Confiança nos próximos meses e a oferta de produtos inovadores garantem nova perspectiva ao mercado financeiro
Os altos volumes negociados nas plataformas B3 ao longo de 2020 contribuíram para a composição de sólido desempenho financeiro e robusta geração de caixa.
Gilson Finkelsztain, da B3: resiliência nos permitiu sustentar transações com estabilidade. (Foto: Divulgação)
Mesmo longe da máxima do ano em 125.076 pontos atingida em janeiro, o Ibovespa encerrou o mês de março com alta de 6% impulsionado não só pelas commodities, mas também por empresas que tendem a se beneficiar com a reabertura da economia. Neste momento, Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, aponta que é preciso observar como evoluem três pontos principais: juros, vacinação e andamento das reformas administrativas e tributárias. “Estou ficando mais otimista. Se o pico da segunda onda da pandemia estiver próximo, o horizonte pode ficar mais claro e reduzir o risco do capital, além de ser positivo para o mercado”, diz.
Segundo Aragão, o momento é de aumentar posições na bolsa para “surfar” no crescimento de confiança que vai vir com a vacinação se expandindo pelo país. “Se o cenário de confiança vier, teremos aumento de consumo, demanda de serviço, otimismo do empresariado, surgimento de vagas de emprego e aí sim podemos ter uma perspectiva de crescimento, principalmente, para o segundo semestre. No ano, corremos o risco de crescer mais do que em 2019. Se essa retomada acontecer, sem influência política para atrapalhar, podemos ter um semestre bem positivo”, completa.
Apesar das constantes incertezas, o Brasil se mantém como um ambiente estrutural atrativo para o desenvolvimento do mercado de capitais. Para Gilson Finkelsztain, presidente da B3, a captação das empresas continuou a crescer no quarto trimestre de 2020, motivada pelo baixo custo de capital e pela propensão dos investidores locais a buscarem alternativas de diversificação dos seus portfólios. “O compromisso com excelência operacional e resiliência nos permitiu sustentar um volume muito maior de transações com estabilidade em nossas plataformas, e isso fortalece nossa posição como infraestrutura robusta e segura para os clientes e o mercado”, ressalta o executivo.
Os altos volumes negociados nas plataformas B3 ao longo de 2020 contribuíram para a composição de sólido desempenho financeiro e robusta geração de caixa, que ultrapassou a marca de R$ 6 bilhões no ano. Os proventos distribuídos aos acionistas no exercício somaram R$ 6,2 bilhões, o equivalente a R$ 1,2 bilhão em Juros sobre o Capital Próprio (JCP), R$ 4,1 bilhões em dividendos, e R$ 0,9 bilhão em recompras de ações.
Mais investidores
De acordo com a pesquisa realizada pela NZN Intelligence, os brasileiros decidiram ampliar seus investimentos apesar da pandemia. Segundo o levantamento, 80% dos entrevistados começaram algum tipo de aplicação desde março do ano passado. A pesquisa identificou também que 28% dos entrevistados buscam uma oportunidade de renda extra e segurança. “Os brasileiros começaram a enxergar que existe muito mais do que a poupança para investir seu dinheiro, até mesmo outros meios que apresentam um retorno financeiro muito mais vantajoso”, explica Alexandre Carvalho, CFO da NZN. Conforme a pesquisa, 23% dos entrevistados não investiram durante a pandemia, mas pretendem fazê-lo após esse período, sendo que 37% devem aplicar na Bolsa de Valores e 33%, em CDI ou CDB.
Marcelo Cambria, coordenador do curso de Pós-graduação de Mercado de Capitais da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), destaca que os investidores precisam de tranquilidade e previsibilidade para fazer aportes de longo prazo, sendo este um dos mecanismos para a geração de novas vagas de emprego. O professor explica que, nos últimos meses, os brasileiros tiveram ao mesmo tempo uma confrontação com taxas de juros muito baixas por um período agora estendido e nunca antes visto, ao mesmo tempo em que se popularizou o acesso à informação por redes sociais e diversos canais – comportamentos adutores do interesse em aplicações financeiras. “No entanto, investir neste momento requer um plano consistente e uma posição definida sobre o que se quer para escolher adequadamente o investimento pela taxa, risco e liquidez”, salienta.
Guilherme Benchimol, da XP: acreditamos em uma transformação do segmento de cartões. (Foto: Divulgação)
Bom desempenho
O Banco Safra, por exemplo, considera os investimentos pela ótica de oferecer rentabilidade, mas com segurança. Nesse sentido, o foco é que seus clientes tenham carteiras de médio e longo prazos que proporcionem bom desempenho e naveguem bem em momentos de incerteza, como o atual. Há oportunidades em todas as classes de ativos e uma composição ideal para cada perfil de investidor, que é ajustada de acordo com as mudanças do cenário”, afirma Jorge Sá, estrategista de investimentos do Banco Safra.
