Campos Neto: 'BC vai continuar trabalhando para garantir que o sistema financeiro do futuro seja mais eficiente'
Open Finance, tokenização e sustentabilidade: a pauta estratégica do BC que torna o sistema financeiro nacional um dos melhores do mundo.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. (Foto: Divulgação)
Presidente do Banco Central desde fevereiro de 2019, Roberto Campos Neto conduz uma agenda que revolucionou as operações financeiras no país, com foco em beneficiar diretamente a população, principalmente os “desbancarizados”. A instituição divulgou, em março, suas prioridades para a regulação do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em 2024.
De acordo com o BC, a inovação é chave para o aumento da eficiência do sistema financeiro, em suas várias dimensões: inclusão, competição, desenvolvimento de produtos e serviços. O Open Finance, por exemplo, já registrou algo em torno de 1,4 bilhão de chamadas para troca de informações, milhões de consentimentos e vários produtos e serviços sendo oferecidos.
“Cada vez mais as pessoas vão conseguir concentrar dados em determinadas plataformas, comparar e migrar de uma instituição para outra com o objetivo de ter mais produtos sob medida a preços mais accessíveis, tudo em tempo real”, enfatiza Campos Neto.
Mais digital
A tokenização de ativos é outro foco de atuação da área de regulação do BC para este ano. Estão surgindo diversos produtos e serviços no âmbito do sistema financeiro que envolvem este processo digital. A autarquia esclarece que a tokenização é a representação de valor ou direito contratual, protegido por criptografia, mantido em sistema de registro distribuído e passível de custódia, transferência e negociação em meio eletrônico. O Banco Central também monitora o uso de novas tecnologias por parte das instituições reguladas.
Neste sentido, Roberto Campos Neto defende a aplicação de um marketplace financeiro para tornar inclusivo e sustentável o sistema bancário.
“A ideia é que o marketplace de finanças gere um ambiente em que as pessoas ficam bancarizadas, tenham educação financeira, possam receber sugestões de ações por meio de inteligência artificial e, também tenham gestão do seu fluxo financeiro”, afirmou o presidente do Banco Central. Campos Neto destacou que o super app do BC integra o próprio Open Finance e o Drex (o real em formato digital emitido pelo BC).
Reconhecimento
De 2019 até hoje, o BC contabiliza 35 prêmios, entre reconhecimentos nacionais e internacionais. Em março, a instituição venceu o “Central Banking Awards” na categoria principal neste ano, sendo eleito o “Central Bank of the Year 2024”.
A premiação internacional reconheceu o importante papel desempenhado pelo Banco Central na sociedade brasileira, em especial desde 2021, quando foi aprovada a autonomia da instituição. O BC foi lembrado pelo seu papel no combate à inflação, na modernização do sistema financeiro nacional, na atuação internacional e no combate aos efeitos das mudanças climáticas no setor financeiro.
Para a Central Banking, o BC “tem se esforçado para controlar a inflação ao mesmo tempo em que moderniza o sistema financeiro do país. Ele melhorou sua transparência e comunicação, reformou sua abordagem para intervenções no câmbio e deu suporte à estabilidade financeira, além de ter transformado digitalmente seus próprios processos, ter dado escala ao seu sistema de pagamentos instantâneos e ter incluído esforços para incorporar o ‘real digital’ em sua estrutura”.
Resultados
“Esse prêmio é um reconhecimento da excelência do nosso corpo técnico, cujo trabalho tem contribuído para a estabilidade do poder de compra da nossa moeda e para a solidez e eficiência do sistema financeiro brasileiro. Após os grandes choques que afetaram a economia global nos últimos anos, o BC atuou de forma proativa. Essa estratégia vem gerando resultados positivos, reduzindo a inflação com menores custos em termos de atividade econômica”, avalia o presidente o Banco Central.
Campos Neto reforça que o BC tem implementado uma ampla agenda de inovação, responsável pela inclusão financeira de milhões de brasileiros. “Iniciativas como o Pix, o Open Finance e o desenvolvimento do Drex promovem a eficiência e a modernização do sistema financeiro”, aponta.
“Também adotamos uma agenda de sustentabilidade, alinhada às demandas da sociedade”, complementa. Por fim, destaca que o Banco Central vai “continuar trabalhando para garantir que o sistema financeiro do futuro seja mais eficiente, competitivo, sustentável e inclusivo”.
Por que a autonomia do Banco Central é tão importante para a economia e para o país?
Tivemos um trabalho árduo de convencimento do Executivo e do Legislativo, depois o tema foi judicializado e, também, atuamos para esclarecer a importância da autonomia do BC no Supremo Tribunal Federal. Este foi um processo duro e de muita conversa e peregrinação para explicar o seu significado.
Considero que esta foi uma grande vitória para o BC e uma vitória institucional para o país, aproximando o Brasil das melhores práticas globais. A autonomia nos ajuda a separar o ciclo da política monetária do ciclo político, o que gera um ganho enorme para a nação. O Brasil saiu maior, o BC saiu maior e todos nós fomos beneficiados. Essa postura coloca o Brasil em um nível de senioridade mundial diferente, participamos de fóruns de governança com outros bancos centrais já com outra roupagem.
Qual a origem da agenda BC# e o que ela significa para a instituição e para a sociedade?
Tínhamos uma agenda chamada BC+ com um viés de competição e foco na parte da melhoria de pagamentos. Foram tomadas várias medidas no passado ligadas aos temas em destaque, o que a gente queria era fortalecer a tecnologia e a inovação, mas com uma roupagem diferente. Queremos focar agora nos pilares de sustentabilidade e inclusão no sistema financeiro, sempre com uma dimensão mais digital.
O que o BC tem a ver com sustentabilidade?
Esse é um grande debate ainda hoje entre outros bancos centrais. O tema é relevante por conta das consequências do impacto ambiental. Entendemos que as mudanças climáticas estão intrinsicamente ligadas ao nosso trabalho, pois temos de um lado uma correlação muita grande com o preço de alimentos e os fenômenos naturais, por exemplo. Avaliamos que o Brasil e o mundo precisam evoluir em seu mercado de carbono, já temos uma enorme possibilidade de preservar a as florestas nativas.