Carlos Fávaro: O primeiro passo para reforçar a relevância do agronegócio brasileiro na economia global é potencializar sua presença em outros países

Protagonismo das agtechs e do ESG cresce com o combate ao desmatamento ilegal e o fortalecimento da sustentabilidade no setor agro.

agronegocio-m-a_ilustrarPesquisa da KPMG aponta que governo federal está disposto a acompanhar o ritmo e fortalecer o segmento no exterior, abrindo caminho para investidores internacionais. (Foto: Divulgação)

Após um ano de forte crescimento em fusões e aquisições, sendo um dos setores mais promissores neste tema, a perspectiva entre mercado e governo é que o agronegócio siga nesta classificação. Para impulsionar os resultados, que em 2022 alcançou 117 transações, representando mais que o dobro que o período anterior, segundo pesquisa da KPMG, o governo federal está disposto a acompanhar o ritmo e fortalecer o segmento no exterior, abrindo caminho para investidores internacionais.

Carlos Fávaro, ministro da Agricultura e Pecuária, destaca que o governo pretende mudar a imagem do país e implementar políticas de produção sustentável (Foto: Divulgação)

De acordo com o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, o primeiro passo para reforçar a relevância do agronegócio brasileiro na economia global é potencializar sua presença em outros países. “Vamos mudar a imagem do Brasil e implementar políticas de produção sustentável. Desmatamento ilegal, garimpo ilegal, extração de madeira ilegal, tudo isso afeta diretamente a produção agrícola em dois aspectos: acabando com nossas relações comerciais e com as chuvas, o clima, nosso maior ativo”.

O economista Fernando Kunzel, da empresa de investimentos L6 Capital Partners, aponta que o agro é um mercado historicamente fundamental para a economia do Brasil, o que por si só, já resulta em mais crédito para a área. Mas lembra que o cenário com foco em sustentabilidade pode direcionar esses investimentos para agtechs – empresas de base tecnológica que atendem diferentes pontos da cadeia produtiva do agro.

“Estamos vivendo uma busca considerável por inovações, especialmente com foco em sustentabilidade e soluções financeiras, o que leva mais crédito especificamente para agtechs”, conta.

O direcionamento citado pelo especialista é confirmado pelo estudo: O Radar Agtech, feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), SP Ventures e Homo Ludens, com apoio da plataforma Distrito e do Sebrae. Segundo o documento, as principais tendências de atuações das startups são: insumos biológicos, agfintechs, marketplace para o agronegócio e climatechs.

Mais tecnologia

Nesta efervescência do mercado de agro, a Agrotools destaque-se no desenvolvimento tecnológico. Com crescimento de 84% em 2022, as perspectivas para este ano são ambiciosas: realizar a aquisição de empresas complementares e expandir a sua rede de atuação para outros países da América Latina, Estados Unidos e Europa. Para acompanhar essa expansão, a empresa já elevou o seu número de funcionários em 63%, chegando a uma equipe com aproximadamente 230 colaboradores.

Atualmente, a Agrotools analisa mais de 4,5 milhões de territórios rurais e monitora R$ 15 bilhões em commodities. São aproximadamente R$ 50 bilhões em carteira de financiamento rural que contam com o suporte de soluções da empresa, compondo cerca de R$ 100 bilhões em operações do agronegócio monitoradas.

“Enxergamos o agro brasileiro com um potencial de crescimento gigantesco. Nossa expectativa é continuar contribuindo com o desenvolvimento do mercado”, afirma Sergio Rocha, CEO da Agrotools.

Outra empresa que aposta na aliança entre tecnologia e agronegócio é a Bunge, que firmou parceria com a agtech Vega Monitoramento para realizar o diagnóstico e monitoramento socioambiental de propriedades agrícolas por meio da plataforma LYRA, que utiliza sensoriamento remoto e inteligência artificial. Revendas e cooperativas podem acessar a ferramenta diretamente, de modo autônomo. Neste programa, é possível consultar documentos relativos às propriedades rastreadas, bem como os dados do monitoramento de satélite de forma inteiramente digital, sem a necessidade de execução de múltiplas consultas em diferentes fontes.

O sistema embarca alto nível de segurança, assegurando a integridade dos dados e garantindo que cada revenda ou cooperativa tenha acesso apenas aos dados das propriedades com as quais se relaciona.

“Investir em soluções digitais faz parte da estratégia da Bunge para ampliar a escala de suas iniciativas e impactar positivamente o agronegócio”, diz Braian Souto, executivo de global digital office da empresa.

ESG e Finanças

Marcelo Pimenta-fotoO head de Agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, fala sobre o cenário de crédito no país. (Foto: Divulgação)

Como forma de analisar o impacto do monitoramento de ações ESG dos produtores rurais e estabelecer possibilidades para as instituições financeiras tomarem decisões na hora de conceber o crédito, o Serasa Experian lançou um estudo feito a partir de uma amostra de 163.600 destes profissionais que contrataram ou tentaram contratar crédito no ano passado. 