O executivo explica que, na composição das carteiras a instituição prima por recomendar uma proporção grande de fundos multimercados, pelas características desse produto de grande flexibilidade na escolha e agilidade na composição de sua cesta de ativos, tendendo a trazer rentabilidade com segurança nos mais diversos cenários. “Procuramos trazer para as carteiras, dentro de cada classe de produtos, opções que fazem esse papel de rentabilidade com segurança, procurando, quando for o caso, indicar fundos de gestão ativa, créditos de boa qualidade, exposição internacional criteriosa ou estruturas protegidas de COEs dentro das melhores tendências de mercado e além de mais adequadas às circunstâncias no mercado”, detalha o executivo.
Para os próximos anos, Jorge Sá ratifica o objetivo da instituição em aumentar a oferta de produtos de alta qualidade voltados para os investidores pessoa física, com uma grade de produtos que se adapte de forma ágil às condições do mercado, mantendo as suas características do padrão Safra na criação de produtos. “Ao mesmo tempo, teremos uma equipe altamente especializada no apoio às decisões de investimento dos clientes, auxiliando na melhor opção para cada momento de vida. E, por fim, seguiremos avançado em melhorias técnicas de processo e acesso que facilitem e simplifiquem as transações, trazendo resultados efetivos para o cliente em termos de usabilidade, eficiência, rentabilidade e acesso à informação”, acrescenta.
Novos mercados
Já a XP Investimentos, após a fase de testes realizados com os seus funcionários, clientes e agentes autônomos, anunciou a entrada no mercado de cartões com o lançamento do Cartão XP Visa Infinite. O objetivo é atender cada vez mais todo o ecossistema financeiro dos clientes, incluindo pagamentos, compras e, principalmente, investimentos.
Como diferenciais competitivos, o cartão permite o retorno de 1% em todas as compras e entre 2% a 10% para compras dentro do marketplace, em que o valor acumulado vai diretamente para o Fundo Investback, podendo ser reinvestido de acordo com o perfil de cada um ou mesmo ser resgatado, ressalta o fundador e CEO da XP, Guilherme Benchimol. “Nosso plano é revolucionar o mercado de cartões de crédito no Brasil, assim como fizemos com os investimentos. Acreditamos em uma transformação do segmento em que os cartões deixam de ser vilões do endividamento e passem a aliados para aumentar o potencial de investimento dos clientes”, afirma.
Em linha com o propósito de democratizar o acesso aos melhores investimentos, o BTG Pactual anunciou ao mercado, no início de abril, o lançamento do primeiro fundo de bitcoin desenvolvido por uma instituição brasileira. O BTG Pactual Bitcoin 20 Fundo de Investimento Multimercado será gerido pela BTG Pactual Asset Management e distribuído pela plataforma do BTG digital. “Queremos aproveitar toda robustez, tecnologia e estrutura bancária que já possuímos para oferecer vantagem competitiva e democratizar o investimento em bitcoin, moeda que mais cresce dentro do segmento de criptomoedas, e com um produto mais acessível em termos de custo para o investidor", afirma Will Landers, head de renda variável da BTG Pactual Asset Management.
O cenário de queda na taxa de juros global vem reduzindo a atratividade de produtos de renda fixa, despertando o apetite do investidor para o mercado de capitais, e a disposição para risco. Ao mesmo tempo, grandes empresas começaram aplicar em criptomoedas, aumentando a relevância deste mercado e despertando o interesse de investidores. O fundo investirá 20% do patrimônio em Bitcoin, e é o primeiro de uma série de produtos que o banco está desenhando dentro do universo das criptomoedas, justamente porque é a que tem maior volume de operações o mundo.
Jorge Sá, do Safra: há oportunidade em todas as classes de ativos. (Foto: Divulgação)
Crescimento dos negócios em 2021
De acordo com a quarta edição da "Pesquisa nacional sobre o impacto da Covid-19 nos negócios", realizada pela KPMG, 40% dos empresários do Brasil acreditam que o faturamento para 2021 terá um aumento entre 10% e 25%. Outros 27% preveem um crescimento de até 10% e 21% afirmam que a previsão é que o faturamento este ano será muito próximo ao de 2020. Para 10%, o faturamento em 2021 deve aumentar mais de 25% e para 2% haverá uma diminuição de mais de 50%.
O levantamento contou com a participação de 49 empresários de todas as regiões do Brasil, pertencentes aos setores de agronegócio; consumo e varejo; energia e recursos naturais; governo; mercados industriais; infraestrutura; serviços financeiros; tecnologia, mídia e telecomunicações; e serviços.
A pesquisa também mostrou qual é a estimativa dos empresários quanto ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2021: 42% dos executivos acreditam que haverá crescimento de até 3%. Para 17%, o aumento deve ser de até 4%; para 15% será de até 2%; para 10% irá crescer até 1%; para 6% irá aumentar até 5%; para 4% será de até 6%; para 2% será acima de 6%. Apenas 4% responderam que o crescimento do PIB do Brasil será zero ou negativo em 2021.