Eduardo Menicucci: diante da alta volatilidade e restrição à liquidez, o setor de criptoativos tende a sofrer ainda mais do que os mercados tradicionais
Moedas digitais, projeto de lei de regulamentação em andamento e web 3.0: o que esperar do mercado cripto.
Eduardo Menicucci, professor Associado rm Economia e Finanças da Fundação Dom Cabral (FDC) (Foto: Divulgação)
Um consenso no setor financeiro aponta que o surgimento da primeira criptomoeda aconteceu em outubro de 2008. Entretanto, após 14 anos de existênci esse é um mercado que segue em formação.
“Ainda não é uma área totalmente compreendida. É ousada e inovadora. Como praticamente não possui regulação, carrega um caráter bastante especulativo”, afirma Eduardo Menicucci, professor associado em economia e finanças da Fundação Dom Cabral (FDC).
O momento tem sido chamado de inverno cripto, com forte desvalorização das moedas digitais. Para se ter uma ideia do tamanho do rombo, o saldo de transações de criptomoedas chegou a somar US$ 3 trilhões em novembro do ano passado e agora está em US$ 895 bilhões.
“Nos momentos de alta volatilidade e restrição à liquidez, o setor de criptoativos tende a sofrer ainda mais do que os mercados tradicionais. Assim, como a expectativa ainda é de volatilidade alta, não há como afirmar se as desvalorizações terminaram. A depender dos mercados de renda variável, a expectativa é de mais ajustes, para baixo”, alerta Menicucci.
A guerra na Ucrânia fez com que as commodities subissem de preço ocasionando um processo inflacionário em todo mundo. Como consequência, para tentar conter a inflação, vários governos aumentaram a taxa básica de juros, incluindo os Estados Unidos.
“Tivemos o início de uma evasão do mercado de criptomoedas para o de renda fixa”, afirma Luís Goes, CEO do LGBank, instituição dedicada à tecnologia blockchain e criptomoedas.
Em maio deste ano, o investidor ficou receoso após a criptomoeda Luna perder 99,98% do seu valor em apenas sete dias. “Tivemos US$ 40 bilhões de investidores evaporando numa moeda que se acreditava ser estável, precificada junto com o dólar. O fato abalou o mercado e a confiança dos investidores. Mas as moedas digitais subirão de novo, inevitavelmente”, acredita Goes.
Conforme levantamento solicitado pela revista LIDE à Rental Coins, gestora de criptoativos, em 20 de junho de 2022, o Bitcoin, principal moeda digital, estava cotada em US$ 20 mil, desvalorização de quase 70% na comparação com novembro de 2021 quando chegou a US$ 65 mil. Mesmo assim, seu valor durante este estudo ainda era superior ao mínimo atingido pela moeda, de US$ 5 mil, logo após seu primeiro pico de crescimento, em 2017, período em que era cotada em US$ 17 mil.
“O Bitcoin puxa todo o mercado. O entusiasta que chegou no final de 2021 está sentindo a queda. Dependendo da forma como o investidor entrou no ativo, ele pode perceber um crescimento máximo ou um crescimento mínimo”, afirma Rafael Serradura, diretorcomercial da Rental Coins.
Rafael Serradura, diretor comercial da Rental Coins (Foto: Divulgação)
Web 3.0
A internet está passando por uma grande transformação e entender esse processo tem tudo a ver com criptomoedas, afinal, é nela que habita a blockchain, tecnologia que dá vida às moedas digitais. Já passamos pela Web 1.0, estamos na Web 2.0 e o próximo passo é encarar a Web 3.0, onde há a proposta de uma internet descentralizada, que deixa um cenário monopolizado por instituições e passa a ser controlada pelos próprios usuários. Durante o LIDE Next Economia 3.0, que ocorreu no final de maio, Lucas Rabecchini Amaral, diretor de produtos financeiros da XP Investimentos, conseguiu definir os estágios da internet com um exem- plo prático, uma fração sobre o que se trata cada uma das fases, mas que oferece uma dimensão de onde estamos e para onde vamos. Segundo o especialista, na web 1.0, que durou até 2009, o usuário se autenticava em um site mediante o fornecimen- to de seus dados cadastrais. A partir daí, ele recebia um e-mail com uma senha temporária, a trocava por uma permanente, e somente então conseguia estar definitivamente logado.
Na web 2.0, a qual vivenciamos no momento, essa forma de login foi simplificada. “O Facebook e o Google, por exemplo, têm informações dos usuários, o que permite fazer o login em grande partes dos sites”, afirmou Almeida. Na Web 3.0, o usuário poderá se logar com o MetaMask, um carteira de criptomoedas, que conterá todas as suas chaves privadas armazenadas. Ao fazer login em um site para com- prar um produto a estimativa é que não serás neces- sário usar dinheiro real ou digitar dados cadastrais e de cartão de crédito. “Toda transferência de valor entre o ser humano A e o B ou entre a entidade A e B vai ser feita de maneira transparente”, explicou.
Índices
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