Rafa Forte, da VTEX: Esperamos inspirar empreendedores de mercados emergentes a continuarem elevando o nível de inovação na indústria mundial de software
Empresas brasileiras encaram a abertura de capital em Wall Street de olho na visibilidade internacional, mercado com maior expertise e volume de negociação.
Sócios e colaboradores no IPO do grupo Afya na Nasdaq, em Nova York, realizado em julho de 2019 (Foto: Divulgação)
Contemplando mais de cinco mil companhias, entre Nyse e Nasdaq, diversos fatores têm estimulado empresas brasileiras a abrirem seu capital no exterior por meio de uma oferta inicial de ações (IPO, sigla em inglês). A boa experiência e perspectivas de mais de uma dezena de companhias como PagSeguro, XP, Banco Inter e, mais recentemente, Semantix reforça o movimento de empresas brasileiras interessadas em listar suas ações fora do Brasil.
Para Carlos Lobo, sócio do escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, entre os principais benefícios em procurar os Estados Unidos está o acesso a um conjunto muito maior de investidores.
“As empresas acabam conseguindo acessar interessados que normalmente não investiriam no Brasil, muitas vezes por não estarem acostumados com a burocracia que envolve a compra de ações de uma empresa brasileira ou por não terem conhecimento de como fazer isso”, comenta.
O especialista aponta também o acesso a investidores sofisticados, que tenham mais conhecimento dos setores e ativos, o que pode auxiliar para uma melhor precificação das empresas.
De acordo com o advogado, outro fator que algumas empresas, principalmente do setor de tecnologia, têm apontado como atrativo é a questão das classes diferenciadas de ações, no Brasil chamado de voto plural, que basicamente possibilita dividir o capital da empresa em classes distintas. Isso permite ao fundador da empresa manter o controle da companhia mesmo tendo um percentual pequeno das ações.
Lobo aponta que um dos principais desafios é o custo da operação, tendo em vista que os trâmites e a assessoria devem ser pagos em outra moeda. “Esse é um fator que não inibe as empresas, até porque elas estarão captando em dólar, o que acaba se compensando”, afirma.
Um segundo fator é que a regulamentação nos Estados Unidos tende a ser mais complexa do que a legislação brasileira, tornando o desafio um pouco maior para as companhias no sentido de cumprir todas as exigências e regras, acompanhadas sempre muito de perto pelo órgão regulador. Carlos Lobo lembra, ainda, que os investidores de fora do Brasil tendem a ser mais exigentes, cobrando projeções, inclusive de receitas futuras.
“As companhias têm que pensar muito bem e com calma o que elas vão sinalizar para o mercado de projeções em termos de receita futura, porque o investidor vai cobrar. O nível de exigência no mercado americano é muito mais elevado”, explica.
Confira a trajetória e números de renomadas empresas brasileiras que abriram capital na Bolsa norte-americana, além de depoimentos de suas lideranças.
Afya (Nasdaq: Afya)
Maior ecossistema de educação e tecnologia voltada para a saúde no Brasil, a Afya é líder entre as faculdades de medicina do país em número de vagas (2.759) autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC). A companhia também detém 18 Instituições de Ensino Superior e unidades de pós-graduação na área médica e de saúde em 11 estados do Brasil.
Primeira empresa de educação médica do mundo a abrir capital na Nasdaq, em julho de 2019, a Afya escolheu a bolsa americana pelo alinhamento daquele mercado e das outras empresas lá listadas com o trinômio educação & saúde & tecnologia.
“Fomos a primeira empresa de educação médica brasileira a abrir capital na Nasdaq, nos Estados Unidos. Em julho de 2019, escolhemos a bolsa americana pela proximidade do mercado e das outras empresas lá listadas com o trinômio de educação, saúde e tecnologia que sustentam nosso plano de negócios. Nessa época, levantamos cerca de R$ 1 bilhão na Nasdaq com o objetivo de dobrar de tamanho em até 3 anos. Foi um desafio enorme, principalmente por conta do nosso pioneirismo, mas acertamos. O IPO nos deu a certeza de que a nossa tese, além de inovadora, tinha muito valor para todos os públicos: do aluno ao investidor; dos médicos às comunidades onde operamos; das sociedades médicas às indústrias do setor da saúde”, detalha Virgilio Gibbon, CEO da Afya.
