Em busca de autonomia, público jovem impulsiona mudanças entre os players de investimentos

Inovações permitem que esse público tenha inúmeras opções para investir por meio de aplicativos e plataformas, sem precisar se deslocar até uma agência bancária, e com condições voltadas especialmente para eles.

De-skatista-a-CEO-5-dicas-do-empreendedor-que-faliuJoão Neto, presidente da J&A Holding. (Foto: Divulgação)

Com um mundo de facilidades na palma da mão, a tecnologia favoreceu a jornada financeira dos chamados millennials (nascidos entre 1981 e 1996) e a geração Z (1996 a 2010). As inovações permitem que esse público tenha inúmeras opções para investir por meio de aplicativos e plataformas, sem precisar se deslocar até uma agência bancária, e com condições voltadas especialmente para eles.

A pesquisa “Geração Z e a relação com as Finanças”, da empresa ilegra, revelou que 34% dos jovens conseguem economizar uma quantia da renda mensalmente. As principais motivações para isso são para investir em estudo (34%) ou viagens (30%), o que demonstra que apesar de desejar estabilidade e independência, preferem mais experiências do que bens materiais. “Muito tem se investido em conteúdos – pagos e gratuitos – sobre educação financeira. A medida que as empresas assumiram esse papel informativo, elas também contribuíram para uma maior inclusão dos jovens nesse contexto”, aponta Caroline Capitani, vice-presidente de design digital e inovação na Ilegra.

O novo investidor

Especialistas como João Neto, presidente da J&A Holding, companhia global de serviços financeiro, acreditam que a educação financeira com foco em investimentos deveria, inclusive, fazer parte da grade escolar de todo aluno. “Contribuiria muito para uma população mais consciente e, consequentemente, o país giraria melhor economicamente. A situação financeira da maioria dos brasileiros é negativada, com empréstimos em cima de empréstimos, juros altíssimos, linhas de créditos com taxas abusivas. Isso acontece justamente pela falta de orientação”, avalia.

Para Ernesto Leme, CCO da Claritas Investimentos, o jovem de hoje apresenta um perfil bastante diverso. “O novo investidor da B3 tem, em média, 32 anos. Três em cada quatro são homens, e o valor inicial médio é de apenas R$ 660,00. Nos últimos dois anos, mais de 2 milhões de pessoas se cadastraram na B3, um aumento significativo no interesse pelo mercado acionário brasileiro. Atualmente são cerca de 3.1 milhões de CPFs registrados, um crescimento sem precedentes no país”, detalha.

Fabiano Camperlingo, CEO Latam da fintech SumUp, acredita ser uma geração com visão muito mais definida sobre o que quer para sua carreira. “Independente da motivação, a busca da aplicação desse conhecimento se destaca por ter mais habilidade para lidar com cenários adversos, trazendo mais chances de equilíbrio financeiro mesmo em períodos de alta instabilidade, como em casos de demissão, altas de preços e outros cenários desfavoráveis. Além disso, muitos acompanharam os desafios das gerações anteriores em relação ao dinheiro. No entanto, por mais que hoje haja mais conteúdo e mais vontade de administrar os próprios recursos, ainda falta a experiência de execução”, pondera.

Já na visão de Luís Toscano, vice-presidente de negócios da empresa de consórcios Embracon, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, sem esquecer da segurança na autogestão das finanças é a filosofia dos jovens investidores. “Quem busca o planejamento como meio para alcançar estes objetivos terá uma enorme vantagem relacionada a tempo e dinheiro e evitará grandes desperdícios. O jovem está atento a tudo que pode contribuir para que alcance essas metas, principalmente se as soluções forem simples, humanizadas e que não dependam basicamente de ninguém. E não é à toa que surgem, cada vez mais, produtos e serviços alinhados a esses interesses”, opina.

sumupFabiano Camperlingo, CEO Latam da fintech SumUp. (Foto: Divulgação)

Reinvenção

Com o objetivo de compreender o setor, o estudo “Tecnologia, CX e mercado de investimentos: capitalize as principais tendências deste segmento para 2021”, realizado também pela Ilegra, observou como as relações das pessoas com o tema mudou a partir de novos players, como Nubank, XP Investimentos, Easynvest, Rico e Clear Corretora. O relatório também indica insights para auxiliar as instituições a modificarem seus modelos de negócios. “São novos comportamentos de investidores, que priorizam a escolha de ações de empresas que se preocupam com ética, posicionamento ambiental, sustentabilidade, causas sociais, soluções em tecnologia e analisam a postura dos líderes”, revela Caroline Capitani.

Segundo o presidente da J&A Holding, o mercado vem passando por uma mutação muito grande, com quebras de paradigmas. “O brasileiro tem muita criatividade e o Banco Central está abrindo as portas para o setor financeiro evoluir com iniciativas diferenciadas, um passo importante para surgir novidades com custos mais acessíveis. A tendência é só melhorar, visto que já estamos avançando em passos largos”, destaca João Neto.

Na visão do executivo da Claritas, os bancos digitais e outras plataformas de investimento trouxeram uma contribuição bastante importante para o mercado, não só por viabilizar acesso de clientes menores a produtos mais sofisticados, mas também por simplificar o vocabulário, muitas vezes árido para os leigos. “Porém, estamos engatinhando no que tange ao conhecimento financeiro da população quando comparado com a Ásia, Europa e Estados Unidos. Por muito tempo, praticamos uma das taxas de juros reais mais altas do mundo. Com a queda, muitos procuraram novas alternativas potencialmente mais rentáveis, mas com um maior grau de risco, como o mercado acionário. O percentual de investimento do brasileiro em renda variável ainda é inferior ao verificado em países mais desenvolvidos, o que evidencia o longo caminho pela frente”, finaliza Ernesto Leme.