"O Brasil do agro preserva e temos na indústria sucroalcolera um dos grandes exemplos da busca por energia limpa", Francisco Matturro, ex-secretário de Agricultura do Estado de São Paulo e Atual Presidente do Lide Agronegócios.

O resultado mostrou que 99% desses produtores estão em conformidade com as ações ESG e atendem à legislação. No entanto, o 1% restante apresenta infrações gravíssimas. “Apesar de os 99% estarem em conformidade socioambiental, existe aquele 1% com o Serasa Score ESG Agro que apresenta problemas potencialmente graves. Esse 1% concentra 100% de infrações gravíssimas (trabalho escravo e embargos), 35% de todas as infrações ambientais e 14,5% de todos os processos”, explica o head de Agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta.

De acordo com executivo, este cenário demonstra que se todas essas infrações fossem autuadas, as instituições financeiras e seguradoras poderiam ter um prejuízo de até R$ 90 bilhões. A possibilidade leva em conta que as empresas concedentes podem ser consideradas responsáveis solidárias, sem contar o risco de reputação e de imagem, que são imensuráveis.

Preservação

Sônia Guajajara2Sônia Guajajara. Ministra dos Povos Indígenas, durante entrevista na Rádio Nacional (Foto: Agência Brasil)

A realidade do desmatamento para alocar a pecuária bovina é um problema perene no Brasil. Dados do MapBiomas mostram que essa atividade de baixa produtividade ocupa 73% das áreas desmatadas da floresta- o que representa 63 milhões de hectares. Esse trágico cenário pode ser drasticamente alterado quando técnicas corretas e já existentes são usadas. Segundo pesquisa do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a escolha por métodos já existentes na região, como rotação de pastagens e integração lavoura-pecuária-floresta são capazes de triplicar a produtividade média da criação de gado sem desmatar.

“A ciência vem mostrando que a expansão da agricultura na Amazônia está acontecendo em áreas que, em termos de solo e clima, não são boas para a produtividade. Se continuarmos a substituir a floresta em pé, que confere resiliência e estabilidade climática, por pé de lavoura, o sistema biofísico terá um fim em si mesmo”, alerta Ludmilla Rattis, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Em processo de retomada, o Fundo Amazônia pretende financiar projetos de controle do desmatamento, combate ao garimpo ilegal, proteção a povos indí- genas e promoção do ordenamento territorial da região. O fundo já recebeu R$ 3,3 bilhões em doações, como R$ 1 bilhão proveniente da Noruega e R$ 200.

"É muito importante e necessário retomar o Fundo Amazônia para que a gente possa atender e tirar os povos indígenas dessa emergência", afirma Sônia Guajajara. Ministra dos Povos Indígenas.

Bioeconomia no Brasil pode gerar faturamento de US$ 284 bi anuais

A chamada total implementação da bioeconomia do Brasil, que abrange políticas para mitigação de emissões de gases de efeito estufa, consolidação da biomassa como principal matriz energética em setores importantes da economia e a intensificação de tecnologias biorrenováveis, traz impactos positivos não só ao meio ambiente como a economia – é o que mostra o estudo “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil”, feito em parceria com instituições como a Emprapa Agroenergia.A pesquisa prevê que essas atitudes contribuem para faturamento industrial anual de US$ 284 bilhões até 2050.

“O estudo quantifica a bioeconomia em cenários de transição energética e avalia como as tecnologias geradas pela chamada economia circular e de baixo carbono podem complementar a transição energética dentro das cadeias produtivas”, afirma Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia.

Outro resultado é sobre a emissão de carbono, que pode ser reduzida em cerca de 550 milhões de toneladas, especialmente em decorrência do crescimento de biocombustíveis, bioquímicos e outros produtos de origem biológica no Brasil. Entretanto, o estudo alerta que o potencial da bioeconomia depende da promoção coordenada de políticas públicas que considerem as particularidades e vantagens competitivas brasileiras no contexto de transição para uma economia de baixo carbono.

Coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio (MPAgro) da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Felippe Serigati estima que a produção agroindustrial tenha elevação de 2% este ano, apesar de o último levantamento apontar para uma evolução de 0,7% até agosto.

“A economia brasileira teve uma reação no segundo semestre com fatores estruturais, como o recuo na disseminação do vírus da Covid-19 e a abertura da economia, com as pessoas podendo circular com liberdade, o que aqueceu o setor de serviços, que realmente gera empregos no país”, analisa.

Agroindústria Brasileira Em 2023

Coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio (MPAgro) da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Felippe Serigati estima que a produção agroindustrial tenha elevação de 2% este ano, apesar de o último levantamento apontar para uma evolução de 0,7% até agosto.

“A economia brasileira teve uma reação no segundo semestre com fatores estruturais, como o recuo na disseminação do vírus da Covid-19 e a abertura da economia, com as pessoas podendo circular com liberdade, o que aqueceu o setor de serviços, que realmente gera empregos no país”, analisa.