Dominguinho, de João Gomes, conecta gerações e mostra como a música brasileira segue caminho similar ao de Bad Bunny em Porto Rico
Alejandra Olea, da Believe, analisa como o público brasileiro fortalece artistas locais e projeta a música nacional no cenário global.
Alejandra Olea, Managing Director de Américas da Believe. (Foto: Divulgação)
O mercado brasileiro de música vive um momento de expansão acelerada, marcado pela ascensão do streaming e pela força dos gêneros regionais que atravessaram fronteiras e ganharam escala nacional. Esse movimento colocou o país na 7ª posição entre os maiores mercados globais em 2025, dois degraus acima do ranking de dois anos atrás. Para empresas do setor, trata-se de um cenário estratégico que redefine modelos de negócio e amplia oportunidades para artistas locais.
A Believe, distribuidora digital de origem francesa, acompanha de perto essa transformação. A companhia inaugurou seu escritório no Brasil em 2024 e já mira novas frentes de crescimento, apostando na diversidade cultural do país e na alta taxa de consumo de música local. Alejandra Olea, Managing Director de Américas da Believe, detalha a visão da empresa sobre o potencial do mercado e os planos de expansão em um ambiente de concorrência crescente.
No ano passado, a Believe Music inaugurou um novo escritório no Brasil. Como você analisa a indústria da música nacional neste período?
Crescimento contínuo. Essas seriam minhas duas palavras para a indústria brasileira nesse período. O Brasil foi do 9° maior mercado de música global para o 7° em 2025. Subiu duas posições em um período de dois anos. E vale destacar o México, que subiu para a 10° posição, substituindo a Austrália. Então o que eu vejo é um crescimento contínuo de gêneros regionais que estão se tornando nacionais e que também estão se tornando cada vez mais conhecidos na América Latina e no mundo. A nossa abertura de escritórios é um reflexo desse crescimento contínuo. Nós queremos crescer junto com o mercado. Queremos seguir o que estamos vendo na indústria e é isso que estamos vendo. O Brasil está bombando. Existem vários "Brasis" dentro do Brasil. A música que antigamente era regional agora já é nacional. Isso não costumava acontecer antes do streaming. Agora a música regional pode penetrar outros territórios.
Como o Brasil se posiciona hoje nos negócios da Believe? O que o mercado nacional tem de diferente dos outros em que a companhia atua?
Primeiramente, a variedade de opções brasileiras é extremamente rica. Como eu disse, existem vários "Brasis" dentro do Brasil. Vários gêneros musicais, misturas e intérpretes. Em segundo lugar, em todo o mundo, o Brasil é um dos maiores consumidores de música local. Isso significa que a maioria da população brasileira consome artistas brasileiros. Com a internet obviamente existe consumo de música internacional, mas é um número muito baixo em comparação com artistas locais, especialmente se você comprar com outros países da América Latina. Reforço que com o streaming estamos vendo um crescimento contínuo nesse mercado e ainda não chegamos a atingir seu potencial completo, enquanto outros mercados já estão em um estágio mais avançado nesse sentido.
Um dos projetos recentes de grande sucesso é o ‘Dominguinho’ (João Gomes, Mestrinho e Jota.pe), que traz esse resgate cultural e musical do Brasil. Como você analisa essa repercussão, que é gigante no digital e no presencial também, agora com a turnê?
Eu sou apaixonada por esse projeto. É sobre voltar para as suas raízes. Primeiramente, ele reúne três indicados/contemplados pelo Grammy Latino, o que já é muito impactante. Depois acredito que ele nos lembra o que há de melhor e nos leva de volta para a simplicidade do gênero do forró. O jeito que eles se apresentam, os instrumentos usados, nos levam para uma época mais simples onde se tinham menos influência do eletrônico e outras referências, é uma abordagem mais simples mesmo. É uma música que consegue chegar em uma geração mais nova ao mesmo tempo em que presta homenagem aos artistas mais clássicos.
Na versão ao vivo, tem releituras de clássicos do forró. Acho que é uma forma de você apresentar essa música para novas gerações. Essa pergunta me fez lembrar do DVD "Acredite", do João Gomes, que é um resgate às raízes e também na residência de show que o Bad Bunny está fazendo em Porto Rico. Então, para sintetizar, acho que o grande impacto desse projeto é entender de onde viemos para saber para onde vamos.
Como você descreve o comportamento digital do brasileiro em relação ao consumo de música?
Primeiro, a penetração contínua dos streaming. Acho que a geração mais nova está abraçando muito essa nova forma de consumir música e ficando cada vez mais distante de formas mais tradicionais. Isso gera também um novo comportamento de engajamento com o seu artista. Eles querem estar frente a frente, pela tela do celular. Além de compartilhar sua música, os artistas também são pressionados a compartilhar sua vida, o que eles estão pensando, não apenas o produto final mas também seu processo criativo, com quem eles estão gravando, como está sendo a gravação... Esse consumo digital criou um fã muito mais engajado, que espera um contato mais autêntico com o seu artista, ao mesmo tempo que, mais imediato também. Os artistas já não são mais aquelas estrelas distantes. Eles engajam tudo muito rápido e esperam estar muito mais perto deles.
Quais são os planos da Believe para o Brasil? É possível esperar novos projetos?
Crescimento contínuo. Nós queremos investir mais em serviços de artistas. Como? Vamos nos dedicar a entregar um time de suporte que vá da parte criativa, A&R, vídeo, áudio, e tudo que está envolvido. Outra coisa é o alto investimento com os pés no chão. Não só atingir Rio e São Paulo, mas termos uma grande presença em Fortaleza e em outras regiões. Quando eu falo em expertise não é apenas um plano para o futuro, mas uma realidade para o presente. É preciso ter uma força de trabalho diversa que coloque no centro a igualdade de gênero. Ao menos 60% dos líderes locais da Believe são mulheres.
6Como a Believe pretende se diferenciar no mercado brasileiro diante da forte concorrência do crescimento de players locais? Criando boas parcerias. E parece muito simples, né? Mas acho que uma boa parceria é difícil de encontrar. É necessário transparência, respeito, expertise e também um alto nível de serviço. Eu ligo, você atende, eu pergunto, você responde. Eu não dou apenas um comunicado brando e geral, eu faço o follow-up das minhas medidas e ações, eu te auxilio e mostro o que os seus dados estão dizendo... Parceiros incríveis é o que nos diferencia. Nós também queremos nos diferenciar da teoria "quem coloca mais dinheiro na mesa". Mais do que dinheiro, é sobre propósito, respeito e orientação.
O mundo digital está mudando muito. O que é importante agora pode ser completamente diferente daqui 6 meses. É preciso de alguém que te oriente, guie e informe sobre essas mudanças. Em 2016 as playlists editoriais eram o momento. Se você não estivesse nelas, era muito difícil da sua música chegar nas pessoas. Mas hoje em dia já é diferente. O algoritmo evoluiu bastante. Ele te conhece. Ele te indica músicas que acha que você vai gostar de escutar.
Então precisamos guiar o artista para constantemente se adaptar a essas mudanças e transformar suas estratégias. Não precisa mudar sua estratégia como um todo, mas ações pontuais para chegar na sua audiência. Isso é o tipo de coisa que o dinheiro não compra. Você precisa de um time com alto nível de dedicação.