Negócio Verde: Como a Ambipar está ganhando terreno nos Emirados com inovação e sustentabilidade
Em entrevista exclusiva, Rafael Tello, presidente da operação Oriente Médio da Ambipar, detalha a ofensiva sustentável da Ambipar na região.
Rafael Tello, presidente da operação Oriente Médio da Ambipar, fala sobre os planos da Ambipar em negócios sustentáveis. (Foto: Divulgação)
Nos últimos anos, o Brasil tem se consolidado como um destino promissor para investimentos de nações árabes no setor de energia. Esse interesse reflete o esforço dos países do Oriente Médio em diversificar suas economias e adotar práticas mais sustentáveis. Paulo Ferracioli, professor de Geopolítica e Negócios Internacionais da FGV, avalia que existe um clima de grande otimismo nas relações comerciais entre Brasil e Emirados Árabes, por exemplo.
“Tem havido um aumento muito grande de investimentos bilaterais, principalmente do fundo soberano de Abu Dhabi, que está procurando negócios no Brasil com alto potencial de retorno, com destaque para novas tecnologias e inovação”, enfatiza.
O fundo Mubadala anunciou, recentemente, a destinação de US$ 13,5 bilhões (cerca de R$ 69 bilhões) ao longo de uma década para impulsionar o setor de biocombustíveis no Brasil. O objetivo desse investimento é fomentar o uso de energias limpas e reduzir a dependência do petróleo, em sintonia com as diretrizes globais para a transição energética.
Amplo portfólio
A Mubadala investe no Brasil desde 2012, com sua subsidiária Mubadala Capital hoje administrando ativos sob gestão de US$ 5,7 bilhões, incluindo US$ 2,5 bilhões de capital de terceiros. Investido por meio de três fundos, seu portfólio inclui projetos de infraestrutura crítica e grandes empresas, incluindo rodovias com pedágio, portos, linhas de metrô e universidades médicas, entre outros.
Sua Alteza Sheikh Khaled bin Mohamed bin Zayed Al Nahyan enfatizou que os investimentos dos Emirados Árabes Unidos no Brasil representam um fator chave no fortalecimento dos laços econômicos entre as duas nações. Ele destacou que esses investimentos ressaltam o papel proeminente dos Emirados Árabes Unidos como um parceiro econômico global.
“Estamos orgulhosos de que nossos investimentos contribuam diretamente para o desenvolvimento de setores-chave na maior economia da América do Sul, e planejamos aumentar significativamente o tamanho de nosso portfólio brasileiro nos próximos anos”, disse Waleed Al Mokarrab Al Muhairi, vice-CEO do grupo Mubadala.
Menos emissões
Além disso, a Acelen, empresa sob controle do Mubadala, firmou um acordo com o governo da Bahia para viabilizar a construção de uma unidade de produção de diesel verde (HVO) e querosene de aviação sustentável (SAF). O projeto, que prevê um aporte de R$ 12 bilhões ao longo dos próximos dez anos, tem a meta de produzir 1 bilhão de litros anuais, o que poderá reduzir as emissões de CO2 em até 80% em comparação aos combustíveis fósseis convencionais. A nova planta será instalada utilizando a infraestrutura da Refinaria de Mataripe, adquirida anteriormente pela Acelen, e a construção está programada para iniciar em janeiro de 2024.
Os Emirados Árabes Unidos também divulgaram planos de investir US$ 54 bilhões em fontes renováveis nos próximos sete anos, como parte de sua estratégia para alcançar emissões líquidas zero até 2050. Embora o foco principal seja o mercado interno, essa iniciativa abre possibilidades de cooperação internacional, incluindo parcerias com o Brasil em tecnologias voltadas para energia limpa e sustentável.
Circularidade
A Ambipar já ultrapassa a marca de 40 países e, agora, abre seu primeiro escritório nos Emirados Árabes Unidos, em Abu Dhabi. O objetivo é estar próximo de potenciais clientes do Oriente Médio e Norte da África para apresentar seu portfólio de soluções ambientais, incluindo as de economia circular.
Os Emirados Árabes Unidos têm adotado medidas para promover circularidade, entre elas a expansão da infraestrutura de reciclagem, com uma meta de retirar 75% dos resíduos dos aterros até 2030. O país também tem o objetivo de se tornar net zero até 2050.
“Enxergamos um grande potencial para a atuação da Ambipar no Oriente Médio e Norte da África em diversos segmentos para os quais somos capazes de oferecer serviços e produtos completos voltados à gestão ambiental, em especial para economia circular”, afirma Tercio Borlenghi Jr., CEO da Ambipar Group.
Com 500 bases operacionais instaladas globalmente, a empresa é pioneira em diversos produtos e serviços e referência no mercado em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), com mais de 25 patentes e 50 prêmios de inovação nacionais e internacionais.
Descarbonização
Sob a liderança do executivo Fábio Galindo, a plataforma de negócios climáticos e transição energética, Future Climate, está promovendo uma mudança significativa em sua atuação no mercado de clima e carbono. A empresa, que se destacava unicamente como referência em desenvolvimento de projetos de créditos de carbono, antes da recente mudança societária e de marca, agora inclui uma gestora financeira, cujo objetivo é captar R$ 200 milhões em três anos e direcionar fundos de investimento climático para projetos de empresas brasileiras.
