'A iniciativa privada representa um elo importante na transformação de um país de baixo carbono', afirma Izabella Teixeira
Autoridade internacional sobre mudanças climáticas, segurança alimentar e meio ambiente, Izabella analisa o cenário nacional no processo de mundanças climáticas.
Izabella Teixeira, co-presidente do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU. (Foto: Felipe Gonçalves/Lide)
O relatório Global Catastrophe Recap Reportt, desenvolvido pela Aon plc, mostra que, globalmente, as perdas econômicas seguradas até o final de 2024 foram de, pelo menos, US$ 102 bilhões – valor bem acima da média do século 21 de US$ 79 bilhões. Os desastres naturais em todo o mundo resultaram em perdas superiores a US$ 258 bilhões no período, uma redução em relação à média do século 21 de US$ 276 bilhões e significativamente inferior às perdas registradas no mesmo período de 2023 (US$ 351 bilhões).
De acordo com o estudo, a lacuna de proteção de seguros foi estimada em 60%, cerca de 154 bilhões – uma das mais baixas já registradas no período, resultado da maior contribuição das perdas seguradas nos Estados Unidos.
No Brasil
Em seu relatório, a Aon também revela que os desastres naturais no Brasil provocaram prejuízos que somaram US$ 6,4 bilhões – uma redução de 57% em comparação com 2023, quando a seca histórica na região da bacia hidrográfica do Rio da Prata já havia provocado prejuízos de mais de US$ 10 bilhões. O documento ressalta os eventos catastróficos significativos que impactaram o país, com destaque para o prejuízo de US$ 5 bilhões provocado pelas enchentes no estado do Rio Grande do Sul entre 28 de abril e 3 de maio, as queimadas que atingiram a vegetação brasileira entre janeiro e setembro, resultando em danos estimados de US$ 360 milhões e a seca histórica, que gerou perdas no valor de US$ 470 milhões.
Jornada
Neste contexto, a Vale conseguiu avançar significativamente em sua transformação cultural, com orientação para a segurança das pessoas e operações, para a gestão de riscos e para a integridade de ativos. A companhia adotou um programa pioneiro de descaracterização de barragens, implementando os melhores padrões globais para a gestão das estruturas de contenção de rejeitos.
A multinacional também tem construído uma base estratégica na jornada da descarbonização global. “Segurança e excelência operacional são elementos inegociáveis. Adicionalmente, nossos esforços estratégicos serão concentrados em entregar um portfólio de produtos superiores, com foco maior no cliente. Em minério de ferro, vamos acelerar nossa oferta de produtos de alta qualidade, enquanto em metais básicos, pretendemos continuar a crescer, principalmente em cobre. Por fim, tenho o compromisso de aprimorar nossos relacionamentos institucionais, garantindo que iremos deixar um impacto positivo para as pessoas e o meio ambiente”, afirma Gustavo Pimenta, CEO da companhia.
Análise
Autoridade internacional sobre mudanças climáticas, segurança alimentar e meio ambiente, Izabella Teixeira é co-presidente do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU, além de atualmente integrar o advisory board do LIDE como co-chairwoman. Com sua bagagem e vivendo de perto os debates que envolvem o desenvolvimento da economia de baixo carbono, a especialista destaca que as pessoas devem entender que o mundo mudou, sendo preciso parar de uma vez por todas com o negacionismo climático. “Essa agenda não será de mitigação, será de resiliência e adaptação. A discussão sobre essa agenda requer engajamento do setor privado”, afirma.
A representante da ONU mostrou-se preocupada com a posição do Brasil na 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. “A pauta da COP30 está num contexto que o mundo tem expectativa muito positiva em relação ao Brasil para liderar essa agenda. Mas o Brasil precisa resolver as questões que o impedem de avançar”, diz.
Com quatro décadas integralmente dedicadas ao setor, a ambientalista também enfatiza a importância da agricultura no processo de descarbonização. “O nosso problema, nesta questão, é justamente o melhor uso da terra. A questão climática determina isso e a disputa nesse mercado é muito dura lá fora. Ser provedor de solução, também significa reunir alianças e tomar um papel de líder. Toda essa discussão no mundo tem no setor privado um parceiro que também precisa se transformar. É necessário que estado e empresas tenham uma nova relação para que as responsabilidades sejam identificadas de uma forma mais séria e estruturada. A iniciativa privada tem visão de longo prazo e representa um elo importante na transformação de um país de baixo carbono para um país mais alinhado e sinérgico com o mundo contemporâneo”, completa.