Rapha Avellar: 'Com o público consumindo cada vez mais virtualmente, é possível que as marcas passem a utilizar o metaverso como consumo'
Para as marcas, o metaverso representa, além da renovação, a oportunidade de aprendizado e contato com as pessoas, de maneira mais genuína.
Rapha Avellar, empreendedor em série e fundador da Adventures. (Foto: Reprodução)
O termo metaverso foi usado pela primeira vez no romance cyberpunk “Snow Crash”, publicado em 1992 pelo escritor Neal Stephenson. Após três décadas, ficou mais fácil entender o conceito, tendo em vista o desenvolvimento e uso de novas tecnologias de comunicação, pagamento e entretenimento. De maneira geral, a proposta, agora, é mesclar experiências entre o mundo on e off-line, em uma ambientação com avatares que replicam personalidades e jornadas sensoriais, com a possibilidade de interações contínuas. Nesse formato dinâmico, essa tecnologia vem ganhado destacável espaço na sociedade, principalmente entre conceituadas marcas.
Rapha Avellar, empreendedor em série e fundador da Adventures, explica que esse recurso precise ser visto como um canal diferente para aplicação de novas tecnologias, mas com a necessidade de planejamento específico.
“É indispensável que a marca realize pesquisas de mercado sobre seus consumidores no metaverso, buscando dados para entender melhor sobre como as pessoas agem, quais são suas preferências, localização, entre outras informações. Pois, as pessoas podem ter um comportamento completamente destoante na realidade virtual em relação à vida real. Adicionalmente, cabe validar e promover a mudança cultural de imersão dos públicos que ainda não tiveram nenhuma experiência em ambientes interativos e imersivos”, diz.
Proximidade
Avellar destaca que não existe garantia de que as marcas vão alavancar as vendas ao investir nessa tecnologia, porque isso depende de vários fatores, mas a adoção precoce pode gerar retorno significativos.
“Atualmente, existem três maneiras de começar a rentabilizar diretamente neste novo ambiente: comprar terrenos no metaverso, comprar os tokens ou investir em empresas que atuam com a nova tecnologia. Com o passar do tempo e com o público consumindo cada vez mais virtualmente, é possível que as marcas passem a utilizar a plataforma como consumo, além de criar proximidade com o público”, evidencia.
Além das opções descritas pelo CEO da Adventures, diversas0 empresas já estão aproveitando o conceito para ações de marketing. A Roca Brasil Cerámica é considerada pioneira no uso do recurso. A companhia realizou sua Avant Première – promovida no início do ano para divulgação de novos produtos – em uma plataforma exclusiva e imersiva, que permitiu a criação de avatares e interação virtual para as atividades e rodadas de negócio. “Construímos uma plataforma exclusiva e personalizada, capaz de abrigar mais de três mil pessoas, simultaneamente, para a realização de um evento disruptivo”, afirma Christie Schulka, marketing manager da Roca Brasil Cerámica.
O projeto também foi ao encontro do conceito phygital, uma vez que a empresa pensou em ativações com os clientes, como o envio dos catálogos físicos e maleta especial, contendo amostras de todos os lançamentos das marcas Roca Cerámica e Incepa. Segundo a executiva, o metaverso se mostra como o futuro promissor. “Demos o primeiro passo no setor da construção civil. Quando falamos de expor novos revestimentos, nos referimos a atributos de imagem e textura. Tudo isso teve que ser traduzido perfeitamente, para que nossos clientes tivessem, de fato, a percepção, o mais exata possível, das peças que receberam como amostra na maleta”, conclui Christie.
Christie Schulka, marketing manager da Roca Brasil Cerámica. (Foto: Divulgação)
Na moda
Em se tratando de pioneirismo, a Tommy Hilfiger, reconhecido grupo de moda premium, participou da Metaverse Fashion Week, organizada pela Decentraland, o primeiro mundo virtual de propriedade de seus usuários. Realizada entre os dias 24 a 28 de março de 2022, a companhia exibiu virtualmente suas coleções da primavera de 2022, além de hospedar uma plataforma de varejo digital, no qual os consumidores puderam comprar NFTs para seus avatares ou itens físicos de dentro do Metaverse.
“Quando fundei a marca em 1985, nunca imaginei que presenciaria uma época em que as semanas de moda seriam realizadas em um mundo 3D, totalmente virtual”, reflete Tommy Hilfiger. “À medida que exploramos ainda mais o metaverso e tudo o que ele tem a nos oferecer, inspiro-me no poder da tecnologia digital e nas oportunidades que ela apresenta para interagir com as comunidades de maneiras fascinantes e relevantes”, completa o empresário.
Suporte estratégico
Considerada uma autoridade no Brasil, no ramo de comunicação e experiência por meio da realidade aumentada e do metaverso, a Flex Interativa registrou expressivo aumento de mais de 750% na procura de empresas pelas soluções da marca, dentro dessa nova tecnologia.
“Há 15 meses iniciamos o desenvolvimento da primeira plataforma metaverso 100% nacional e já investimos mais de R$ 1 milhão e devemos dobrar este valor ao longo de 2022 com novas funcionalidades, gamificações e novos ambientes 3D. Lançamos oficialmente o Flex Universe, no quarto trimestre de 2021. De lá para cá, dezenas de demonstrações, palestras em eventos importantes e propostas foram realizadas para vários segmentos como varejo, educação, indústria, finanças, prestadores de serviços, palestrantes e influencers. Já no início do ano começamos a assinar os primeiros contratos no modelo SaaS (software as a servisse)”, detalha Fernando Godoy, CEO da Flex Interativa.
Godoy acredita que as empresas vão poder abrir a porta de um universo no qual o consumidor também terá experiências com os produtos em cenários temáticos, com jogos e cenografia customizada. “Tudo isso pode ser construído de uma forma em que essa jornada vai passar os valores e a essência dessas marcas. Então o poder de comunicação a partir da possibilidade de envolver e entreter os usuários é muito poderoso porque, teoricamente, você não tem limitações de experiências”, ressalta.
Mais arte
A movimentação deste mercado acabou fazendo a gigante Adobe criar iniciativas para capacitar agências e marcas a se adaptarem às novas tendências de design. Baseando-se nos recursos para criar experiências 3D imersivas, plataformas de comércio eletrônico e interações digitais, a Adobe anunciou inovações para projetar e fornecer experiências virtuais envolventes e realistas para seus milhões de usuários, com integração entre a Adobe Creative Cloud e a Adobe Experience Cloud, ferramentas que levarão soluções para criação e personalização de conteúdo 3D da companhia para organizações de segmentos distintos.
“O metaverso e outras experiências imersivas só terão sucesso, se forem ricos em recursos personalizados, envolventes e tiverem conteúdo interativo”, enfatizou Scott Belsky, diretor de Produtos e vice-presidente Executivo da Adobe Creative Cloud. “Para liderar no metaverso, as marcas devem começar a criar conteúdo 3D e imersivo agora – isso não apenas as prepararão para o futuro, mas fará o design de produtos e a criação de ativos de marketing e comércio eletrônico melhores, mais rápidos e mais baratos”, finaliza.