Gustavo Carmona: 'Fundos de Private Equity do Reino Unido veem no Brasil uma oportunidade para investimentos de alto retorno'

O Reino Unido é um dos maiores investidores estrangeiros no Brasil e tem buscado novos negócios no país.

EY (63)Gustavo Carmona, sócio líder de Impostos Internacionais na EY Brasil. (Foto: Divulgação)

A relação comercial Brasil-Reino Unido não só impulsiona o crescimento econômico, como também fortalece laços diplomáticos e abre novas oportunidades de investimento e inovação. Em 2023, a cada R$ 1 bilhão exportados do Brasil para o país europeu, foram gerados 26,9 mil empregos, R$ 497,8 milhões em massa salarial e R$ 3,5 bilhões em produção.

Esse impacto é mais expressivo que o causado pelas exportações para a China, que atualmente é o principal parceiro comercial do Brasil. “As exportações brasileiras para o país europeu alcançaram US$ 3,1 bilhões em 2023, já as importações US$ 2,8 bilhões. A indústria de transformação desempenha um importante papel na agenda comercial bilateral. O setor produtivo foi responsável por 75,6% das exportações brasileiras para o Reino Unido e 98,1% das importações nos últimos cinco anos”, pontua Rafael Lucchesi, Diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI.

Gustavo Carmona, sócio líder de Impostos Internacionais na EY Brasil, avalia que o papel do Private Equity é significativo para este salto nos negócios entre os dois países.

“Fundos de Private Equity do Reino Unido veem no Brasil uma oportunidade para investimentos de alto retorno, especialmente em setores emergentes e em consolidação, como tecnologia, saúde e infraestrutura. Esses fundos trazem não apenas capital, mas também expertise em gestão e expansão internacional, o que pode ser crucial para empresas brasileiras em busca de crescimento e inovação”.

Carmona ressalta, ainda, o reflexo da classificação de risco do Brasil nesta relação. “Por outro lado, empresas brasileiras de Private Equity buscam no mercado britânico oportunidades de diversificação e acesso a novas tecnologias e mercados. Ponto relevante neste sentido é a classificação de risco do Brasil. O aumento da nota do Brasil pela agência Moody’s é benéfico neste sentido, sendo que a potencial obtenção de grau de investimento seria um impulsionador de transações entre os dois países”.

Posicionamento

Sócio da PwC Brasil, Leonardo Dell’Oso, explicita que o Reino Unido tem buscado negócios nos setores de energia, telecomunicações, serviços financeiros e tecnologia, com destaque ao grande interesse do país na sustentabilidade da matriz energética brasileira, como os biocombustíveis.

“São diversos e mútuos os interesses do Brasil e do Reino Unido por fortalecer suas relações em diversas áreas, como comércio, a cultura e as relações institucionais. Algumas das ações, acordos e projetos que podem aproximar ainda mais os dois países, são: Acordo de Facilitação do Comércio: projetos que visam reduzir a burocracia nas trocas entre os dois países têm avançado e devem trazer mais oportunidades para o Brasil e Cooperação Tecnológica e para a Inovação, como foco no desenvolvimento de tecnologias voltadas à sustentabilidade, inteligência artificial, digitalização e outras, através do incentivo à inovação promovido pelas startups e intercâmbios acadêmicos e culturais”, completa.

Meio Ambiente

Rafael Lucchesi reforça que a cooperação no campo da descarbonização da indústria tem sido uma iniciativa significativa na promoção de novos negócios. O recém firmado Hub de Descarbonização da Indústria no Brasil é um dos exemplos, e prevê o apoio à elaboração da Estratégia Nacional de Descarbonização Industrial (ENDI) no marco da missão 5 da Nova Indústria Brasil (NIB). Outro tema importante é o de finanças climáticas, sendo o Brasil um dos quatro principais beneficiários do Financiamento Climático Internacional do Reino Unido (ICF).

“É importante mencionar a cooperação em ciência e tecnologia (C&T). Até o momento, o Brasil é o único país da América Latina elegível para Parcerias Científicas Internacionais (ISPF) do Governo Britânico. Mais de 10 projetos já foram contemplados no país. A mobilização do setor industrial tem sido essencial para o Brasil avançar no alcance das metas estabelecidas no Acordo de Paris – de reduzir 48% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 2025 e 53% até 2030. Entendemos também que há espaço para avançar em acordos comerciais e de investimento, particularmente bem-vistos por sua tendência a criar riqueza nas duas economias”, conclui.

Promoção do comércio

A Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham), que há 108 anos promove as relações comerciais entre Brasil e Reino Unido, conta com novo presidente desde abril deste ano. Fabio Caldas, executivo que acumula experiência nos dois países depois de atuar em Londres pela Shell e de ser diretor de Relações Exteriores para América Latina da multinacional petrolífera britânica, ressalta a importância do comércio bilateral.

“Estamos às vésperas de completarmos 200 anos de relação bilateral entre Brasil e Reino Unido e temos os britânicos como a segunda nação que mais investe em empresas brasileiras, com destaque para os mercados de finanças e serviços profissionais. O comércio entre Brasil e Reino Unido movimentou R$ 75 bilhões entre janeiro e agosto de 2024, um aumento de 10,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados consolidados estão no mais recente relatório do Departamento de Negócios e Comércio britânico. Estes resultados são construídos ao longo dos anos e do trabalho contínuo de estreitamento de relações entre os países”, afirma Caldas.