Marcelo Pimenta, do Serasa Experian: É fundamental que o agronegócio tenha análises tecnológicas customizadas para garantir negociações mais vantajosas
Crédito rural e outras possibilidades de financiamento garantem o crescimento do agronegócio nacional.
O Plano Safra 2022/2023 vai disponibilizar R$ 340,88 bilhões em financiamentos para apoiar a produção agropecuária nacional até junho do próximo ano, elevação de 36% no comparativo ao plano anterior, que disponibilizou R$ 251 bilhões. Os recursos com juros controlados somam R$ 195,7 bilhões e àqueles com juros livres totalizam R$ 145,18 bilhões.
Outra novidade é o aumento de 50% para 70% do uso dos recursos em Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Com isso, a expectativa, segundo o governo, é que a medida gere uma maior participação do mercado de finanças privadas do agro, com a expansão de títulos como a CPR, CDCA, CRA, além da LCA.
Semenado
Francisco Perez, diretor de Novos Negócios, responsável pelo hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG da agrotech Alfa. (Foto: Divulgação)
O engajamento do setor privado para a oferta de crédito já se mostra mais conciso, conforme o acordo anunciado em setembro, quando o Banco Alfa anunciou a coordenação exclusiva da primeira captação de recursos no mercado financeiro da agrofintech E-ctare, no valor de R$ 50 milhões. A operação emitida pela Ecoagro, uma das principais securitizadoras do mercado de capitais brasileiro, foi realizada por meio dos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). Com apenas cinco anos de existência, a E-ctare foi uma das primeiras participantes do Alfa Collab, programa de inovação aberta do Conglomerado Financeiro Alfa.
Segundo Pedro Henrique Silva, superintendente de DCM do Alfa, essa nova operação consolida a relevância do Alfa na estruturação de operações do agronegócio, segmento primordial para a economia brasileira e cresce quando consegue receber recursos viabilizados para a E-ctare, por meio do CRA.
“Também demonstra a preocupação do Alfa em investir em empresas inovadoras como a E-cta- re, que faz parte do hub de inovação Alfa Collab desde o ano passado e tem um perfil alinhado às estratégias do conglomerado”.
De acordo com Francisco Perez, diretor de Novos Negócios, responsável pelo hub de Inovação Alfa Collab e pela Área de ESG do Alfa, a agrofintech já vinha sendo considerada para receber um CRA desde o anúncio de investimento de até R$ 600 milhões, em até três anos, anunciada pelo Alfa Collab no ano passado.
“Desse modo, a startup recebe a primeira emissão com um valor expressivo, que pretende fomentar soluções de crédito ao produtor rural, contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil”, comenta.
Marcell Salgado, CEO e sócio fundador da E-ctare, destaca que essa primeira emissão do certificado é extremamente importante para o momento da empresa. “Nos últimos meses, conseguimos aumentar os valores dos faturamentos mensais em busca de obter uma consolidação entre as agrofintechs que oferecem soluções de crédito para pequenos e médios produtores rurais. Assim, acreditamos que é mais um passo para expandir a nossa base de clientes, além da melhoria dos nossos serviços”.
Poder do crédito
Diante da escassez de crédito para pequenos produtores, mas que representam a grande força e desempenho do setor agrícola, a AgroForte, primeira fintech de crédito para o setor agro, 100% digital, especializada na cadeia de proteína animal, anunciou um programa para financiar pequenos produtores rurais do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Cata- rina, com linhas de financiamento para compra de equipamentos, insumos e custeio. Na primeira etapa, o foco está nos integrados e cooperados das cadeias de leite, frango, suínos e cultura de café.
Desde o início da operação, a AgroForte celebrou doze parcerias nacionais com agroindústrias e cooperativas do setor, dentre elas, Vigor, Grupo Pluma, Avenorte e a Vibra, e os mais de 10 mil produtores ou cooperados já têm acesso às suas linhas de crédito pelo aplicativo. Com ticket médio de R$ 60 mil, limitado a R$ 500 mil, o potencial da startup é de impactar 350 mil famílias brasileiras da cadeia de proteína.
