Adriana Waltrick: 'Nossa ambição é implementar energia verde de baixo carbono e de alta qualidade de forma competitiva e acessível'
Marco legal do hidrogênio verde é avanço para o país e pode contribuir para atrair novos investidores com foco na descarbonização da economia
Adriana Waltrick, CEO da SPIC Brasil. (Foto: Divulgação)
Segundo estudo da consultoria Mckinsey, o Brasil poderá ter uma nova matriz elétrica inteira até 2040 destinada à produção do H2V. Isso significa um total de mais de R$ 1 trilhão em novos investimentos no período, destinado à geração de eletricidade, novas linhas de transmissão e mais unidades fabris do combustível e de estruturas associadas, incluindo terminais portuários, dutos e armazenagem.
A aprovação no final de novembro pela Câmara dos Deputados do Projeto de Lei (PL) 2.308/2023, que institui o marco legal do hidrogênio verde (H2V) e sua política nacional, é um avanço para o país e pode representar um importante passo para a transição energética e a descarbonização da economia. A matéria segue agora para apreciação do Senado Federal.
Novo ciclo
Para a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), com o hidrogênio verde brasileiro, o país pode vivenciar um ciclo nunca visto de ampliação do setor produtivo, de atração de grandes investimentos e de geração de empregos verdes, bem como incremento de alta tecnologia para a promoção do desenvolvimento sustentável, social e econômico que tragam a transição energética tanto no âmbito nacional quanto em nível global. Assim, o Brasil pode se tornar o maior produtor e exportador do hidrogênio verde do planeta, justamente por conta da alta competividade das fontes solar e eólica, já que 70% do custo de produção do combustível é de gastos com energia elétrica.
Com nove parques de energia eólica e solar espalhados pelo território brasileiro, a chinesa CGN Brazil Energy tem direcionado seus esforços para este novo tipo de energia limpa. Em um importante passo em direção a um futuro mais sustentável, a companhia ao lado da Sul Americana de Metais (SAM) e da Lotus Brasil firmaram um acordo para o desenvolvimento conjunto de um projeto ambicioso: a produção de hidrogênio verde a partir do efluente tratado do mineroduto, uma extensão de aproximadamente 481 km que atravessa 21 municípios, incluindo nove em Minas Gerais e doze na Bahia.
Uma peça-chave neste empreendimento é a instalação estratégica de uma estação de desaguamento em Ilhéus, na Bahia, contribuindo para o desenvolvimento econômico local. Este ponto focal não só otimiza nossa operação, mas representa um investimento crucial na produção de hidrogênio verde, marcando passos significativos rumo a uma matriz energética mais limpa e sustentável. O projeto destaca-se por sua visão inovadora ao transformar o efluente do mineroduto em hidrogênio verde.
Garantia de sucesso
O Complexo Eólico Tanque Novo, inaugurado em 2023 pela CGN, está localizado nos municípios de Tanque Novo e Caetité, na região sul da Bahia, e abrange uma área de aproximadamente 30 quilômetros de extensão. O empreendimento contou com um investimento de R$ 1.15 bilhão e pretende ampliar a oferta de energia renovável no Brasil.
Um dos principais diferenciais do Complexo Tanque Novo é o uso de aerogeradores com as maiores pás usadas no Brasil, ampliando a capacidade de geração de energia limpa. A CGN Brazil em conjunto com o Porto de Enseada elaborou um projeto pioneiro de logística para a entrega das pás importadas da China na região sul da Bahia, promovendo um intercâmbio tecnológico inédito entre os países que será fundamental no estreitamento da relação entre Brasil e China.
A Bahia tem potencial para produzir mais de 60 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano, segundo dados do SENAI CIMATEC. O CEO da CGN Brasil, Yao Zhigang, garante que a empresa está comprometida em investir na evolução da economia brasileira com a produção de energia limpa e renovável por meio da troca de conhecimentos de tecnologia e capacitação do capital humano. “A maior parte da energia solar e eólica produzida pela CGN vem da Bahia e essa proposta reforça o nosso comprometimento e participação na economia do estado”, garante André Martini, diretor de Desenvolvimento de Negócios da CGN Brasil.
Expansão
A subsidiária local da chinesa State Power Investment Corporation (Spic), fechou parcerias importantes na China. Os Memorandos de Entendimento (MoU na sigla em inglês) foram assinados após amplas negociações com empresas e frentes do governo brasileiro envolvidos em projetos onde a SPIC já possui atuação, como energia solar, eólica e hidrogênio verde.
Entre os acordos assinados, um deles foi firmado entre o governo do Ceará e a SPIC Brasil. O Porto Pecém, na região metropolitana de Fortaleza, é o ponto focal desse acordo para estudos de viabilidade técnica em sistemas de geração de energia renovável, produção e armazenamento de hidrogênio verde.
Outro memorando semelhante também foi assinado na China. O acordo prevê projetos de geração de energia onshore e offshore no Porto do Açu, localizado na região norte do Rio de Janeiro, incluindo ainda a geração de energia solar, parques eólicos offshore e a produção de hidrogênio verde e azul. Nesta parceria, a SPIC amplia as frentes de atuação em projetos de hidrogênio verde. Possibilita, ainda, a redução de emissões de carbono a partir do pilar de inovação, num modelo integrado e que orienta a transição energética do Grupo.
“A partir da nossa matriz, mantemos cooperação com mais de 100 grandes empresas do setor de energia. Isso é muito importante para as nossas iniciativas de smart energy no Brasil. Estamos em contato com o que há de mais avançado, enquanto firmamos parcerias estratégicas. Nossa ambição é implementar energia verde de baixo carbono e de alta qualidade de forma competitiva e acessível. Para isso, investimos continuamente em inovação, pesquisa e desenvolvimento e parcerias globais e locais”, ressalta Adriana Waltrick, CEO da SPIC Brasil.
Petróleo
Em outro sentido, a Petrobras assinou recentemente quatro memorandos de entendimento (MOUs) com a China Energy, SINOPEC, CNOOC e Citic Construction, principais grupos de petróleo e energia da China. Formalizados com os CEOs de cada grupo, os acordos são direcionados à prospecção de novas oportunidades de negócios conjuntos nos segmentos de exploração e produção, transição energética, refino, petroquímica, energia renovável, hidrogênio, fertilizantes, amônia e captura de carbono.
“Estamos reforçando os laços comerciais e estratégicos com os principais grupos empresariais da China. Queremos fortalecer nossos negócios e diversificar as operações, através das novas alianças firmadas com a China Energy, SINOPEC, CNOOC e Citic Construction. Vamos expandir nossos negócios no Brasil e no exterior e apostamos no sucesso futuro dessas alianças que firmamos aqui, na China”, afirma Jean Paul Prates.