Como parte dessa estratégia, a Future Climate estabeleceu hubs de captação de capital em Abu Dhabi e Singapura, reconhecidos centros financeiros globais. Esses hubs têm um papel crucial na atração de capital voltado para a transição climática e projetos de impacto social. O recente ingresso da empresa no ADGM (Abu Dhabi Global Market), um hub internacional de investimentos climáticos na capital dos Emirados Árabes Unidos, é um marco dessa expansão. A adesão ao ADGM, liderado pelo Abu Dhabi Investment Bank, foi impulsionada por um convite recebido durante a COP28, realizada em Dubai. "A nossa presença no Oriente Médio nos permite receber um pipeline de oportunidades globais e apresentar projetos latino-americanos a investidores internacionais", explica Galindo.
Leia entrevista exclusiva com Rafael Tello, presidente da operação Oriente Médio da Ambipar.
Como a Ambipar tem fortalecido sua presença no mercado árabe, especialmente em Dubai e nos Emirados Árabes Unidos?
A Ambipar inaugurou seu escritório nos Emirados Árabes Unidos em novembro de 2024, com o objetivo de expandir sua presença no Oriente Médio e no Norte da África. Com isso, a empresa está presente em 41 países. A iniciativa faz parte de sua estratégia de internacionalização, para expandir a oferta de seus serviços para mercados em crescimento.
Quais são os principais desafios e oportunidades que a empresa encontra ao operar na região?
Os escritórios em Abu Dhabi e em Dubai reforçam a posição da Ambipar como líder global em soluções ambientais, atendendo a uma demanda crescente por inovação e tecnologias sustentáveis. A proposta é aproximar-se de clientes potenciais na região e reforçar sua atuação em soluções ambientais, especialmente na área de gestão de emergências e descarbonização. A presença nos Emirados Árabes Unidos é estratégica para se envolver com empresas e governos locais que estão investindo fortemente em infraestrutura sustentável e tecnologia ambiental. Entre as soluções, estão as de economia circular e descarbonização.
Como as políticas ambientais e de sustentabilidade dos Emirados Árabes influenciam as operações e estratégias da Ambipar no mercado local?
Desde a COP28, realizada em Dubai, em 2023, os Emirados Árabes Unidos querem ser referência na área ambiental e, para isso, têm adotado medidas para promover a circularidade, como a expansão da infraestrutura de reciclagem, e meta de retirar 75% dos resíduos dos aterros até 2030. A Ambipar enxerga um grande potencial para atuação no Oriente Médio em diversos segmentos para os quais são capazes de oferecer serviços e produtos completos voltados à gestão ambiental. Este é o momento de estar aqui e expandir os serviços na região.
Dubai tem se posicionado como um hub global para inovação e sustentabilidade. De que forma a Ambipar pode contribuir para essa transformação na região?
A Ambipar tem focado em expandir suas operações internacionais, desenvolver parcerias estratégicas, como a que firmou com a EDGE, empresa de defesa estatal dos Emirados Árabes Unidos, recentemente, e promover sua experiência em gestão de emergências, sustentabilidade e descarbonização. A empresa está intensificando seu portfólio de soluções para enfrentar desafios ambientais e climáticos em diferentes partes do mundo. Para um futuro próximo, a ideia é ter uma equipe operacional para atender a região.
Existe alguma parceria estratégica entre a Ambipar e empresas ou governos nas mais diferentes partes do mundo para promover soluções sustentáveis?
Temos em vários países onde atuamos, incluindo o Emirados Árabes. Em dezembro, a Ambipar MENA assinou a Declaração de Finanças Sustentáveis de Abu Dhabi, liderada pelo ADGM (Abu Dhabi Global Market), que reconhece os esforços dos Emirados Árabes e do Emirado Abu Dhabi em adotar medidas que vão possibilitar um desenvolvimento econômico sustentável da região em linha com o combate às mudanças climáticas. A Ambipar MENA tornou-se uma das empresas participantes da Declaração, um acordo público-privado para a construção de um desenvolvimento econômico mais sustentável.
Ainda no fim do ano, a Ambipar assinou Memorando de Entendimento (MoU) com o Escritório de Investimentos de Abu Dhabi (ADIO) e a Autoridade de Defesa Civil de Abu Dhabi (ADCDA) para explorar oportunidades de aprimorar as capacidades de resposta a emergências e serviços industriais no Emirado. A parceria estratégica propõe fortalecer a preparação para emergências e a segurança no setor industrial, desenvolvendo a capacidade local, promovendo a inovação e facilitando a transferência de conhecimento e tecnologia.