“Acompanhamos a transformação na vida de centenas de famílias em virtude da inclusão financeira e do acesso ao crédito no campo. E este é nosso propósito, o de promover a desburocratização no campo, gerando impacto positivo em toda a cadeia produtiva e no meio ambiente”, afirma Felipe D’Ávila, CEO e sócio da Agroforte.
Score
Marcelo Pimenta, head de Agronegócio do Serasa Experian. (Foto: Divulgação)
Um estudo inédito revelou o impacto do Agro Score, desenvolvido pela Serasa Experian, na avaliação dos credores para a concessão de crédito ao produtor rural. A avaliação dos credores que utilizam a inteligência do Agro Score para mitigar riscos de inadimplência fez crescer em até 46,2% a possibilidade de concessão de crédito aos produtores rurais que possuem o Score acima de 500 pontos.
“Se com o modelo tradicional utilizado pelo mercado, cerca de 61,1% desses trabalhadores teriam acesso a um crédito de qualidade, a expertise do Agro Score foi capaz de aumentar esse percentual para até 89,4%. Ou seja, para cada mil produtores rurais, cerca de 611 estariam aptos ao crédito com o modelo comum de análise. Ao passo que, com o novo Score específico para o agronegócio, esse número cresce para até 894 produtos.”, explica o head de Agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta.
A solução recentemente lançada pela Serasa Experian considera em sua análise o desempenho do produtor rural no mercado financeiro de cooperativas de crédito, comércio atacadista, indústrias de agronegócio, insumos, fertilizantes, maquinário agrícola, entre outros indicadores.
De acordo com Marcelo Pimenta, o estudo demonstra como é fundamental que o setor tenha análises tecnológicas customizadas para garantir negociações mais vantajosas.
“A avaliação dessa solução é mais assertiva, pois são levados em consideração os riscos do comportamento financeiro do produtor no mercado e sua relação com inadimplência relacionada ao agronegócio. Por isso, temos um Score de crédito desenvolvido com modelagem estatística avançada para atender as peculiaridades do agronegócio, um dos principais motores da economia no país”.
Outro ponto relevante desse cenário é a renovação de máquinas e equipamentos agrícolas, uma das premissas para garantir a sustentabilidade e a rentabilidade do agronegócio, mas o crédito escasso e os juros altos podem prejudicar o investimento do produtor brasileiro para a aquisição de novas tecnologias e modernização de frotas. Nesse cenário, o consórcio, por não cobrar juros, tem se mostrado uma alternativa ainda mais vantajosa ao financiamento e um aliado do agronegócio.
Mariton Moraes, responsável pelo Consórcio New Holland, administrado pela Ademicon. (Foto: Reprodução)
“O consórcio funciona bem para produtores de todos os portes manterem seus maquinários sempre atualizados e a um custo mais baixo. Um dos atributos da modalidade é justamente a compra programada, ou seja, o produtor pode fazer um planejamento financeiro para realizar o investimento, ficando com equipamentos sempre novos em uma condição muito melhor porque o único valor embutido na parcela do consórcio é a taxa de administração de cerca de 1,5% ao ano”, explica Mariton Moraes, responsável pelo Consórcio New Holland, administrado pela Ademicon.
Dados do setor mostram aumento na busca pelo consórcio. De acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) as vendas de novas cotas no segmento de pesados – que inclui máquinas e implementos agrícolas – cresceram mais de 53% entre janeiro e maio, na comparação com o mesmo período do ano passado. Já o volume de créditos comercializados aumentou 28% nos cinco primeiros meses do ano, somando mais de R$ 15 bilhões vendidos no período.
No primeiro semestre, somente o consórcio New Holland comercializou mais de R$ 500 milhões em créditos, 45% a mais que o registrado no mesmo período de 2021. Motivada pelo aumento nas vendas, a marca vai lançar neste mês de julho mais um grupo de consórcio. “Observamos que o produtor tem buscado conhecer mais sobre o funcionamento do consórcio. A modalidade oferece segurança, pois evita que ele tenha que enfrentar problemas como as suspensões temporárias de linhas de financiamento que ocorreram este ano”, afirma Moraes.