Renata Zanuto: startups são importantes aliadas para agilizar entregas inovadoras e adaptações

Rodadas de investimentos são hoje a principal estratégia das jovens empresas que buscam acelerar seu crescimento

Bp5XhterLCBVQchZ2u63mTRenata Zanuto, co-head do Cubo Itaú,organização sem fins lucrativos que acelera a conexão e a criação de negócios. (Foto: Divulgação)

Em meio a um cenário desafiador, as rodadas de investimentos não pararam e grandes aportes financeiros ajudaram empresas altamente disruptivas a crescerem ainda mais. Se por um lado as baixas taxas de juros fazem com que investidores procurem alternativas mais rentáveis, para algumas startups essa pode ser a única alternativa financeira de escalar rapidamente o negócio, já que bancos e outras instituições financeiras, muitas vezes, evitam emprestar um valor significativo para uma empresa recém-criada.

Para Renata Zanuto, co-head do Cubo Itaú, organização sem fins lucrativos que acelera a conexão e a criação de negócios entre grandes empresas e startups, sendo o maior hub de fomento ao empreendedorismo tecnológico da América Latina, esse movimento já era algo crescente e a pandemia evidenciou que para as empresas manterem-se competitivas, investir em inovação e soluções tecnológicas é essencial. “As startups mostraram-se importantes aliadas nesse processo, uma vez que o modelo mais ágil permite que se faça entregas e adaptações mais rapidamente. Esse é um caminho natural e necessário para o desenvolvimento do ecossistema”, aponta.

Renata conta que segundo um levantamento recente feito pelo Transactional Track Record (TTR), as fintechs brasileiras receberam R$ 5,58 bilhões em aportes até setembro deste ano, o que representa um incremento de 87% em relação ao mesmo período do ano passado. A executiva diz que dentro do Cubo existem exemplos importantes deste fenômeno. “A Sami, uma startup de tecnologia para saúde acaba de levantar US$ 15,5 milhões em uma rodada de investimentos. No ano passado eles já haviam conseguido US$ 1 milhão. A Take, startup com foco na digitalização da comunicação, acabou de receber investimento de US$ 100 milhões. Isso só corrobora a potência que o Brasil tem em seu ecossistema”, diz. Mais de 50% das startups do Cubo Itaú cresceram, em média, três vezes, de janeiro a agosto deste ano, com aumento de faturamento, número de clientes e/ou colaboradores.

Fintechs em ascensão

A OnePay, fintech do mercado de pagamentos, banking e operações financeiras, especialista na comercialização de produtos e serviços por meio de transações eletrônicas, efetivou sua primeira rodada de investimentos com valuation de R$ 70 milhões, entrando para o seleto time de fintechs brasileiras que estão na esteira de investimentos sólidos rumo a se tornarem unicórnios. Com um crescimento médio de 30,82% ao mês no primeiro ano e faturamento de R$ 150 milhões registrado no em setembro, a OnePay encarou o primeiro semestre de pandemia com crescimento médio mensal de 10,85%. “O investimento será utilizado na ampliação das equipes comercial e de tecnologia, na expansão para operações internacionais, no incremento da estrutura de marketing, na construção de um novo posicionamento institucional e também na estruturação de novos produtos financeiros”, pontua Jonny Morais, CEO da empresa.

ITd3583nn2dCv0r3Ta7C“Somos uma fintech jovem, cheia de energia e que tem como propósito utilizar nosso conhecimento para desenvolver e distribuir produtos e serviços financeiros”, diz Thiago Lopes, CFO da OnePay. (Foto: Divulgação)

Atualmente, mais de 12 mil empresas utilizam soluções da startup, um número que está prestes a catapultar com a entrada de mais de 500 mil clientes oriundos do grupo econômico do fundo investidor e que serão inseridos na plataforma OnePay até o final do ano. “O conhecimento, os produtos e as ferramentas financeiras por muitos anos estiveram apenas nas mãos do sistema bancário, que sempre teve como regra retirar o máximo de lucro entregando o mínimo de valor para a população. Somos uma fintech jovem, cheia de energia e que tem como propósito utilizar nosso conhecimento para desenvolver e distribuir produtos e serviços financeiros, sempre entregando mais valor à população em termos de custos, acesso e inclusão”, explica Thiago Lopes, CFO da OnePay.

