"Câmbio favorável para exportação e preços domésticos em níveis máximos continuarão sendo os grandes patrocinadores do crescimento", avalia Paulo Sousa
Alta do dólar tornou os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional e deve proporcionar novos recordes para o agronegócio em 2021.
Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, diz que a empresa está tendo um ótimo desempenho. (Foto: Divulgação)
Enquanto a economia retrocedeu 9,7% no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses dos ano, a agropecuária teve bons resultados mesmo diante da pandemia e impediu um recuo ainda maior da atividade econômica nacional. Com variação positiva de 0,4% no período, o segmento avançou 1,2% na comparação com o segundo trimestre de 2019, De acordo com a metodologia do IBGE, a agropecuária tem pouco peso no cálculo do PIB, cerca de 5%, no entanto a soma de toda a cadeia produtiva, que envolve indústrias e serviços oriundos da atividade, pode chegar a mais de 20%.
Maurício Moraes, sócio e líder de agrobusiness da PwC Brasil, diz que produção recorde, apetite por produtos brasileiros e o câmbio favorável permitiram o crescimento das exportações da agroindústria.
“Durante o primeiro semestre de 2020, houve forte exportação de soja, milho e açúcar, com destaque para os bons preços da soja no período que, aliados ao câmbio, contribuíram para os resultados divulgados. A safra 2019-2020 foi recorde e a tendência é repetir o desempenho na de 2020-2021", ressalta.
Bianca Moura, especialista em grãos da consultoria Mesa Agro da Terra Investimentos, mostra que a alta do dólar tornou os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. “Como nosso produto ficou mais barato para o comprador estrangeiro, ganhamos mais espaço no mercado internacional. Além disso, não tivemos paralisações em nossos portos nem nos momentos mais críticos da pandemia”, diz.
A especialista analisa que a exportação foi um grande colaborador para o desempenho do setor, com embarques recordes de soja e milho em ritmo acelerado de vendas para outros países. “Além disso, tivemos produtor bem capitalizado segurando as ofertas, o que fez com que os preços subissem para patamares recordes”, destaca. Segundo ela, o PIB do setor agropecuário brasileiro está em alta e deve se manter assim para nos próximos meses. “O produtor precisa aproveitar as boas margens do momento para investir em safras futuras, estamos em um momento oportuno para aumentar a competitividade do produtor rural”, indica.
Desempenho
Já a especialista em boi da Mesa Agro da Terra Investimentos, Fabiana Traina, afirma que o que puxou o bom desempenho das exportações de carne bovina neste ano foi a crescente demanda chinesa. Além disso, o déficit de proteína animal causado pela peste suína africana atingiu a Ásia e a Europa.
“Junto com a crescente demanda externa, o atual nível cambial possibilitou às indústrias exportadoras uma melhora significativa em suas margens, podendo assim pagar mais pela arroba do boi. Atrelado a isso, temos a retenção de fêmeas, característica da virada do ciclo agropecuário, para produção de bezerros, que se encontram hoje nas máximas históricas de preço”, explica.
Para que esse bom desempenho continue, Fabiana acredita que deve haver uma política externa construtiva, abrindo cada vez mais mercados para o nosso agro como um todo. Segundo a especialista, a demanda externa veio para ficar, o Brasil hoje é referência na produção de carne e deve seguir atendendo toda a demanda mundial. “Vimos uma recuperação econômica forte pós-pandemia, o que com certeza deve sustentar os preços do boi no médio prazo”, avalia.
O vice-presidente de vendas e marketing da Yara Brasil, Cleiton Vargas também tem fortes expectativas com relação ao protagonismo do Brasil na agricultura mundial e diz que o ano de 2020 certamente foi um dos maiores desafios já vividos. “Essa relevância no mercado mundial tende a crescer nos próximos anos, com a combinação de características que favorecem a atividade como clima, água, terra arável e a adoção de tecnologias e práticas sustentáveis”, garante.
De acordo com o executivo, apesar das particularidades do momento, é possível considerar que este é um período positivo. “Isso vale para a Yara e para o mercado de fertilizantes. As negociações com os clientes continuam a pleno vapor, também beneficiadas pela relação de troca, que é a melhor dos últimos dez anos. Além disso, o produtor está cada vez mais técnico e consciente sobre a importância da nutrição de plantas para obter a produtividade desejada”, afirma.
