Alexandre Silveira: Números mostram nosso esforço em aproveitar os níveis elevados dos reservatórios do país
Reaproximação do Brasil com países vizinhos gera otimismo e alavanca importantes projetos comuns de infraestrutura na região.
Conexões com Nova Ferroeste vão aumentar competitividade da produção paranaense (Foto: Divulgação)
No início de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto que oficializa o retorno do Brasil à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) após saída do bloco em 2019, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Decreto coloca o país de volta ao grupo que foi criado durante o segundo governo Lula, em maio 2008, juntamente com Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.
A formação completa, no entanto, durou até 2010, quando algumas nações se retiraram, principalmente por divergências políticas. Este ano marca a retomada não só do Brasil, e da Argentina, completando o bloco, que atualmente, conta como membros: Bolívia, Guiana, Suriname e Venezuela, além do Peru, que se encontra suspenso.
Com o retorno, retoma-se o objetivo de fomentar a integração entre os países sul-americanos, em um modelo que busca integrar as duas uniões aduaneiras do continente: o Mercosul (integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e associados) e a Comunidade Andina (formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru), tanto na esfera econômica, como social, cultural, científico-tecnológica e política.
Rumo ao pacífico
O alinhamento diplomático mais amistoso com os países vizinhos traz à tona antigos projetos e iniciativas que podem ampliar o comércio na região, como explica Wagner Moraes, economista e CEO da A&S Partners. “Há muito tempo se fala na construção de novas portas de saída para os produtos brasileiros por meio da conexão com o pacífico, muito já se discutiu, porém, dado a complexidade do projeto, não há nada concretizado. Uma das propostas, por exemplo, é de se criar o Corredor Bioceânico, que visa a construção de um corredor rodoviário de mais de 2 mil km e conectará os territórios de quatro países (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile)”.
Ainda segundo Moraes, o Brasil enfrenta problemas com logística, o que impede o país de expandir suas relações econômicas com nações latino-americanas. “Temos barreiras por conta da péssima qualidade das estradas e tempo de deslocamento até os principais portos para o escoamento da produção, visto que o principal modal para transporte ainda é o rodoviário, diferente das nações mais desenvolvidas que possuem alternativas integradas, que funcionam de forma eficiente, como o ferroviário por exemplo”, pontua.
O Porto de Paranaguá registrou no início de abril o maior volume de embarque diário de 2023. (Foto: Divulgação)
No entanto, as negociações para tornar o projeto de ligação entre Brasil e países latino-americanos pelo Oceano Pacífico são vistas com bons olhos pelo executivo, que enfatiza: “de forma geral, a fluidez decorrente da construção dessa nova infraestrutura de transportes proporcionará sensíveis ganhos econômicos, sociais e estratégicos para o país, fortalecendo o protagonismo no comércio na Latam. O principal desafio para o país está na busca da melhor estrutura de capital para financiar o projeto, parcerias consistentes e eficientes com os integrantes e vontade política para fazer acontecer”
Nos trilhos
O impasse da infraestrutura logística surge também quando o assunto é o crescimento do agronegócio brasileiro. Durante painel na maior feira metro ferroviária da América Latina, NT Expo-Negócios nos Trilhos, o coordenador do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes, enfatizou a necessidade de diversificar as matrizes logísticas no país e a importância do modal ferroviário nesse processo, em especial para o Porto de Paranaguá, onde a participação desta alternativa pode passar dos atuais 20% para até 60%.
Um dos projetos em andamento, que segue esta ideia, é a Nova Ferroeste, de responsabilidade do Governo do Paraná, que vai ampliar a atual estrada de ferro, que opera no trecho entre Cascavel e Guarapua- va, no Paraná, e terá malha estendida nas duas pontas, ligando Maracaju, no Mato Grosso do Sul, a Paranaguá, no Litoral do Paraná.
Existe a previsão de mais dois ramais a partir de Cascavel com o objetivo de conectar Chapecó, em Santa Catarina, e Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira. No total, a extensão será de 1.567 quilômetros, com influência nos três estados contidos no traçado, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e parte da Argentina e do Paraguai.
“A Nova Ferroeste vai viabilizar a transformação do Estado em uma grande central logística e conectar o segundo maior porto em movimentação e mais eficiente do Brasil com uma ferrovia, modal realmente competitivo que vai suportar o crescimento do Paraná, de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Paraguai e Argentina nas próximas décadas”, indicou Fagundes.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate, corrobora com o pensamento de Fagundes e enfatiza os benefícios a economia nacional. “Essa malha ferroviária é de extrema importância. Toda infraestrutura gera um aumento de Produto Interno Bruto local e nacional, além de gerar empregos”.
Plano de 100 dias
Renan Filho, ministro dos Transportes, destaca que a ponte ligando Brasil e Argentina, entre as cidades de Porto Xavier (BRA) e San Javier (ARG) deve beneficiar a integraçao comercial do continente. (Foto: Divulgação)
Parte do Plano de 100 Dias de ações prioritárias em rodovias e ferrovias, anunciadas pelo governo federal em janeiro, as obras da ponte ligando Brasil e Argentina, entre as cidades de Porto Xavier (BRA) e San Javier (ARG) estão mais próximas de virar realidade. A assinatura da ordem de serviço por meio do Ministério dos Transportes e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), garante a elaboração dos projetos da ponte Internacional e, na sequência, a construção do empreendimento.
