,chegou ao fim com um acordo histórico e saldo positivo. Mesmo com as dificuldades causadas pelos cenários de guerra em Gaza e na Ucrânia, países de todo o mundo reconheceram, juntos, a necessidade da transição energética para conter as graves mudanças climáticas – temática abordada ao longo do ano em eventos do LIDE, que tiveram curadoria de Roberto Klabin, presidente do LIDE Sustentabilidade. Presidente do Institulo Talanoa e membro do painel de acreditação do Fundo Verde para o Clima, Natalie Unterstell esteve na conferência e compartilhou seus pensamentos sobre as ações que resultarão a partir da COP 28, em entrevista exclusiva à Revista LIDE.
Qual é a sua visão sobre a COP 28?
A COP28 entregou um pacote de acordos - o Consenso dos Emirados Árabes Unidos - estabelecendo um passo firme para a ação climática global nos próximos anos. Em muitos aspectos, o resultado é histórico. O aspecto decisivo para Dubai foi o pacote de energia, com sinal para triplicar as energias limpas até 2030 e iniciar a transição dos combustíveis fósseis até 2050. A COP28, pela primeira vez, pediu para que todos os países substituam os combustíveis fósseis. Também tivemos uma entrega no campo da justiça climática, há muito desejada pelos países mais vulneráveis: a operacionalização e a capitalização inicial do fundo de perdas e danos. Isso também marca um ponto de virada para responder à crise climática indo além das emissões.
Você chegou a dizer que a COP 28 marca um ponto de virada histórico, com resultado “menos do que gostaríamos, mas além do que eles poderiam imaginar”. Por quê?
A OPEP e seus membros preferiam não ter esse acordo, ou algo mais fraco. Tanto que uma carta vazada durante a COP marcou que o cartel de exportadores de petróleo buscava obstruir qualquer menção a combustíveis fosseis no texto, então, o resultado da conferência traz risco
material a eles. Mas tampouco isso quer dizer que todo muito saiu feliz: o maior aplauso no plenário final da COP foi para a resposta de Samoa, que criticou as lacunas que poderão ainda botar a perder a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C. A verdade é que estamos muito
atrasados e as COPs não vão zerar essa distância. Serão necessários maior precisão e marcos de curto prazo para assegurar responsabilidade e ação efetiva, especialmente em adaptação, onde a implementação do objetivo global está apenas começando.
O balanço orienta para o fim da era dos combustíveis fósseis. Você acha que o mundo realmente irá para esse caminho?
Acho inevitável. Mas veja bem: assim como a Idade da Pedra não acabou por falta delas, aqui tampouco se trata do fim do recurso em si, como sabemos. Estamos falando de uma transição não apenas de fonte de energia, mas também de modelos de negócio, de investimento, de trabalho e de mentalidade. Essas são as transições em curso, cada vez mais fortes.
Que impactos e resultados para o mundo podemos esperar a partir das decisões da COP 28?
Na COP28, foram dados passos importantes, alinhando metas de clima, alimentação e natureza para a COP30, no Brasil. O compromisso de mais de 150 países de deter e reverter o desmatamento até 2030 é histórico. Esses países também se comprometeram a incluir medidas relacionadas à alimentação em seus novos planos climáticos, reconhecendo a importância dos sistemas alimentares na luta contra as mudanças climáticas. Agora todos terão de preparar suas políticas e metas até o ano da COP de Belém, como resposta a tudo que foi incluído nesse pacote do chamado Consenso dos Emirados.
Como ficará o Brasil em meio a essas novas perspectivas?
Na COP28, os países demonstraram disposição para acelerar a ação climática, apesar das divisões existentes. Contudo, as tensões geopolíticas, incluindo os conflitos em Gaza e na Ucrânia, lançaram uma sombra sobre a conferência. Líderes e membros da sociedade civil enfatizaram a importância de enfrentar tanto a crise climática quanto os conflitos para um futuro mais seguro e sustentável. Há uma expectativa grande de que o Brasil seja um farol iluminando os caminhos no G20 e na COP30, atravessando as tensões geopolíticas. Para tanto, foi lançado o Roteiro para a Missão 1.5 - um conjunto de atividades para melhorar a cooperação internacional e o ambiente internacional propício para a ambição na próxima rodada de NDCs com o objetivo de manter à 1,5°C ao alcance, sob a orientação das presidências das COP28, COP29 e COP30.