Pagbank Pagseguro (Nyse: Pags)
A companhia promove soluções inovadoras em serviços financeiros e meios de pagamento, automatizando o processo de compra, venda e transferências para alavancar negócios de qualquer pessoa e empresa, de maneira simples e segura. O PagBank PagSeguro atua como emissor, adquirente e oferece contas digitais, além de fornecer soluções completas para pagamentos online e presenciais.
“A abertura de capital do PagBank PagSeguro foi um marco para nós e para o mercado de capitais, especialmente para as fintechs latino-americanas. A partir deste marco, abrimos a oportunidade de investidores globais serem nossos acionistas e participarem conosco do nosso processo de criação de valor da companhia. Além disso, o IPO foi importante para o nosso processo de expansão tanto das nossas soluções de pagamentos como a para a criação e o desenvolvimento de serviços financeiros, ampliando o processo de inclusão financeira no Brasil”, analisa Alexandre Magnani, co-CEO do PagBank PagSeguro.
“Nosso processo foi singular porque conseguimos mostrar aos investidores e demais stakeholders que era possível promover uma inclusão financeira para os menos favorecidos, tornar o acesso a meios de pagamentos eletrônicos e serviços financeiros acessível e escalável, de maneira rentável. Somos uma das poucas fintechs rentáveis da América Latina”, pontua Ricardo Dutra, co-CEO da empresa.
VTEX (NYSE: VTEX)
Rafa Forte, co-fundadore presidente da VTEX Brasil. (Foto: Divulgação)
Plataforma empresarial de comércio digital na qual grandes marcas e varejistas fazem o mundo do comércio acontecer, a VTEX coloca os negócios de seus clientes em um caminho de rápido crescimento com uma solução completa de Commerce, Marketplace e OMS. A VTEX ajuda empresas globais a construir, gerenciar e entregar experiências avançadas e nativas de comércio B2B, B2C e Marketplace com um time-to-market sem precedentes e sem complexidade.
“A abertura do IPO na NYSE em 2021 foi extremamente importante para expandir a cobertura de nossas soluções e marcar um novo momento da VTEX. Nossa origem é a América Latina, mas o mercado da VTEX é global, por isso para nos posicionar de igual para igual com as big techs, com as quais competimos, precisamos seguir os mesmos padrões de gestão e governança. Vemos um grande potencial de crescimento de receita a longo prazo em mercados como América do Norte e Europa. Os EUA, por exemplo, são um dos mercados de capitais mais maduros para empresas de tecnologia, e estar na bolsa de NY reflete a solidez dos negócios da VTEX. Também acreditamos na transparência, que o processo de IPO traz. Além de marcar esse importante passo em nossa jornada, o IPO da VTEX também representou uma grande conquista para a América Latina como um todo – esperamos inspirar empreendedores de mais mercados emergentes a continuarem elevando o nível de inovação na indústria mundial de software”, Rafa Forte, co-fun- dador e presidente da VTEX Brasil.
Xp Inc. (Nasdaq: XP)
André Martins, head de Investor Relations da XP Inc. (Foto: Reprodução)
A XP é a plataforma líder em serviços financeiros no Brasil. A empresa faz parte da XP Inc., que tem como propósito melhorar a vida das pessoas, promovendo educação financeira e democratizando o acesso a investimentos de qualidade. Fundada em 2001, a empresa criou um modelo inovador de assessoria de investimentos. Maior plataforma de investimentos do Brasil, a empresas dona das marcas XP, Rico, Clear,Mentre outras. A XP Inc. tem mais de 3,6 milhões de clientes ativos e R$ 846 bilhões de ativos sob custódia.
“Entre os diversos benefícios de ser uma companhia listada, acredito que os principais estão ligados ao fato de estarmos conectados com a comunidade global de investimentos. As interações com o mercado nos trazem inteligência, boas práticas de estratégia e governança e, principalmente, a visão externa de analistas e gestores experientes e que acompanham diversas empresas e setores. No âmbito pessoal e profissional, aprendemos diariamente a escutar e entender opiniões que não necessariamente concordamos, mas que abrem nossa cabeça e nos permitem evoluir na jornada de longo prazo que é ser uma empresa de capital aberto”, destaca André Martins, head de Investor Relations da empresa.