Com 950 metros de extensão, a ponte que ligará o município gaúcho de 10 mil habitantes à cidade irmã argentina, passará sobre o Rio Uruguai e tem investimento previsto em R$ 220 milhões. Os serviços serão iniciados após a aprovação dos projetos e a obra inclui os acessos em ambas as margens do rio.
“Esta obra é fundamental para garantir a integração, aumentar o intercâmbio cultural e turístico e gerar empregos nos dois países”, disse o ministro dos Transportes, Renan Filho. Com esta nova ligação, a expectativa é viabilizar uma nova rota comercial do Mercosul, integrando e promovendo o transporte de cargas entre o Brasil e a Argentina, incluindo, ainda, o Paraguai.
Vendendo energia
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia (Foto: Divulgação)
As exportações de energia elétrica do Brasil para Argentina e Uruguai refletiram positivamente nos custos dos três primeiros meses, deste ano, dos brasileiros. O panorama é apontado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), a partir de dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O levantamento mostra que esta atividade comercial, além de garantir a modicidade tarifária, proporcionou a arrecadação de cerca de R$ 500 milhões em receitas no primeiro trimestre de 2023.
O montante considera a recuperação da receita fixa paga pela população às usinas termelétricas que exportam energia, a venda da energia hidrelétrica excedente e o pagamento, pelos envolvidos na exportação, para o uso do sistema de transmissão. Só neste último caso, a título de Encargos do Uso do Sistema de Transmissão (EUST), foram arrecadados cerca de R$ 150 milhões nos três primeiros meses. Esse recolhimento provocará uma atenuação no pagamento destes tipos de custos dentro do país.
Outros R$ 350 milhões foram arrecadados dentro do Mecanismo de realocação de Energia (MRE), dos quais, cerca de R$ 90 milhões serão destinados aos consumidores regulados brasileiros (que são atendidos pelas distribuidoras de energia elétrica). Para o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, os dados reforçam o compromisso do MME e do Governo Federal em trabalhar para oferecer cada vez menos custos ao consumidor.
“Esses números mostram o esforço do governo brasileiro em aproveitar os níveis elevados dos reservatórios do nosso país e os excedentes para exportar energia aos nossos países vizinhos. Uma atuação sempre focada no que podemos oferecer de melhor para a nossa população por meio de maior segurança energética e menores preços nas contas de energia. Dessa forma, conseguimos permitir um desenvolvimento econômico e social, principal prioridade deste ministério e do presidente Lula desde que assumimos este governo”, destacou o ministro.
Apesar do foco nos benefícios internos, países vizinhos também ganham com o aumento da segurança energética e redução de custos, como pontuado pelo Secretário de Energia Elétrica do MME, Gentil Nogueira. “A exportação de energia elétrica é um processo em que todos os envolvidos são beneficiados, sejam os consumidores, os geradores, os comercializadores e as partes importadoras. Continuaremos trabalhando permanentemente em prol da integração energética do Brasil com os países vizinhos”. <
Crescimento em conjunto
Durante cerimônia de posse de Enio Verri na presidência brasileira da hidrelétrica Itaipu Binacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os países da América do Sul vão alcançar o desenvolvimento com trabalho conjunto e solidário, enfatizando sua indignação sobre as desigualdades entre nações “não é possível imaginar um país rico cercado de países pobres por todos os lados”.“O Brasil, como irmão maior dos países da América do Sul, tem que ter a responsabilidade de fazer
com que os outros países cresçam junto conosco, para que a gente possa viver em um continente de paz e tranquilidade; e para que nunca mais repita o gesto ignorante de uma guerra entre homens e mulheres e entre nações, como a que ocorreu entre Brasil e Paraguai. O Brasil – por seu tamanho, população e por ser o país mais desenvolvido do ponto de vista industrial, científico e tecnológico – tem de ter a grandeza de ser humilde e a grandeza de compartilhar tudo aquilo que pode acontecer de bom para o povo brasileiro, com os povos dos países vizinhos”, disse o presidente.
Hidrogênio Verde
Lula acrescentou que o potencial da usina pode favorecer a produção de uma fonte energética limpa que tem despertado cada vez mais o interesse estrangeiro: o hidrogênio verde. “Itaipu é uma coisa fantástica: você tem um lago enorme e você tem uns canos brancos que produzem dólares. Sim, ali, na verdade, se produz dinheiro. Quando vejo Itaipu vertendo água, fico imaginando na quantidade de dólares. Quem sabe em um futuro muito próximo a gente produzirá Hidrogênio Verde a partir dessa água de Itaipu,
ganhando dinheiro das duas pontas”, avaliou.O presidente complementou sua fala destacando a importância, para a economia do Paraguai, de encerrar o pagamento das parcelas de financiamento da construção da usina binacional, e assegurou a boa vontade brasileira para as próximas negociações envolvendo o empreendimento. “Tenho certeza de que faremos um tratado que leve muito em conta a realidade dos dois países e o respeito que o Brasil tem que ter por seu aliado, o nosso querido Paraguai”, disse.