Em janeiro de 2025, a Ambipar firmou um acordo estratégico com a EDGE, empresa de defesa estatal dos Emirados Árabes Unidos, no qual visa o desenvolvimento de tecnologias com inteligência artificial e automação para serviços de resposta a emergências, além de treinamentos avançados para profissionais que atuam em situações de risco. O objetivo do acordo é promover uma troca de tecnologias que beneficiem ambos os países. Essa parceria com a EDGE vai acelerar a entrada da companhia nos Emirados Árabes Unidos e permitirá a introdução de soluções tecnológicas avançadas no Brasil.
A Ambipar é referência em gestão ambiental e resposta a emergências. Quais são as principais iniciativas da empresa para promover a sustentabilidade globalmente?
A Ambipar tem uma gama de soluções ambientais que envolvem a gestão e valorização de resíduos, descarbonização, economia circular, consultoria em ESG, respostas a emergências climáticas, entre outras. A companhia ainda atua na coleta de resíduos pós-consumo por meio de máquinas coletoras com foco em economia circular, que entregam soluções para o recolhimento de embalagens para a reciclagem. Além disso, oferece serviços de apoio para empresas, pessoas e entidades diante do desafio de compensar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) que não puderem ser evitadas ou reduzidas. Isso é feito por meio da compra de créditos de carbono gerados nos projetos de conservação florestal, Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+) e restauração florestal - Afforestation, Reforestation e Revegetation (ARR).
O mercado árabe tem investido cada vez mais em energias renováveis e economia circular. Como a Ambipar pode auxiliar nesse processo?
A Ambipar trabalha pela economia circular de forma cada vez mais efetiva, na qual busca fechar o ciclo de vida do produto, da matéria-prima ao resíduo. Nossa visão de futuro é ampliar as operações de valorização de resíduos e aumentar a capacidade de reciclagem e eficiência dos ecoparques. Para isso, vislumbramos projetos de gestão de resíduos industriais e de waste-to-energy, que serão implementados para transformar resíduos em energia renovável.
Quais tecnologias e inovações sustentáveis a empresa está implementando para atender à crescente demanda por soluções ambientais?
A Ambipar tem projetos de conservação e restauração de florestas, o que contribue para a recuperação do solo, preservação dos recursos hídricos, desenvolvimento da fauna e flora local. Isso é possível com a preservação de mais de 2,5 milhões de hectares na Amazônia e uma potencial de geração 5 milhões de toneladas de crédito de carbono por ano. Com esse portfólio, a Ambipar viabiliza programas criados para minimizar os impactos gerados pelas mudanças climáticas e também atua por meio da Ambify, uma plataforma de tokens, na qual o objetivo é simplificar projetos de neutralização e redução de emissões de carbono.
Como a Ambipar equilibra crescimento econômico e compromisso com a sustentabilidade em seus negócios?
Ao longo dos últimos anos expandimos substancialmente a nossa presença global, chegando a 41 países nos seis continentes. Esse crescimento foi acompanhado pelo reconhecimento por meio de diversas certificações globais que reafirmam nosso compromisso com os mais altos padrões de qualidade e sustentabilidade, o pilar central dos negócios da Ambipar. Seus desdobramentos geram valor para a organização e todos os stakeholders e, para isso, a Ambipar constrói sua agenda da sustentabilidade e estratégia de longo prazo em conjunto com as principais organizações globais que trabalham pelo desenvolvimento sustentável.
Como você enxerga a evolução do setor ambiental e de gestão de resíduos no cenário global? Quais tendências devem impactar mais esse mercado?
O futuro do planeta é hoje. Se não cuidarmos do planeta A, esse que temos, não teremos nada amanhã. Não existe planeta B. A cultura da economia circular e da logística reversa precisa ser ampliada e entrar no DNA da sociedade. É muito forte essa cultura de jogar fora, de tudo virar lixo. Uma grande parte dos resíduos gerados a partir do nosso consumo pode e deve ser reaproveitado. Há muitas tecnologias para isso e muitas nações preocupadas com a circularidade, mas é pouco. Isso precisa ser intensificado no Brasil e no mundo. A cultura do reaproveitamento e criar matéria-prima e produtos a partir de resíduos pode nos trazer grandes resultados e poupar o uso de recursos naturais, que estão escassos. A exemplo disso, a Ambipar desenvolveu uma tecnologia na qual produz álcool para higienização e para limpeza a partir de resíduos de doces, como bala, chocolate e chiclete. Além disso, o açúcar extraído desses produtos pode, em breve, virar etanol que abastecerá a frota interna da Ambipar. Um projeto promissor, modelo e premiado.
Como a sustentabilidade tem influenciado as cadeias produtivas e as decisões de negócios das grandes empresas e governos?
O movimento de adoção de práticas ESG na década passada contribuiu muito para que as empresas ficassem mais próximas de iniciativas e ações socioambientais. À medida que a discussão entre países foi se intensificando durante encontros e resultando em acordos como o de Paris, vejo que governos e empresas viram que não tinham mais para onde correr a não ser para a sustentabilidade. A partir disso, as cadeias produtivas e as decisões de negócios passam pelas políticas e iniciativas sustentáveis. Levou um bom tempo, mas o mundo entendeu que é urgente cuidarmos do meio ambiente e as mudanças climáticas reforçam essa mudança de paradigma o tempo todo.