A Yara, no início da pandemia, se movimentou rapidamente para manter o mercado em pleno funcionamento e entregar soluções nutricionais para ajudar o produtor na tarefa de aumentar a produtividade e conservar o mercado abastecido. Neste período, promoveu dezenas de webinars para preparar o agricultor, realizou visitas e eventos online – mantendo o relacionamento com o campo.
“Por meio de ferramentas digitais, estamos oferecendo a melhor experiência online para nosso cliente, viabilizando a continuidade dos seus negócios e promovendo o conhecimento para que ele esteja preparado para qualquer cenário e em condições de tomar as melhores decisões”, conta o executivo.
Ao longo dos últimos anos, a empresa investiu fortemente no Brasil. “De 2012 até o final de 2021, investiremos cerca de R$ 15 bilhões no país para ampliar operações. Entre os maiores investimentos estão a ampliação do Complexo de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, e a conclusão do Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre (CMISS), na região do Alto Paranaíba, em Minas Gerais”, detalha Vargas.
Alta do dólar tornou os produtos brasileiros mais competitivos. (Foto: Fotos Públicas)
Mais investimentos
Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil, diz que a empresa está tendo um ótimo desempenho nas exportações e que, apesar da pandemia, não houve tantos impactos no mercado interno.
“A logística funcionou muito bem, apesar da pandemia. O mercado global, com preocupações quanto a eventuais interrupções de abastecimento, comprou bem. A desvalorização do Real brasileiro, ajudou o produtor. Um alinhamento de coisas positivas, que deve trazer ainda mais incentivo para um aumento da produção em 2021”, diz.
Mas ele ressalta que isso só será possível por meio de mais tecnologia aplicada, e conversão de áreas de pastagens em lavoura.
Nos últimos anos, só na rota do chamado “arco norte”, a Cargill investiu R$ 180 milhões para a construção de uma Estação de Transbordo de Cargas (ETC) em Miritituba, no rio Tapajós, com capacidade para até 3,5 milhões de toneladas por ano em transbordo de caminhões para barcaças, além de R$ 120 milhões na frota própria de empurradores e barcaças para operar no trecho Miritituba – Santarém. “Investimos cerca de R$ 230 milhões na ampliação de capacidade – de 2 para 5,5 milhões de toneladas/ano de capacidade – do terminal que operamos no porto de Santarém”, lembra.
A empresa também segue os planos de construção, em andamento, da nova fábrica de pectina, localizada em Bebedouro, interior de São Paulo. Trata-se de de agente texturizante versátil, à base de frutas cítricas, conferindo diferentes funcionalidades, tais como estabilização, espessamento e gelificação, amplamente utilizado na indústria de alimentos para preparação e obtenção de bebidas lácteas, geleias, sucos, doces de fruta, balas etc. Esse projeto não expande apenas as possibilidades no mercado global de pectina, mas também reforça a inovação do portfólio da empresa e a possibilidade de ofertar aos seus clientes maior flexibilidade nos blends para atender diferentes necessidades de aplicação.
Acompanhando as mudanças no comportamento dos consumidores, a Cargill também vislumbra alterações nos seus produtos. A empresa continuará a jornada de investimento na inovação e geração de valor para clientes, tanto nas linhas de óleos para consumo como de atomatados. Novas apresentações e novos formatos farão parte dessa agenda. As marcas principais como, Liza, Elefante, Pomarola estarão mais próximas dos consumidores com foco estratégico em comunicação digital. Além disso, a companhia investe no fortalecimento dos negócios em food service, principalmente no cenário pós-pandemia, e nas soluções para o segmento food industry.
Paulo Sousa aponta que a agricultura brasileira continuará sendo beneficiada em 2021 pelo cenário político e econômico mundial. A demanda por produtos agrícolas brasileiros – grãos e carnes – na China está e seguirá aquecida, não apenas pela recuperação econômica local, mas também pela perda de oferta de carnes causada pela Peste Suína Africana na região.
“Outros fatores como o câmbio favorável para exportação e preços domésticos no Brasil em níveis máximos históricos, continuarão sendo os grandes patrocinadores do crescimento de área plantada, produção (caso sejam mantidas as condições climáticas usuais, sem gerar grandes perdas ou quebras na safra) e exportação no próximo ano”, conclui.