Potencial

Enquanto a Uber paralisou seus investimentos em uma solução similar durante a pandemia, a Mobees, startup fundada por Fabio Barcellos (CEO), Flávia Coelho (CMO) e José Lyra Junior (CTO) captou R$ 5 milhões em investimentos da Canary, Norte Capital e outros investidores-anjos e lançou, em julho deste ano, a solução pioneira de mídia sobre rodas: a empresa coloca painéis de LEDs inteligentes sobre carros de aplicativos, como Uber, 99 e Cabify, para distribuir anúncios digitais programados com base em geolocalização, data, horário, clima e outras condições relevantes para os clientes. A solução permitiu que os motoristas de aplicativos aumentem sua renda de uma forma prática, segura e vantajosa enquanto circulam, contribuindo ainda mais neste período em que os brasileiros e profissionais autônomos sofrem com a pandemia.

Hoje, há mais de 200 painéis de LED rodando no Rio de Janeiro, com uma fila de espera de mais de 18 mil motoristas. “Pretendemos dobrar essa frota ainda esse ano na capital carioca e ampliar a operação para cidades próximas, como Niterói. Para 2021, temos planos de expansão para outras cidades, como São Paulo, Campinas e Guarulhos. São mais de 20 municípios que já estão sendo mapeados e estudados”, revela Fábio Coelho, CEO da adtech. “Buscamos investidores com comprovado track record em apoiar empreendedores em negócios tecnológicos, de alto crescimento e com visão internacional, pois nossa ambição vai além de Brasil”, completa.

Relacionamento

Para buscar apoio financeiro em fundos de investimentos ou diretamente com investidores é preciso apresentar os pontos fortes do seu negócio e fazer uma boa negociação. Segundo Pedro Gottschild, diretor da Caravela Capital, fundo com foco em empresas early stage, o empreendedor tem que vestir a camisa do investidor e pensar “O que eu ofereço de tão bom que um investidor queira escolher justamente a minha empresa para investir?". Segundo ele, o melhor pitch deck – apresentação – é o resultado. "O que gostamos de ver é a identificação de um problema e a solução que está sendo dada, a tração – crescimento – do negócio nos últimos meses, que determine que o produto tem um Product Market Fit interessante. Gostamos de ver também a determinação, conhecimento e capacidade do empreendedor. Quem já deu início à operação e colocou o produto no mercado sabe que dificilmente a ideia da empresa é única e não tem mais ninguém no mercado fazendo algo parecido, por isso precisamos acreditar nas pessoas que estão por trás da empresa”, descreve o diretor.

mobeesJosé Lyra Junior, Flávia Coelho e Fabio Barcellos da Mobees captaram R$ 5 milhões em investimentos para lançar uma solução pioneira de mídia sobre rodas. (Foto: Divulgação)

Para Rafael Ribeiro, Head de operação da Bossa Nova, fundo de investimentos micro Venture Capital, esse tipo de investimento tem gerado confiança nos investidores devido a uma onda muito positiva de unicórnios e da profissionalização de startups. Mas, para quem deseja buscar esse aporte, ele ressalta: “Crie relacionamento. Ninguém vai te dar R$ 500 mil em um dia. Investimento é relacionamento e confiança”, diz. “Nós escolhemos focar em investimento de risco porque onde tem altos riscos, também tem altas recompensas”, explica.

A companhia que tem mais de 500 empresas investidas, venceu no final de outubro, a premiação Startup Awards, da Associação Brasileira de Startups, na categoria Venture Capital. A premiação ainda consagrou o sócio da Bossa Nova, João Kepler, como investidor-anjo do ano, Rafael Ribeiro como Mentor do ano e a Transfeera, aportada pela Bossa Nova, como Startup revelação. A Bossa Nova busca por empresas que já receberam alguma injeção de capital, mas que ainda não tenham sido alvos de novos investimentos. Só no primeiro semestre a empresa avaliou mais de 900 startups em todas as regiões do Brasil, investiu mais de 80%, comparado ao primeiro semestre de 2019 e planeja investir R$ 10 milhões até o fim do ano. “Esse prêmio é um grande reconhecimento que estamos ajudando as startups e o ecossistema a crescer, afirma Ribeiro. “Nosso time analisa nove pilares estratégicos para avaliar um negócio – time, escalabilidade, produto, modelo de negócio, marketing, mercado, máquina de vendas, financeiro e perfil dos fundadores – e vários indicadores dentro de cada um deles que nos ajudam a entender se aquele é ou não um bom negócio”, finaliza.