Nubank (Nyse: Nu)
David Vélez, CEO do Nubank. (Foto: Divulgação)
O Nubank é uma das maiores plataformas de banco digital do mundo. No segundo trimestre, a empresa atingiu o recorde de 65,3 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia, sendo 62,3 milhões apenas no país e com taxa de atividade de 80%. Durante o primeiro semestre de 2022, o Nubank registrou lucro líquido de US$ 13 milhões no Brasil e ocupa o posto de 4ª maior empresa de cartão do país. No ramo de investimentos, o banco digital é um dos líderes do setor com mais de 5 milhões de clientes ativos. Em relação às tecnologias inovadoras, é uma das empresas que mais expandiu no mercado de criptoativos atingindo o marco de 1 milhão de clientes no Nu Cripto. No âmbito internacional, o Nubank assume o posto número 1 na emissão de cartões de crédito tanto no México quanto na Colômbia, e o objetivo a longo prazo é continuar expandindo.
A empresa abriu capital na bolsa de Nova York em dezembro de 2021, precificando suas ações classe A em US$ 9 cada na NYSE. “O timing do nosso IPO foi estratégico. Levantamos cerca de US$ 2,8 bilhões, o que nos permitiu estarmos bem capitalizados em nossa trajetória de crescimento e visão de longo prazo. O impacto da abertura de capital se reflete nos números: temos uma operação lucrativa no Brasil e aumentamos nossa capacidade de oferecer novos produtos e em cross-sell. Somos a quarta maior empresa de cartão no Brasil e líderes na área de investimentos com 5 milhões de clientes ativos. Também estamos diversificando e ganhando escala com Cripto, Seguros, pequenas e médias empresas e empréstimos pessoais. Certamente o IPO foi crucial para todas essas conquistas”, relata David Vélez, CEO do Nubank.
Captação de investimentos no exterior
O ecossistema de startups no Brasil bateu recordes no ano de 2021: ao todo, foram formados 10 novos unicórnios, como são chamadas as empresas que atingem um valor de mercado acima de 1 bilhão de dólares. De acordo com dados do “Report Retrospectiva 2021” produzido pela plataforma Distrito, as startups brasileiras receberam cerca de US$ 9,4 bilhões em investimentos, quase o triplo do ano anterior. Dentro desse cenário promissor, a internacionalização aparece como um degrau obrigatório no caminho de empresas que buscam crescer e alcançar o tão sonhado IPO (Initial Public Offering).Foi pensando nisso que a Drummond Advisors, consultoria financeira e jurídica especializada em operações cross-border, criou o guia digital “Go Global! Startup”. Com temas como compliance, Equity Compensation, M&A, IPO e FLIP, o conteúdo exclusivo traz um passo a passo para startups que desejam internacionalizar.
O Nubank é uma das maiores plataformas de banco digital do mundo
Ipos: Retomada?
Lucas Dezordi, economista-chefe da TM3 Capital. (Foto: Divulgação)
A desaceleração econômica e a inflação persistente impõem condições restritivas para as economias de vários países, incluindo o Brasil. O reflexo desse cenário ficou bastante visível nas transações comerciais e nos investimentos, com uma carência mais pronunciada de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs), por conta da volatilidade comercial até aqui. A pergunta de milhões é se o final deste ano e 2023 terão um panorama diferente.Dados da Renaissance Capital, empresa americana que pesquisa e investe em IPOs, apontam apenas 53 IPOs neste ano nos Estados Unidos, uma queda de mais de 80% em relação ao mesmo período de 2021.
Análise
Segundo Lucas Dezordi, economista-chefe da TM3 Capital, as perspectivas para o mercado brasileiro em 2022 já não eram otimistas desde o início do ano, uma vez que o país tem marcadas as eleições presidenciais para o mês que vem. “Em 2021, tivemos uma alta liquidez